Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Difícil recomeço

AFEGANISTÃO

Cerca de dez meses após a queda do Talibã, a televisão afegã, antes banida, engatinha na tentativa de se recuperar. Na TV Candahar, vontade de voltar aos “dias de glória” dos anos 80 é o que não falta. O que falta é dinheiro. Não há financiadores para recuperar seu edifício crivado de balas ou equipar o estúdio que está sendo montado em um velho prédio. Mesmo assim, o canal dá lição de democracia para a TV Cabul. Na emissora da capital, ao contrário da TV Candahar, mulheres não podem aparecer cantando ou dançando. “Queremos democracia e na democracia homens e mulheres têm direitos iguais”, define Abdul Ali, diretor da TV e Rádio Candahar, que foi lançada em 1983 para difundir as vantagens do regime comunista que a União Soviética impunha.

Em 2001, quando perceberam que iam perder o controle da cidade, os talibãs fizeram uma última visita à estação e queimaram 2.500 fitas do arquivo. “Sabiam que estavam de saída, vieram aqui e botaram fogo em 20 anos de gravações”, lamenta o engenheiro técnico Kamaluddin Ulfat. Os funcionários conseguiram esconder 200 fitas dos incendiários, mas pouco disso é aproveitável. Há séries com capítulos fundamentais faltando ou pedaços de filmes. Completos, a TV Candahar só tem quatro filmes indianos, que são exibidos uma vez por mês cada. Com a reativação em 1/5, surgiu outro problema: o velho equipamento soviético, que utiliza sistema de cor SECAM, não é compatível com a aparelhagem, nova que funciona com o sistema europeu PAL. Isso fez com que a transmissão ficasse sem cor.

A emissora não tem repórteres, mas mesmo assim cumpre função social, com programas sobre saúde, educação e técnica agrícolas. Na mesa do apresentador, preso com fita adesiva, há cartaz escrito à mão com lista de farmácias de plantão. Simon Denyer, da Reuters [11/8/02], reporta que o governo central afegão não ajuda em nada a TV Candahar. Quando foram pedidas fitas de programas, chegaram discursos do líder mujahedin tadjique Ahmed Shah Masood. A população pashtun de Candahar, obviamente, não quer ver isso.