Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dois passos para imprensa

RORIZ vs. CORREIO BRAZILIENSE

Fernando Paulino (*)

Na última semana, a campanha política em Brasília saiu do marasmo para a veemência com que a coligação majoritária nas pesquisa de opinião passou a atacar o Correio Braziliense por ter denunciado o atrelamento de políticos locais à grilagem de terras do Distrito Federal. A reação tomou a forma da velha tática que tanto tem caracterizado a vida política brasileira: procurou-se desqualificar a crítica atingindo o crítico. Só que neste caso, embora as intimidações estejam mais direcionadas à pessoa do diretor de redação, Ricardo Noblat, não há como não se atingir uma instituição chamada imprensa, à medida que o jornal também foi alvo das depreciações. Daí, tantas manifestações lembrando a importância de uma imprensa livre no processo de construção do ideal de democracia contemporânea pressupõe o debate.

Autores como o professor americano Eugene Goodwin relacionam, há tempos, dois passos para classificar as atividades dos veículos de comunicação: a teoria libertária, fundamentada pelo conflito entre a imprensa que deve sempre colocar o governo em xeque, e a teoria da responsabilidade social da imprensa, incentivada pelo cenário pós-Segunda Guerra Mundial, que formulava a necessidade de uma postura reflexiva a partir do espaço privilegiado dos jornais e jornalistas.

Respostas da sociedade

Tem-se tornado evidente a necessidade da criação de meios e formas de aperfeiçoar a imprensa como instituição pública, a partir da participa&ccccedil;ão do público no processo de na discussão dos critérios de noticiabilidade e na elaboração das notícias. A participação do público fortalece, portanto, a esfera pública e fornece os chamados Meios de Assegurar a Responsabilidade Social (MARS) e adiciona força moral. Quando atacado um veículo não estará sozinho, isolado, mas dotado de um vínculo social. E o Correio Braziliense tem sido um jornal que tem desenvolvido por conta própria mecanismos de participação dos seus leitores, entre eles, os conselhos de leitores.

É necessário transformar a ignorância com relação ao papel da imprensa em respostas da sociedade. Bons modos para a imprensa é a crítica, e não a subserviência ao poder. Afinal de contas, qual o envolvimento do governo no processo irregular de terras na capital? Qual a postura e as medidas que serão tomadas? A opinião pública precisa ser esclarecida e as denúncias e respostas não podem ficar no plano pessoal. Nesse ponto, espera-se de um governador (candidato à reeleição) que não ataque um jornal, e sim, defenda-se das acusações.

(*) Jornalista, mestrando em Comunicação pela Universidade de Brasília, onde integra a equipe do projeto SOS-Imprensa. É diretor do Sindicato dos Jornalistas do DF