Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Dossiê chantagem

Edição de Marinilda Carvalho

Amigos, 1998 termina ainda mais hard do que se poderia imaginar. Mísseis no céu de Bagdá, imunidade para a tortura na monárquica legislação britânica, chacina brutal em Alagoas, menino de rua executado friamente na Zona Sul do Rio – a lista de más notícias não tem fim.

Mas o ano, sim – ufa!

Em nossa última edição de 98, as cartas dos leitores estão espalhadas por várias rubricas, além deste Caderno – AI-5, Provão de Jornalismo, Observatório Literário -, prosseguindo na idéia de reunir no mesmo lugar tudo que se refere a um assunto. Esperamos que gostem.

O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA estará de volta no dia 20 de janeiro.

Que 1999 seja melhor. Boas Festas a todos!

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Não sou nada afeito a comentar os comentaristas da imprensa, que usualmente leio com interesse e respeito. Penso que os comentaristas são importantes como acessórios do jornalismo, principalmente quando conseguem adicionar alguma informação ao noticiário. Há, no entanto, uma certa inclinação nos artigos mais recentes do jornalista Alberto Dines, publicados na FSP e no OBSERVATÓRIO, que merecem algumas considerações.

É curiosa a posição segundo a qual antecipa o articulista que quatro homens públicos dignos (?) foram fritados pela ação do gangsterismo residual da ditadura. Bem, seria de se esperar que as operações desta gangue desestabilizadora fossem objeto de tratamento mais profissional do colunista que as denuncia. Colunista também é, prima facie, jornalista. Não soube, até agora, de nada que tenha ultrapassado a linha da indignação pessoal e de insinuações de quem pretende dar a entender que sabe o que nós leitores não sabemos e jamais saberemos. E por que não saberemos? Porque não se publica nada sobre esta organização sombria ou sobre seus métodos.

Sobre a apregoada dignidade dos quatro homens públicos “torquemados” pela mídia- marionete (há infiltrados e coisa e tal), lanço um pequeno fiat de controvérsia, ad argumentandum: subsidiar o que se chama de privatização com dinheiro estatal é questionável, do ponto de vista da moralidade política. Disse moralidade política, porque é o termo apropriado quando se trata de ação de governo em venda de patrimônio estatal, público etc. Organizar consórcios de modo a consagrar preferências de leilão é moralmente condenável. Coordenar o vazamento de informações para grupos econômicos, a pretexto de perseguir o melhor preço é, na melhor das hipóteses, ilícito segundo padrões internacionais de Direito Administrativo, muitos deles capitulados na legislação brasileira superior e ordinária. Decisões que fundem os padrões de conduta do sistema bancário privado com os cânones do sistema público de controle financeiro e investimento é exercer a teratologia de um Estado oligopolista. E ainda conviver com empresas familiares operadoras de ativos que estão sendo transferidos para o capital privado é puro crime.

Garanto que o colunista concorda em mérito com pelo menos algumas das minhas observações. Bem, poder-se-á dizer que, neste caso, o que importa é a ilicitude do “bug”, e o vício de origem na fritagem dos (sic) quatro homens públicos. Pode ser. Aliás, é o que nossos governantes progressistas nos repetem pela mesma mídia pouco instrumentalizada para o jornalismo sério, como não cansa de repetir o articulista em sua solitária cruzada pelo aperfeiçoamento institucional da imprensa.

Não penso que nossos governantes tenham razão. Discutir quem grampeou é discutir pontos policiais secundários. Discutir o que fizeram os quatro homens públicos fritados, como fizeram, e as razões do que fizeram, é discutir questões institucionais centrais. O que são consórcios borocoxôs e o que é uma telegangue? Como se usa um fundo de pensão de uma estatal (aliás, da maior estatal brasileira?). Como é direcionada a política do sistema estatal-financeiro brasileiro no subsídio às privatizações? Como se cria uma ONG para fazer publicidade das privatizações para o governo, em época eleitoral? Como os dois talentosos rebentos do ministro-leiloeiro (um dos fritados) operam com as ações da Telebrás?

Bem, a mim interessam mais estes pontos da história do que quem colocou o bug no BNDES. Não que o bug seja desinteressante. Diga-se, a propósito, que ao jornalismo cabe não apenas acompanhar as investigações da PF, mas fazer as suas próprias, porque jornal se compra (e no Brasil jornal é caro) para saber o que os jornalistas descobriram, entre outras coisas. O bug é um artifício condenável, invasivo, perverso. Mas não é o que de mais condenável, invasivo e perverso há nesta história toda. O colunista, respeitável pela biografia profissional e pelo talento, poderia contribuir para desvendar os mistérios dos nossos leilões estatais. Sobram-lhe condições para tal. Nossas leituras seriam, indiscutivelmente, mais profícuas. Saudações,

Luís Milman, Porto Alegre

Alberto Dines responde: Meu caro, separe o que escrevo na Folha do que escrevo no O.I. O fulcro conceitual é o mesmo, minhas posições são claras. Mas os objetos são totalmente diferentes. Acho que você junta tudo e, a meu ver, faz uma espécie de “edição” que não é correta nem, perdoe, honesta. Já meu diapasão em matéria de indignação é o mesmo do resto dos colunistas da Folha, que todos os dias, em todos os cadernos, desenvolvem o que lá se chama de “jornalismo crítico”. Procuro apenas dirigir o foco das observações para outras direções. Que lá ninguém ousa fazer. Curiosamente, você aprecia aquele coro de indignações mais do que o meu pobre solilóquio. É uma questão de gosto. Que eu respeito, porque você escreve bem embora, pelo visto, prefira quem escreve mal. Venha sempre ao OBSERVATÓRIO. Sua contribuição é valiosa. Saudações, A. D.

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Decepcionado com a postura do OBSERVATÓRIO frente ao grampo. Todos são inocentes até prova em contrário, mas ninguém é inocente – nem culpado – por presunção. Criticaria os jornais pelo superficialismo e falta de investigação na cobertura, não pela divulgação.

No caso do Magri ninguém reclamou da ilegalidade das gravações. Nem agora no caso corrente da Câmara do RJ. São inúmeros casos, mas só neste há objeções de ordem ético-jurídica. Somos governados por santos?

Ernani Porto

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1) Concordo com vocês sobre a ilegalidade das escutas, porém pergunto: é legal um ministro tentar manipular um leilão de privatização a favor de um determinado grupo? Podemos supor que nos outros leilões também houve tais tentativas e que talvez um grupo ou outro tenha sido realmente privilegiado; é legitimo um governador (RJ) em final de mandato tentar leiloar uma empresa estatal sabendo que o novo governador eleito sempre se manifestou contra? é legítimo um governador de estado (RS) tentar conceder isenções fiscais a determinadas empresas sabendo que o novo governador eleito sempre se manifestou contra?

No caso da Cedae, o JB publicou, antes dos novos fatos, editorial a favor da privatização, mesmo o atual governador estando em final de mandato e o novo governador sendo contra. Qual e a opinião do JB após a divulgação das fitas da Cedae?

2) Se existe uma pessoa neste pais que não pode reclamar da imprensa é o Sr. FHC, pois desde que tomou posse todos os grandes grupos de comunicação aderiram ao seu governo, apesar das besteiras e de estar afundado o país. Por que a imprensa não questiona sobre aonde foi parar o dinheiro das privatizações? Por que a imprensa não questiona o aumento da dívida interna e da dívida externa? Por que a imprensa não questiona as privatizações mal feitas? O caso Sivam foi esquecido, e a compra de votos foi esquecida… Será que só o Verissimo, o Elio Gaspari e poucos outros têm coragem de criticar o Sr. FHC, ou será que imprensa tem medo de perder as benesses oficiais?

José

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Prezado Sr. Alberto Dines, meus parabéns pela lucidez de seu texto. A ética nos nossos meios de comunicação anda muito flexível. É realmente necessária uma discussão mais profunda com a sociedade. E o seu texto traz mais luz sobre o assunto.

Marcelo M. Garcia

Em 16 de dezembro de 1968, 3 dias após a decretação do AI-5, os 794 concludentes da Universidade Federal do Ceará tiveram a solenidade de colação de grau, programada para a concha acústica da Reitoria, proibida.

Em 16 de dezembro de 1998, 30 anos depois, a solenidade foi realizada no mesmo local com a presença dos que puderam comparecer, contando, inclusive, com a vinda de “concludentes” que hoje residem em outros estados.

A belíssima solenidade realizada pela Reitoria da UFC, com toda a pompae circunstância que a ocasião requeria além de revestida de toda a emoção de tantos quantos viveram aqueles anos terríveis, foi organizada pelo Pró-Reitor Renê Barreira no bojo de uma semana de debates, exposições e filmes.

Três questões dignas de registro:

Entre os “concludentes” que tiveram cassadas a alegria e a emoção de uma solenidade de colação de grau, o atual Reitor da UFC, Roberto Cláudio Frota Bezerra; o orador oficial escolhido à época pelos estudantes, o cirurgião-dentista José Galba Gomes, leu o mesmo discurso que havia elaborado e que permaneceu guardado com ele por trinta anos; e a solenidade de colação de grau simbólica foi presidida pelo reitor da época, Professor Antônio Martins Filho, que do alto dos seus 95 anos de idade e fazendo questão de falar de pé, proferiu um lindo discurso de

improviso que foi iniciado com uma saudação ” à Assembléia Geral Universitária Extraordinária aqui reunida” e concluído com a seguinte frase: “Por fim, agradeço a Deus por me permitir continuar na festa da vida, lúcido e útil” ( o Professor Martins Filho é, atualmente Reitor-Agregado da UFC tendo, inclusive, recentemente, acrescentado à sua extensa obra literária mais alguns livros).

O registro jornalístico do evento encontra-se na edição do dia 17 do corrente mês no jornal O Povo (www.opovo.com.br).

Esse acontecimento me levou de volta ao livro do Zuenir Ventura, “1968, o ano que nunca acabou”. São eventos dessa natureza que contribuem, não para que o ano de 1968 acabe, porque, para muitos jamais acabará, mas para que, pelo menos, alguns dos seus traumas sejam reparados.

José Alberto de Almeida

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Faço um pedido. Constatando a importância da veiculação de informações confiáveis a respeito das arbitrariedades perpetradas no período da ditadura militar, e também a falta de conhecimento a esse respeito por parte, principalmente, dos mais jovens, peço reprise dos programas sobre o AI-5 (de preferência mais cedo que o usual, ou num fim de semana). Praticamente nasci com o golpe militar. Tinha apenas 4 anos quando o Ato Institucional n. 5 foi decretado, e senti muita falta de informações e esclarecimentos durante minha adolescência. Uma vez que ainda estávamos sob o regime militar, tomávamos conhecimento (muito vagamente) do que estava ocorrendo através da imprensa chamada alternativa. Daquilo que havia acontecido anos antes, só muito tempo depois viemos a saber.

Hoje tenho duas filhas (12 e 8 anos), e não quero que a ignorância as leve a correr o risco de que aconteçam fatos semelhantes no futuro. Uma vez que os livros didáticos apresentam assuntos tão relevantes de forma fria, distanciada e, muitas vezes, inadequada, e que os professores brasileiros são, em sua maioria, muito mal preparados, é de suma importância que se apresentem aos jovens, adolescentes e até às crianças depoimentos e imagens que mostrem de forma viva e realista os horrores da ditadura ou quaisquer arbitrariedades cometidas, para que os erros do passado sirvam de lição para o presente, a fim de que o futuro de nossas crianças possa ser melhor.

Monica Goulart Vieira

O presidente da Associação Nacional das Empresas de Pesquisa (Anep), Nelsom Marangoni, enviou a Alberto Dines a seguinte carta, com data de 9/12/98:

“A discussão sobre o papel das pesquisas eleitorais esteve em evidência e de forma intensa nas últimas eleições recém terminadas. Em todos os foros interessados, o assunto foi discutido de forma candente, muitas vezes apaixonada e nem sempre bem informada.

A Anep acompanhou atentamente o trabalho de seus filiados e a divulgação realizada pela mídia e a consequente utilização dada por muitos dos usuários à pesquisa eleitoral. Infelizmente assistimos a uma série de erros técnicos na divulgação, usos e interpretações equivocadas dos resultados, comentários absurdos, enfim, uma série de confusões e ilações inadequadas e algumas vezes maldosas em relação à atividade de pesquisa em geral.

Passado algum tempo e tendo em vista as considerações pertinentes de seus membros, a diretoria da Anep decidiu dar início a quatro projetos para orientar a divulgação e usos da pesquisa política e atenuar significativamente problemas que pudessem vir a prejudicar a atividade no futuro.

Na nossa avaliação, os principais problemas percebidos foram decorrentes da falta de informação técnica de muitos dos usuários, de interesses ideológicos e partidários, e da falta de um consenso sobre regras e condições de publicações de pesquisas.

A Anep e seus filiados subscrevem o código de ética e normas de divulgação ESOMAR/ICC que regula a atividade de pesquisa em todo o mundo e que, em princípio, deveriam ser seguidos por todos os que se relacionam com a pesquisa de opinião de mercado, não apenas em sua realização, mas também na divulgação e uso de pesquisa, o que, infelizmente não ocorre, até por desconhecimento desses documentos.

Seja por falta de conhecimento técnico, seja por flagrante parcialidade, a divulgação imprecisa, equivocada ou a má interpretação de resultados de pesquisa eleitoral revelam um descompasso entre a comunidade de pesquisa e seus usuários, com graves conseqüências para a imagem de toda a atividade.

Cumpre lembrar que a pesquisa eleitoral representa menos de 10% do mercado de pesquisa. Os restantes 90% são relativos a um grande número de projetos que subsidiam as empresas no desenvolvimento de produtos e estratégias de marketing e comunicação de suas marcas e produtos, sempre utilizando os mesmos padrões de qualidade técnica e as mesmas normas de conduta estipuladas no código de ética.

Como principais interessados na atividade, consideramos que cabe à Anep uma ação orientadora no sentido de estabelecer regras claras, critérios técnicos de avaliação e um canal permanente de comunicação com a mídia, políticos e os diversos segmentos da sociedade. Quatro projetos foram delineados para dar início imediato a essa ação:

  1. Criação de um conselho capacitado a realizar auditorias de qualidade das pesquisas eleitorais publicadas, a verificar se as normas de divulgação estão sendo obedecidas e construir-se num canal de comunicação institucional com todo o mercado.
  2. Elaboração de normas relativas a divulgação de resultados de pesquisas de opinião (prazos, conteúdos, etc.) aproveitando as existentes internacionalmente e considerando as especificidades da cultura e política brasileiras.
  3. Elaboração de um conjunto de sugestões ao Legislativo para um projeto de lei que regulamente de forma mais completa, permanente e adequada a publicação de pesquisas em períodos de campanha eleitoral.
  4. Definição de critérios técnicos para a avaliação de desempenho dos institutos e de acuidade dos resultados das pesquisas eleitorais publicadas, permitindo uma equalização das análises através de um instrumento único e consistente.

Quatro grupos de trabalho foram formados para a elaboração de propostas destes projetos. Eles serão divulgados e discutidos com os diversos segmentos de sociedade assim que forem sendo finalizados no próximo ano.

Gostaríamos de esclarecer que este documento está sendo enviado para a mídia e políticos e nos colocar a disposição para discutirmos e esclarecermos estes pontos ou qualquer outro que julgar importante.”

 

Li a matéria assinada pelo senhor Guilherme Canela sobre o nosso grande radialista Moacyr Ramos Calhelha, o Ramos Calhelha, na edição de 15/11 deste OBSERVATÓRIO, e confesso que fiquei surpreso ao saber que ele ainda está vivo. Aproveitando o espaço gostaria de fazer um pequeno reparo, que suponho seja oportuno, e que não foi mencionado pelo articulista.

Conheci Ramos Calhelha no início dos anos 70, no Rio, quando ele voltava dos Estados Unidos e eu fui entrevistá-lo para a então revista Fatos&Fotos.

Embora sejam os comentários corretos sobre ele como jornalista, tradutor, radialista e engenheiro químico, foi como locutor que Ramos Calhelha se notabilizou durante a sua permanência de meio século nos Estados Unidos. Ramos Calhelha forma, ao lado de Aloisio de Oliveira, Gaspar Coelho e Crispim (não me recordo o sobrenome), apenas para citar os maiores, a elite de locutores que imigrou para a terra de Tio Sam e lá fez sucesso. E, entre todos eles, eu pessoalmente o considero o de voz mais notável, eu diria mesmo de “padrão internacional”. Através de sua locução ficaram famosos os personagens de Walt Disney, a crônica de Ralstrom e os infindáveis noticiários e sobretudo documentários narrados por ele . Embora existam grandes locutores no país, Ramos Calhelha fez escola e legou ao Brasil uma plêiade de seguidores, mas, infelizmente, ninguém que tenha chegado a sua altura.

Marcelo Correia Lima, jornalista (carta enviada por fax)

Achei muito pertinente o artigo de José Antonio Palhano criticando a opinião de Octavio Frias Filho. Mas, sobre o episódio em questão, a prisão e o julgamento do ditador chileno Augusto Pinochet, considero importante ressaltar outro detalhe. Adianto que não sou nada favorável a ditaduras e poderes centralizados e carrascos nas nações. Mas, o mundo só quis considerar o caudilho chileno na sua doença e velhice. Enquanto o regime estava em plena forma no Chile, podiam existir algumas críticas e restrições internacionais leves. Mas, os ditadores sempre circularam livremente pelo mundo em rodadas de negociação (ou será de negociatas?) como líderes dos países que sangraram.

O mesmo aconteceu no Brasil. Onde, para piorar, houve uma tal de Lei da Anistia. Com ela, um torturado pode ir à padaria e, quem sabe, comprar um croissant gentilmente alcançado pelo seu carrasco, caso ele tenha mudado de ramo.

Lúcio Ribeiro, Chapecó, SC

Gostaria de sugerir um programa ou uma discussão a respeito da nova rede de jornalismo ambiental, agora funcionando a pleno vapor. As primeiras discussões sobre a necessidade de se criar uma rede dessas tiveram inicio em 1989, nos corredores de um simpósio organizado pela Fenaj. Ensaiamos organizá-la de diversos modos, desistimos, voltamos a insistir e agora, graças ao pique de nossos amigos gaúchos, conseguimos colocá-la no ar, via Internet <http://www.agestado.com.br/virtual.

É uma rede informal, cujo objetivo é discutir a qualidade da cobertura ambiental e trocar pautas, eventualmente sugerindo – uns aos outros – transformar pautas regionais em nacionais. Também trocamos dicas e fontes. Já temos participantes de Portugal e até de Goa (Índia), alem da conexão com listas de discussão de jornalismo ambiental do Terceiro Mundo.

O contato com o moderador da rede, Roberto Villar, da Rádio Gaúcha, pode ser feito através do e-mail <rvillar@voyager.com.br.

Liana John, Agência Estado

Caro Sr. Dines, venho pedir esclarecimento diante de algo que me decepcionou tremendamente. Foi quando no último OBSERVATÓRIO descobri que um dos participantes do programa é funcionário de Roberto Marinho. Justamente o que sempre fala mal das concorrentes da Rede Globo. Um programa que diz não querer julgar a TV, e sim analisar o que nela é exibido… Eu me julgava parte do programa, e até falava a todos como esse programa era muito informativo.

Mas sempre achei estranho, falava-se mal só do SBT e da Record. O Arquivo Record é mais importante do que qualquer programa hoje exibido na TV. Quando descobri que o Sr. Augusto Nunes é funcionário das Organizações Globo, matei a charada. Inclusive, nesse mesmo programa houve um comentário sobre uma reportagem do Fantástico do dia 22/11/98. Nos outros programas, a culpa é da TV que o exibe. No Fantástico, o Sr. Nunes diz ser culpa da sociedade. O que para mim era desconfiança, depois dessa reportagem passou a ser verdade.

Sinto muito, não assisto ao OBSERVATÓRIO com a mesma credibilidade de antes. Acreditava tanto nesse programa que chamava ele de “meu”. Ainda existem tolos como eu?! Sr. Dines continuo respeitando a muito a sua pessoa, mas como pode um programa ser imparcial tendo um funcionário que é pago pelo dono da Rede Globo? Por que somente uma TV tem representante? Por que ele só crítica as que competem com a Rede Globo? Para ser imparcial não seria necessário que houvesse um representante de cada TV? Gosto demais do seu programa, não gostaria de deixar de acreditar nele.

Não sou contra a Rede Globo, muito pelo contrário, a TV a que mais assisto é a própria. Só não posso admitir um programa que se diz imparcial e não é. Se fosse um outro programa, apenas mudaria de canal. Mas como admiro muito o senhor e me identifico demais com o OBSERVATÓRIO, resolvi recorrer a esta tribuna. Meus respeitos.

Flávio Salles, Rio de Janeiro

Alberto Dines responde: “Não há nenhum funcionário da Rede Globo na equipe do programa OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA. Augusto Nunes trabalha na revista Época, mas não é funcionário nosso: é um dos observadores convidados que aparecem na janela paulista. Fala no máximo três ou quatro minutos. Não tem participação alguma na concepção e orientação das edições. Dora Kramer (JB) apareceu inúmeras vezes em Brasília e, agora, porque mudamos o horário, não tem comparecido. Foi substituída duas vezes pelo Ricardo Amaral, ex-Estadão. Eu escrevo em dois jornais concorrentes de O Globo, sendo que um deles é inimigo figadal de tudo o que se refere à Globo. A sua insinuação de que estou a serviço da Globo é ofensiva. Criei há tempos a expressão “imprensa marrom”. Mas neste momento estou criando outra – “o telespectador marrom“. Eles se merecem. A. D.

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Posso estar falando bobagem, mas toda vez que acesso o O.I. sinto um forte sentimento de revanchismo dos jornalistas deste contra os da Folha. Do matutino, sou assinante, embora possa considerar “notutino”, pois o jornal só chega a esta distante terra após as 18 horas. Quero dizer que há uma competição de “estrelas”, para saber quem é mais inteligente, melhor, sabe mais. Vejo um certo autoritarismo nestes posicionamentos. Quem é o dono da verdade? Quem pretende ser é nefasto, contra a liberdade. Penso que a censura ao artigo do Dines acentuou a rixa.

Na minha opinião, quem ganha com a disputa somos nós, os leitores de ambos. Vendo as críticas do O.I. relativizo a opinião do jornal. Embora este não centre fogo no O.I., consigo analisar e criticar também o O.I., pois quando entro em seu site tenho a impressão de estar no Primeiro Mundo, na nata do luxo, no que há de melhor. Tenho medo de ser incapaz de entender as matérias, tamanha é a sensação de arrogância que o O.I. transmite. Escrevi por ver insistente pedido de comentários. Espero ter contribuído.

Em tempo: Sou advogado, profissão meio de maluco, acho que se parece à de jornalista. Meio bem, bom, mau e mal. Significante/significado, meio psicanalítico, meio poético!

Carlos Seabra, São Luís, MA

Nota do O.I.:Ver por favor acima resposta de Alberto Dines à carta de Luís Milman. Talvez responda em parte à sua mensagem.

Li o recente artigo de Carlos Vogt a respeito da crise de C&T no Brasil, no OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, e gostaria de parabenizá-lo pela lucidez de pontos de vista. O orçamento e o planejamento de C&T no Brasil não podem ser reféns de questões de curto prazo. Infelizmente, não sou tão otimista quanto o articulista. Não acredito que a situação melhore no curto e médio prazos. A única solução à vista, na minha opinião, é a formação de parcerias de universidades com a iniciativa privada, e tenho ouvido falar de algumas iniciativas interessantes, como o Certi-UFSC e a parceria da Fundação Euvaldo Lodi com o MCT. Infelizmente, estas parcerias não resolvem o problema da pesquisa básica, justamente aquela que mais necessita de planejamento e fomento a longo prazo.

João Paulo Aumond, MIT, Laboratory for Intelligent Systems in Process Engineering

Carlos Vogt responde: Prezado João Paulo Aumond, agradeço-lhe a gentileza do e-mail. Penso que você tem razão quanto à dureza das perspectivas que hoje temos no país para C&T e para todo o sistema de P&D. Mas é preciso que continuemos a batalhar e a acreditar nas ações que empreendemos. C. V.

Vou escrever à Sociedade Brasileira de Pediatria (em geral, lastimavelmente chegada ao academicismo) dando conta do artigo de Mauro Malin sobre pedofilia no UOL. Antes de tudo, corajoso. Além de oportuníssimo, num país onde motoristas de táxi fazem as vezes de guias turístico-sexuais, com roteiros priorizados na proporção inversa da faixa etária de meninas mal saídas da menarca. Todas agenciadas por senhoras ciosas do seu ofício e das suas responsabilidades trabalhistas, evidentemente. Haveria de chegar o tempo em que a expressão “cafetina” adquirisse uma conotação não só de nostalgia, mas de algo assim pendente para o light, para o ingênuo.

Decididamente, aos 47 não me acho assim tão velho para considerar remotíssima a época em que pegar uma gonorréia era quase um critério de homologação rumo a hombridades, machezas e amadurecimentos (além de um memorável pito do tio urologista, misto de ciência e benevolência. Afinal, míseros gonococos não assustavam ninguém).

José Antônio Palhano

Dei boas risadas com o artigo de Marinilda Carvalho. É muito difícil fugir do estilo impresso, pois aprendemos a escrever nele. Tenho uma amiga radialista que já me chamara a atenção sobre a diferença entre os estilos de linguagem em relação aos veículos. Agora, temos que enfrentar as telas. Confesso que tentei; fui reler meu artigo: pesado, com idéias muitos explicadas, parágrafos longos etc. Vou ter que aprender muito.

Vera Silva

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Lastimavelmente, não sei contar telas. O artigo da Marinilda para mim tem quatro. Não sei se conto só o campo impresso ou a tela toda. Adoraria receber um correspondente telal expresso em número de linhas. Mas fiz a tal contagem das telas, encurtei o texto e encurtei os parágrafos. Só espero não ter encurtado também as idéias.

José Antônio Palhano

Nota do O.I.: Amigos, como diz o parágrafo final do artigo: isso aqui é o OBSERVATÓRIO! Todo mundo gosta de ler… :-)))

Caro Dines, gostaria de ouvir sua opinião sobre essa carta publicada no Jornal da

Tarde do domingo 6/12/98:

“Anistia irrestrita

O Brasil é realmente o maior país do mundo, ou melhor, de Primeiro Mundo, pois agora está anistiando todos os estrangeiros que residem irregularmente aqui, sejam bandidos, contrabandistas, enfim toda a ralé mundial. Se continuar assim, nós, brasileiros, não teremos mais espaço em nossa terra. Sérgio Benvenuto, Capital.”

Anderson de Carvalho

Alberto Dines responde: Meu caro: minha leitura é completamente diversa. Aliás escrevi sobre o assunto porque quando o presidente FHC assinou o ato a imprensa dedicou-lhe apenas algumas linhas. No momento em que a Europa e os EUA voltam as costas para os banidos e os exilados, o Brasil faz o contrário: abre os braços para eles. É humano, exemplar. O ato foi assinado no dia 7/9/98, agora também dedicado aos Direitos Humanos. Considerar imigrantes como bandidos é repetir a argumentação restritiva do Estado Novo, quando o Brasil deu vexame recusando a entrada de judeus e japoneses porque eram seres inferiores. Os bandidos que assolam nossas cidades e suas periferias são brasileiros. Aqueles ilegais agora legalizados que não estiverem à altura de suas obrigações para com o país que os acolheu devem ser expulsos. Assim é que se faz. Todo ser humano é inocente até prova em contrário. Saudações humanistas, A. D.

Concordo plenamente com sua analise sobre o caso Lewinsky, acho até que o episódio do nauseabundo vestido “semêntico” tenha sido já um sintoma da saudade dos republicanos de MacCarthy: querem porque querem vingar Nixon. A mídia americana, com pouquíssimas exceções, é tão abjeta quanto o povo americano sedento de pornografia barata, filmes nos quais os heróis são máquinas e bombas, e assim mesmo se travestem de Polyanas inocentes e ruborizadas.

Acho que todos entraram bonito pelo cano, ainda mais com o anúncio do superávit deste ano!

Marcos Rosenbaum

Estou enviando texto que saiu hoje na Agência Estado. É para rir. Reparem no final do texto que o autor – que não está identificado – escreve que “O jogador machucou o tornozelo do braço direito há quase um mês”.

“Scolari promete ‘guerra de nervos’ amanhã

São Paulo – O técnico do Palmeiras, Luís Felipe Scolari, promete fazer uma “guerra de nervos” contra o treinador do Cruzeiro no primeiro jogo das finais da Copa Mercosul, amanhã à noite, no Mineirão. Scolari diz que só definirá a escalação de sua equipe depois que Levir Culpi anunciar o time mineiro. (…) A volta do zagueiro Júnior Baiano deverá ser a maior novidade do Palmeiras. O jogador machucou o tornozelo do braço direito há quase um mês, e teve, segundo os médicos, uma recuperação surpreendente.”

Agora a nova moda vai ser usar meias e sapatos nos braços…

Saulo Filho, estudante de Jornalismo da ECA-USP

Tendo lido o artigo sobre os padres Marcelo Rossi e Zeca, a quem conheço somente através da TV, ficou claro para mim que o texto tem um objetivo crítico, meio insinuando, meio acusando, todo o “sistema” em volta do ressurgimento da Cúria, representada por alguns padres ligados ao movimento carismático, como fator importante junto à mídia. Ora, até pouco tempo atrás, todos os católicos romanos com quem conversava queixavam-se da ausência de novas lideranças no sacerdócio, que levassem a palavra a milhões, e não a centenas (em alguns casos, milhares).

Isso agora ocorre. Lamentavelmente existem aqueles que por uma razão ou outra discordam do comportamento desses padres, o que não deixa de ser um direito. Para que eu possa considerar as meias críticas envolvidas no texto, e enfocar dentro da ótica de seus criadores, precisaria saber que religião professam, se são freqüentadores da Igreja à qual dizem pertencer, e, efetivamente, o que mais lhes incomoda, o crescimento da venda de produtos associados aos cultos e programas apresentados por esses padres, ou, por outro lado, o sucesso obtido em cada uma de suas apresentações, seja em que meio de comunicação for.

Qual o limite, se é que deve haver algum, na opinião dos realizadores desse texto, para a atuação desses padres? Devem limitar o acesso aos templos onde façam suas pregações? Talvez devessem criar um “selo independente” para gravar seus discos, de maneira a poder assegurar o menor resultado de vendas possível e com isso, quem sabe, não atrair a atenção da “mídia”, ficando portanto fora da área de ataque. Poderia o bispo de cada região impedir a aparição publica de cada um deles, de maneira a limitar seu sucesso, para ficar dentro de um patamar que os elaboradores do texto em questão julguem satisfatório. Quem sabe, devessem eles deixar de receber quaisquer valores pelos produtos vendidos nos cultos que celebram, limitando-se a receber os valores ofertados durante as missas, impedindo com isso um repasse de valores maiores para a Cúria através das sedes episcopais, dentro sempre de um “limite” que os críticos julgassem aceitável.

Ficou claro o objetivo critico do texto, até pela covardia de não dizer o que efetivamente gostariam de dizer e não tiveram coragem. Chega a tecer crítica pelo fato de um mesmo padre atingir com sua pregação desde crianças e adolescentes até os mais velhos da terceira idade; nesse caso, a crítica beira o absurdo, pois se não é absurdo, poderíamos então criticar toda a existência da fé para quaisquer cristãos, como se Nosso Senhor Jesus Cristo houvesse deixado uma mensagem específica para cada faixa etária em que os jornalistas quiserem analisar, devendo ser divulgada por um “tipo de padre” a cada situação.

Façam uma autocrítica do que está incomodando realmente a ponto de tecerem um texto tão infamante. Não será simplesmente muita inveja do “sucesso” alheio?

Adilson Capél Rocha

Nota do O.I.: Caro Adilson, está prometida a publicação de uma resposta do autor à sua mensagem na próxima edição, ok?

 

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