Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Duas vias, mão e contramão

PUC-SP

Beatriz Singer

Entre os dias 16 e 20 de outubro realizou-se a Semana do Jornalismo na PUC-SP. Tradicionalmente, a Semana recebe especialistas nos assuntos em pauta no principal auditório da Universidade. São espalhados faixas e folders, professores teimam em reiterar a importância do evento e a lista de presença muda de contexto – passa a correr pelas mãos dos presentes nas palestras, abandonando as salas de aula.

O calouro maravilhado com seu ingresso suado na faculdade que resolve ler as 25 páginas do programa do curso de Jornalismo, parece ter aterrissado no "paraíso acadêmico". À página 3, no fim de um encorajador perfil do curso, depara-se com colocação demasiado atraente: "Gostaríamos de destacar como prioridade do curso a realização de eventos como a ‘Semana do Jornalismo’, que concentram um grande número de convidados para a troca de experiências com nossos alunos."

De acordo com Mariana Sant’Anna, uma das organizadoras da Semana e membro do Centro Acadêmico Benevides Paixão, do curso de Jornalismo da PUC-SP, a Semana do Jornalismo aconteceu em setembro "mas foi muito mal divulgada". Além disso, só se sucedeu porque um auditório já estava reservado. Turbulências internas do Departamento de Jornalismo da PUC-SP à parte, alguns estudantes do curso foram impelidos a comparecer à Semana da Ciências Sociais, solução-tampão meio tortuosa encontrada pelo Departamento. Acharam que os alunos se satisfariam com a falsa Semana. Pode-se dizer que a Semana virou pó.

Alguns alunos, indignados, reorganizaram tudo sozinhos. Apesar de se sentirem injustiçados por não receber o mínimo de uma faculdade que cobra 588,08 reais mensais de seus contratantes, correram atrás de possíveis palestrantes, lutaram por um espaço disponível para a Semana, divulgaram o evento e cuidaram de cada detalhe. O evento se realizaria no próprio estúdio de vídeo da faculdade de jornalismo, com cadeiras e som improvisados, sob resmungos e indignações de um professor que utiliza o estúdio para sua disciplina e teve que ceder seu santificado espaço por uma semana.

"Não nos deram dinheiro; só disseram que ‘a iniciativa é legal’", disse Mariana, referindo-se ao "apoio" da Faculdade de Comunicação e Filosofia da PUC-SP, à qual o curso de Jornalismo é vinculado. O Centro Acadêmico financiou a passagem de avião de Lobão do Rio a São Paulo; a diária de hotel de Alberto Helena Jr. saiu de seu próprio bolso.

A vez dos alunos

Depois de muito empenho, organização e apelo, a Semana parecia tomar forma. Para o dia 16 de outubro às 20h, foram convidados para discutir jornalismo esportivo os jornalistas Alberto Helena Jr. e Mauro Beting. Quem ousou olhar para os lados não conseguia contar 50 pessoas presentes. Ora, o processo seletivo da PUC-SP abre 110 vagas todo ano para novos futuros jornalistas – 55 para o período da manhã e 55 para o da noite. O curso, de quatro anos, possui, de forma ideal, 440 estudantes – abstraindo-se os trancamentos, desistências e transferências. Em suma, pouco mais de 10% do número de alunos esteve presente no primeiro dia. Segundo Mariana, a média se manteve em 60 alunos por sessão do evento.

O segundo dia da Semana foi mais animador. A palestra da manhã contou com a presença de Neide Duarte, editora e repórter do estimado documentário Caminhos e Parcerias, da TV Cultura. A presença de muitos alunos compensou o desastre acústico do estúdio de vídeo. Cada vez que Neide parava para respirar, ouvia-se um forró meia-boca ao fundo. Desligou-se um dos microfones, mas de nada adiantou. Segundo Mariana, houve interferência no sistema de som – lembremos que este foi improvisado.

À noite, as adversidades que vinham assolando a Semana pareceram se aquietar. As presenças de Gabriel Priolli e de Ana Emília Fraga, da ONG TVer, chamaram o público para uma interessante e apimentada discussão sobre a TV brasileira. O estúdio ficou cheio e pessoas de fora do universo da PUC estavam presentes.

Na quarta-feira, o editor de opinião da Gazeta Mercantil, José Paulo Kupfer, discorreu sobre o muitas vezes árido jornalismo econômico. Novamente o estúdio ganhou eco, em seu sentido mais vazio. Poucos se interessavam e muito fingiram se interessar – começaram a conversar quão sacana foi a prova da professora "x" ou se retiraram no meio da performance do convidado. No mesmo dia, à noite, foi a vez de Lobão e Dilma de Melo Silva, professora de jornalismo da USP, discutirem sobre a cultura brasileira. Pouco se falou sobre mídia. Pouco falou Dilma. O estúdio ficou lotado.

No penúltimo dia, Plínio Fraga, jornalista da Folha de S. Paulo, compareceu no estúdio pela manhã, para discutir política na mídia. Apesar de já se ter visto público maior, o pouco presente teve voz e cérebro para agitar o debate. O assunto pede contestação, agitação e cobranças de quem com ele se envolve, e assim o foi, com o pequeno público consciente que deu as caras.

Às 19h do mesmo dia, o cartunista Laerte e José Arbex, da Caros Amigos, responsabilizaram-se por discutir a imprensa alternativa. Cada um queria desenvolver uma vertente e, como a de Arbex incitava temas mais atuais, Laerte permaneceu calado.

Sexta-feira, às 10h, assistiu-se à última conferência, que tratava da responsabilidade social do jornalista. O atraso do convidado, Tão Gomes Pinto, da revista Imprensa, deixou impacientes alguns dos professores que se recusaram a se desfazer de suas aulas em prol da Semana do Jornalismo. A palestra começou mas muitos alunos não saíram das classes, preocupados com a prova que os esperaria na semana seguinte. Pequeno público, entra-e-sai de pessoas, conversas paralelas e impaciência marcaram o derradeiro show da Semana.

A vez dos jornalistas

A Semana estava "redondinha". Havia, no mínimo, dois convidados para falar em cada mesa, o necessário para se assistir a um debate. Parecia que tudo havia sido arranjado pela direção da faculdade. Mas eram míseros estudantes que rebolaram para atrair palestrantes, e isso, talvez, tenha sido decisivo para algumas conferências franzinas. As falhas começaram cedo e só terminaram no último dia.

Hermano Henning, Maria Cristina Poli, Luís Nassif, André Singer, Leão Serva e Heródoto Barbeiro desmarcaram o comparecimento à Semana. Alguns avisaram com 7 dias de antecedência. Outros, 20 minutos antes do início de seu debate.

Muitas frustrações, uma lição

A Semana do Jornalismo 2000 da PUC-SP foi uma verdadeira saga. Não devem ter sido poucas as aspirinas ingeridas pelos organizadores, nem foram poucas as impaciências do estudante de jornalismo realmente interessado – em relação aos colegas, aos professores, aos convidados faltosos e à pouca infra-estrutura oferecida no local.

Apesar dos revezes, alguma lição pode-se tirar da experiência: a relação entre estudantes de jornalismo e jornalistas deveria ser em uma via de duas mãos. Os poucos profissionais e acadêmicos que se utilizam dessa via desconfiam estar na contramão.

CARTAS

La Fundación Walter Benjamin y la Universidad Autónoma de Barcelona (Escuela de Doctorado y de Formación Continuada) tienen el agrado de comunicarles que se han aprobado los acuerdos y el diseño curricular para la realización del Master en Periodismo y Sociedades de la Información.

Título: Universidad Autónoma de Barcelona (Unión Europea). Sede: Fundación Walter Benjamin. Inicio: 2001. Informes: de lunes a viernes de 14 a 19 hs. en Mansilla 2686 1ro. 4, Ciudad de Buenos Aires. Tel:4961-3764. E-mail: aentel@ciudad.com.ar. Vacantes limitadas.

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