Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Duelo, mestrados e Previdência

ENSINO SUPERIOR

Victor Gentilli

A "UniverCidade", repito uma vez mais, não é apenas um grave erro de ortografia, inaceitável numa instituição de ensino. É, também, um grande erro de informação. No caso, falar de indução ao erro é nada. A "UniverCidade" não é uma universidade. Hoje, trata-se apenas de um centro universitário, mas já usava o apelido falso quando era apenas um agregado de faculdades. Informação indispensável: a instituição sequer deseja, menos ainda movimenta-se nesta direção. Não há universidade sem pesquisa. E quando ouve falar em pesquisa, o senhor Ronald Levinsohn (os leitores de mais idade e boa memória certamente conhecem o caso Delfin), proprietário, dono da casa, imediatamente tranca o bolso, saca o revólver e abre a boca: suas declarações são públicas, conhecidas e simplesmente inaceitáveis para um gestor de instituição de ensino superior.

Como estamos dando nomes, vamos em frente: o senhor João Carlos Di Gênio, proprietário da maior universidade do país, a Unip, e de tantas outras instituições de ensino, espalhadas por este país, decidiu reverberar as vozes que questionam a legislação de centros universitários. Certamente teme concorrência. Se Ronald Levinsohn aparece publicamente sob o pseudônimo de "UniverCidade", o senhor Di Gênio prefere apresentar-se na pessoa da professora-doutora Marília Ancona-Lopez, detentora de assento no Conselho Nacional de Educação e sua porta-voz neste organismo oficial.

Os potentados duelam, os barões da mídia saboreiam as vultosas receitas publicitárias e o pobre leitor, coitado, continua sem saber que é o grande perdedor.

Mestrados ilegais

Nada mais emblemático de nossa imprensa do que o noticiário sobre assuntos educacionais. Semana passada, o MEC informou e os jornais divulgaram que inúmeros cursos de mestrado e doutorado estão irregulares. Há mais de nove mil alunos com seus cursos concluídos, mas evidentemente sem qualquer documentação oficial comprobatória. O MEC, claro, não vai permitir a expedição de diplomas a cursos que, embora funcionando normalmente, oficialmente inexistem.

Para o governo, nada há a fazer. Informação oficial do presidente da Capes, Jamil Cury, amplamente divulgada, esclarece que os estudantes deveriam estar mais alertas e recusar-se a cursar uma pós-graduação não-reconhecida nem recomendada pelo órgão.

O fato é velho, antigo. As instituição estão ostensivas, à mostra nas boas capitais brasileiras e em destacados anúncios nos jornais. Há nove mil formados (?) disponíveis para falar. Somente quando o MEC dá publicidade ao fato é que a imprensa registra.

Um profissional de grife chegou a dizer, em seu comentário diário na CBN, num tom orgulhoso, de quem detém informação privilegiada. Ora, ele apenas foi o primeiro a dar publicidade àquilo que o MEC decidiu tornar público. Nada mais. Furo? Que nome dar ao fato de que toda a imprensa ignorou o que estava abaixo de seu nariz? Primeira mão? Não seria mais honesto afirmar-se apenas o primeiro a receber o release oficial?

Previdência

Na relação dos devedores da Previdência, há todo tipo de instituição educacional. Há uns dois anos, a Folha fez boa série de reportagens sobre as irregularidades de instituições supostamente filantrópicas. Agora, o governo divulga a lista dos devedores e a imprensa publica burocraticamente. Cada nome naquela relação é uma potencial pauta. A Universidade de Passo Fundo, senão a única, a mais importante instituição de ensino superior comunitária do Brasil, está lá, no topo da lista.

Mas hoje o grupo de instituições privadas divide-se entre as de fins lucrativos e as filantrópicas. Entre as primeiras, não há discussão, trata-se de pagar o devido débito, embora a Justiça aceite contestação de qualquer tributo. Aliás, há boas pautas sobre instituições de ensino que se assumem como empresas, oferecem educação como produto e dispõem-se a cumprir a lei. Quais são? Como trabalham? Como mostrar ao leitor quem é quem? Quem se comporta como? Quem cumpre a lei?

Para manter o assunto apenas restrito ao espaço geográfico gaúcho, a lista divulgada pelo Ministério da Previdência também apresenta o nome da Universidade Federal de Santa Maria. Inadimplência não é privilégio do setor privado, claro.

Mas a lista continua sendo apenas uma lista. Somente quando as pautas se transformarem em informação apurada, contextualizada é que terá valor para o julgamento do pobre leitor.