Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Edição de TV ao alcance de todos

Nilson Lage

 

A

TV Globo inaugurou sua nova central de telejornalismo em São Paulo, avaliada em 150 milhões de dólares e, como é norma nesses casos, foi logo informando que era “a última palavra em tecnologia”. Falso. Em matéria de tecnologia de telejornalismo, a última palavra está para ser dada e os “equipamentos de última geração” são os da penúltima.

Paralelamente a uma sofisticação que cada vez faz menos sentido, e a facilidades de financiamento com que a indústria tenta esgotar a produção obsoleta de suas velhas fábricas, uma revolução tecnológica vem-se operando no setor de produção de TV.

Trata-se da chegada ao mercado dos sistemas realmente digitais, isto é, em que os sinais são transformados em bits ao sair das câmaras e operados, daí em diante, por computadores.

Para se ter uma idéia do que essa revolução representa, o departamento em que trabalho, na Universidade Federal de Santa Catarina, vem experimentando com êxito um computador comum que opera como ilha de edição convencional, produzindo vídeos com todos os recursos – corte, fusão, sonorização etc. – e investimento de apenas cinco mil dólares. A qualidade é compatível com a Internet 2, que está começando a ser implantada, e acredita-se que não fará feio para transmissões de TV a cabo.

Trata-se, na verdade, de um PC com placa de vídeo, velocidade de 400 MHtz e disco rígido de 15 Gb, rodando um programa Adobe Premiere. Placas de vídeo mais sofisticadas, no valor de até sete mil dólares, permitem, segundo a informação disponível, edição com qualidade equivalente às ilhas Beta da Sony. Só que por algo em torno de 15 mil dólares, uma fração do custo das ilhas analógicas.

Em outro departamento, que opera com suporte de vídeo para ensino à distância, máquinas desse porte estão realizando a contento tarefas antes atribuídas a ilhas de edição que custam mais de 300 mil dólares.

Os equipamentos mais antigos, programas Avid montados em computadores MacIntosh, são ainda caros – seu preço é calculado com base no das ilhas analógicas – mas oferecem inúmeras vantagens operacionais, se comparados à edição convencional.

Para completar-se a revolução, falta a adoção generalizada de câmaras inteiramente digitais, isto é, o fim das fitas analógicas de tape, cuja edição por cópia, principalmente no formato VHS, envolve perda de qualidade.

O sentido dessa revolução é difundir, em nível doméstico ou quase doméstico, a possibilidade de edição de material jornalístico, abrindo a possibilidade do surgimento de milhares de produtores independentes.

Com isso, toda uma categoria profissional deverá desaparecer, da mesma forma como desapareceram, com a informatização da indústria gráfica, os linotipistas, os paginadores de rama e os revisores de provas. Ficarão os jornalistas de TV – o que grava a imagem e o que aparece, redige e fala.

Os professores que vêm operando os novos equipamentos não encontram maior dificuldade para editar imagens em vídeo do que a experimentada em programas gráficos como Quark-X-press, o Pagemaker ou o Publisher.

Computadores já são empregados rotineiramente na edição de som para rádio e se admite que, no futuro locutores, poderão substituir locutores, lendo mensagens digitadas na tela. Programas com essa capacidade foram desenvolvidos, entre outras finalidades, para suporte a deficientes visuais e vêm sendo aperfeiçoados.

Esses fatos coincidem com a generalização dos canais por cabo e satélite e o advento da nova geração internet – a Internet 2 – que começa a chegar às universidades brasileiras. Além de coberturas jornalísticas, o mercado que se abre envolve ainda vídeos instrucionais, videoreleases, documentação e veiculação institucional, hoje disponíveis a custo bem mais alto.