Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eduardo Ribeiro

NOVO DCI

"O novo jornal de Quércia é o velho DCI", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 14/02/02

"O ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, está de volta à mídia impressa como novo dono da marca DCI, o Diário do Comércio & Indústria, que entre os anos 70 e 80 exerceu grande influência no meio empresarial paulista, particularmente entre os donos de pequenas e médias empresas. O novo DCI chegará às bancas nesta próxima segunda-feira, 18/2, com circulação restrita ao chamado centro metropolitano expandido de São Paulo, que engloba Capital, ABCD, Campinas, Baixada Santista e São José dos Campos.

A equipe que o produzirá – e que nas últimas semanas vem trabalhando em edições piloto – é a mesma do Panorama Brasil, jornal virtual de economia lançado por Quércia há mais de um ano, pouco antes de vender o Diário Popular (atual Diário de S. Paulo) para as Organizações Globo. No comando editorial seguirá Getúlio Bittencourt, acumulando a função com a Direção de Conteúdo do próprio Panorama, tendo como editora-chefe Márcia Raposo e uma equipe com aproximadamente 50 profissionais.

O novo DCI, nas palavras de Bittencourt, será um jornal simples e voltado predominantemente para o setor de serviços, hoje um dos mais pujantes da economia brasileira, com foco na pequena e média empresa.

Em sua fase áurea, o velho DCI sempre empunhou a bandeira da pequena e média empresa e, nisso, deu-se muito bem. A empresa que estava por trás do empreendimento, dirigida por Waldemar dos Santos, foi sempre boa empregadora e acumulou um razoável patrimônio com gráfica e prédios próprios, na Mooca e Centro de São Paulo. Tinha, além do DCI, outro fenômeno do mercado editorial, que atendia pelo nome de Shopping News, distribuído gratuitamente por dezenas de bairros da capital paulista, com tiragem e volume de publicidade de fazer inveja aos grandes diários do País. Tudo isso acabou. Com problemas administrativos e financeiros, a empresa foi vendida no início dos anos 90 para Hamilton Lucas de Oliveira, o dono da IBF que mantinha estreitas e estranhas ligações com o esquema Collor-PC Farias. Hamilton, empolgado com o novo negócio e ?capitalizado?, fez altos investimentos, montando uma equipe de primeira linha, para recuperar o prestígio que o jornal havia perdido nos últimos anos. Pura pirotecnia. Tão logo o esquema Collor começou a desandar, o mesmo se deu em relação a ele, e o jornal foi à bancarrota. A agonia foi lenta e envolveu fornecedores, credores e centenas de funcionários, que nunca conseguiram receber os salários atrasados e muito menos as indenizações trabalhistas.

Só sobrou a marca, esta mesma que foi arrematada há alguns meses em leilão realizado pela Receita Federal, (acredita-se que) por pessoa ligada ao ex-governador Quércia (cujo nome é mantido em sigilo). O ex-governador arrendou a marca, livre de qualquer ônus, numa operação com alto grau de semelhança à realizada meses atrás por Nélson Tanure, ao assumir o JB, através da Multimídia.

Milagrosamente (ou não), o DCI foi publicado todos esses anos praticamente sem interrupção. Como? – é uma incógnita. Falido, com milhões em dívidas, com todos os equipamentos penhorados, sem crédito, ainda assim manteve-se vivo (ainda que de forma absolutamente precária), graças a manobras judiciais e financeiras que nunca foram publicamente explicadas. Esse velho DCI agora desaparece de vez e surge o novo, que daquele só aproveitará efetivamente a marca e possivelmente parte da equipe comercial que ainda vinha trabalhando no jornal.

Agora é aguardar o que vem por aí nesta próxima segunda-feira, para se ter uma idéia mais precisa do ?novo? veículo que São Paulo ganha."

 

"Segunda de estréias: O Pasquim21 e DCI", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 18/02/02

"Duas grandes estréias nesta segunda-feira (18/2): O Pasquim21 e Diário do Comércio & Indústria (DCI) já chegaram com suas novas versões. Apesar de propostas completamente diferentes, ambos têm uma coisa em comum: um passado importante para a história do país.

Sob o comando do cartunista Ziraldo, O Pasquim21 chega com um novo conceito – um misto de humorismo, opinião e reportagem investigativa. As matérias vão tratar de assuntos como meio ambiente, política e economia. ?É bom deixar claro que não se trata do Pasquim antigo, mas sim de um jornal cheio de humor e espírito combativo, que procura um espaço no universo da mídia?, disse Zélio Alves Pinto, irmão de Ziraldo e editor de O Pasquim21. Ao contrário do Pasquim, que se tornou conhecido pelas críticas ao regime militar, O Pasquim21 terá formato standard e rodará em quatro cores. 17 profissionais já estão trabalhando na redação e fazem a atualização do site. Serão 32 páginas de humor, análises, reportagens e charges. Entre os profissionais renomados que participam desta nova versão está o jornalista Fritz Utzeri, também colunista do Jornal do Brasil. A circulação será nacional e a tiragem inicial é de 100 mil exemplares.

O veterano DCI é a nova aposta de Orestes Quércia no mercado editorial. Fundado em 1934, o diário continua a enfocar o setor de serviços para pequenas e médias empresas, dedicando-se a economia. Os 50 jornalistas que escrevem para o site Panorama Brasil, que também pertence ao ex-governador de São Paulo, serão os responsáveis pela produção do DCI. Os 15 mil exemplares serão distribuídos em Santos, Campinas, ABCD, São José dos Campos e capital paulista. Também colorido, tem 20 páginas em formato standard e um caderno tablóide de serviços."

 

"Tradição e nova propriedade", copyright MMOnline (www.mmonline.com.br), 18/02/02

"O mercado de publicações econômicas passou por transformações na semana passada. A revista Forbes, um dos principais títulos norte-americanos, lançado no Brasil em setembro de 2000 pela editora Camelot, passou para as mãos do empresário baiano Nelson Tanure, o mesmo que comprou em 2000 o tradicional Jornal do Brasil, com 111 anos de existência. Simultaneamente, o deficitário DCI, com cobertura voltada às pequenas e médias empresas, que a custo se mantinha em circulação, é relançado, segunda-feira, dia 18, pelo ex-governador paulista Orestes Quércia, dono do portal Panorama Brasil, especializado em economia. A Gazeta Mercantil, outro título tradicional no mercado editorial brasileiro, vem passando por uma reestruturação nos últimos meses para equilibrar suas contas e conquistar novo aporte de capital, que tem chances de ser anunciado no próximo mês. O próprio Tanure tentou, no fim de 2001, adquirir o jornal da família Levy.

Executivos do setor de mídia acreditam que os três títulos – Forbes Brasil, DCI e Gazeta Mercantil – têm em comum deficiências administrativas ou financeiras, mas possuem chances de se recuperar a partir de uma nova gestão. Isso porque pertencem a um segmento – o de economia – que se mostra atraente em um mercado que passou por maus momentos em 2001: houve fechamento de títulos de jornais e revistas e a circulação caiu. A crise que afetou todo o mercado de mídia, no entanto, não fez com que as publicações de economia fechassem as portas, como ocorreu com o setor de edições esportivas. Em novembro de 2001, às vésperas de um ano de Copa do Mundo, a Gazeta Esportiva, fundada em 1947, deixou de circular. Este mês, a Editora Abril, dona da Placar, anunciou que a revista deve circular apenas em edições especiais, dando fim à periodicidade de um título que estreou em 1970, quando o Brasil ganhou a Copa.

?O brasileiro de classe média tem mais interesse por assuntos de economia do que os europeus ou norte-americanos?, diz Paulo César Queiroz, vice-presidente de mídia da DM9DDB. Na sua opinião, tanto a continuidade da Forbes Brasil quanto o relançamento do DCI são saudáveis para o mercado publicitário. ?Outras edições que passaram a disputar o mercado com títulos líderes, como Época, Valor e Quem, já provaram que há espaço para mais publicações no País, que tem baixo índice de leitura?, diz. ?Novos títulos incrementam o bolo publicitário.?

Ele ressalta, no entanto, que os novos controladores devem deixar claro ao mercado quais são os seus objetivos em médio e longo prazos. ?Muitos anunciantes não acreditaram que um título estrangeiro como o Forbes pudesse atrair a identificação com o público brasileiro?, afirma. ?Também não terá sucesso uma publicação que se mostre tendenciosa.? Da mesma forma, o DCI, que vai privilegiar o setor de serviços, com foco na pequena e média empresa, levanta dúvidas se conseguirá espaço em curto prazo.

A questão da transparência no mercado também é preocupação do diretor de mídia da agência carioca Rebouças & Associados, Antônio Jorge Pinheiro. Ele diz ficar satisfeito com a notícia de continuidade da Forbes Brasil, mas espera ouvir de seus novos controladores os planos para tornar a revista viável e devolver a segurança aos anunciantes. ?Esses acontecimentos deixam todos com um pé atrás. Para trabalhar com um título precisamos de um mínimo de garantia?, comenta. ?É uma revista com respaldo internacional, mas aqueles que fazem o planejamento de mídia vão querer também que a linha editorial seja mantida, com uma boa produção de conteúdo local e as melhores matérias publicadas no exterior?, argumenta Pinheiro.

Nenhum dos executivos do Jornal do Brasil ou da Forbes foi encontrado para falar sobre a aquisição. A assessoria da Docas Net, uma das empresas de Nelson Tanure, informou apenas que as negociações estão em andamento. Uma fonte próxima da situação confirma que o negócio foi acertado pouco antes do carnaval e concluído durante a visita do vice-presidente de desenvolvimento de negócios da matriz, Michael Forbes, que está no Brasil desde a Quarta-Feira de Cinzas. Não se sabe o valor do aporte que Tanure deverá injetar para viabilizar a revitalização do título, que terá a redação terceirizada, como aconteceu com o JB. Segundo um executivo do mercado editorial, o empresário nada pagou ao Patrimônio Investimentos e Participações para ficar com a marca Forbes. Para lançar o título, o Patrimônio investiu aproximadamente US$ 1,5 milhão, somado o valor da licença por um ano.

Mais uma tentativa

O ex-governador paulista Orestes Quércia relança o DCI e aproveita a mesma equipe que edita o portal Panorama Brasil

A mesma equipe que abastece hoje o portal Panorama Brasil, formada por cerca de 50 jornalistas, será responsável por fazer circular o novo Diário do Comércio & Indústria (DCI) a partir de segunda-feira, dia 18. Segundo o diretor de conteúdo do Panorama Brasil e diretor de redação do DCI, Getúlio Bittencourt, a edição será colorida, com cerca de 20 páginas editoriais, além de um caderno de serviços, no formato tablóide, com a lista de cartórios de protestos da Grande São Paulo. Rodado na gráfica do Diário do Grande ABC, com uma tiragem inicial de 15 mil exemplares (5 mil a mais que a anterior), o jornal será distribuído no centro expandido de São Paulo: capital, ABCD, Campinas, Santos e São José dos Campos, com preço de capa de R$ 1,50. A meta é dobrar a tiragem dentro de três meses. De acordo com o diretor financeiro do Panorama Brasil, Marco Antônio Biasi, o investimento no lançamento da publicação, que não terá campanha publicitária, é ?muito baixo?, cerca de R$ 500 mil.

?Trata-se de um título que foi muito forte no passado: atingia 128 mil exemplares em 1964?, diz Bittencourt, lembrando que a Gazeta Mercantil, relançada nos anos 70, tirou a liderança do jornal. O foco do novo produto continuará voltado às pequenas e médias empresas ao privilegiar o setor de serviços. Essa decisão partiu do ex-governador Orestes Quércia, diretor-presidente do Panorama Brasil e ex-controlador do Diário Popular, hoje Diário de S.Paulo, vendido às Organizações Globo no ano passado, numa transação estimada em R$ 200 milhões. ?Ele é um especialista em achar novos negócios, não há um jornal que cubra apenas serviços?, comenta Bittencourt.

Outro título que pertence ao DCI, o Shopping News, que tinha circulação semanal gratuita, poderá voltar como um encarte do jornal diário. ?Dentro de dois ou três meses o Shopping News deve voltar a ser semanal?, diz o diretor de criação. Segundo ele, o DCI foi arrendado por Quércia de uma empresa que ganhou a marca em um leilão da Receita Federal. ?Como a Receita era um dos maiores credores do DCI, que faliu, o órgão ficou com a marca, o maior bem do jornal, para leiloá-la?, acrescenta. Nenhum dos executivos do Panorama Setorial informa qual foi a empresa que comprou a marca ou quando o leilão foi realizado. A assessoria de imprensa da Secretaria da Receita Federal em São Paulo afirma que não procede a informação de que o leilão tenha sido realizado pelo órgão. Se ocorreu, foi feito por uma das Varas de Execução Fiscal da Justiça Federal. O Panorama Brasil também não informa por quanto tempo foi arrendado o título. ?É um período confortável?, afirma Marco Antônio Biasi.

A história do DCI acumula altos e baixos. Fundado em 1934, o jornal já teve sua fase áurea entre as décadas de 60 e 80, quando se tornou um dos principais títulos econômicos do País. Enfrentando problemas financeiros, a empresa de Waldemar dos Santos foi vendida no começo dos anos 90, em plena era Collor, para o empresário Hamilton Lucas de Oliveira, dono da desconhecida Indústria Brasileira de Formulários (IBF), que também comprou a extinta revista Visão. Em 1991, o DCI registrava uma tiragem média diária de 60 mil exemplares; o Shopping News, semanal, 525 mil exemplares, enquanto a também semanal Visão atingia tiragem de 90 mil exemplares. A tentativa de reavivar o DCI caiu por terra juntamente com o ex-presidente da República, com quem Lucas de Oliveira mantinha ligações. Muitos dos antigos fornecedores, credores e funcionários estão sem receber até hoje. Uma vez que o Panorama Brasil arrendou apenas a marca, não existe compromisso com qualquer passivo da antiga empresa.

O jornal nunca deixou de circular, abastecendo-se, nos últimos anos, de informações de agências de notícias. No levantamento mais recente do Mídia & Mercado, editado pelo Grupo M&M, relativo ao período de janeiro a junho de 2001, o DCI ocupa a 37? posição no ranking de jornais por investimento, que foi de US$ 2,296 milhões, o que revela um crescimento de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior."