Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eduardo Ribeiro

CRISE & DEMISSÕES

"Mercado estabiliza, mas negociações salariais podem ser prejudicadas", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 6/11/01

"Conforme antecipamos em comentários anteriores, o início de novembro deveria marcar o recuo no número de demissões e uma maior estabilização no mercado de trabalho para os jornalistas, sobretudo no Estado de São Paulo, onde o dissídio coletivo, programado para dezembro, atua como uma espécie de protetor de empregos pelos altos custos que uma dispensa nesse período representa para as empresas.

Desde o dia 1? de novembro as baixas nas redações diminuíram vertiginosamente, fato que não trás de volta as vagas perdidas, mas ao menos parece apontar para o fim da temporada de passaralho.

É difícil fazer a contabilidade das vagas subtraídas aos jornalistas nas últimas semanas, mas numa conta simples não é exagero falar em aproximadamente 200 postos de trabalho no eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Brasília-Minas Gerais. Estadão, Lance, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, sucursal de O Globo em São Paulo, Portal do Esporte (Globo), Estado de Minas são alguns dos veículos que promoveram cortes na folha de pagamentos. Esses foram, digamos assim, os cortes diretos, mas não se pode desconsiderar também os indiretos, provocados pelas redações que não demitiram, mas congelaram ou extinguiram vagas abertas (Folha de S. Paulo, por exemplo) ou aproveitaram saídas espontâneas e não estão autorizando substituições, a não ser em casos reconhecidamente excepcionais (Editora Três).

E não estamos aqui considerando o caso Gazeta Mercantil, onde não são nada animadoras as perspectivas (ver comentário específico) – fala-se em até cem demissões, o que elevaria o número acima de 200 para 300 postos de trabalho. Se computarmos as centenas de demissões ocorridas ao longo do ano sobretudo nos sites, na internet, e em redações de revistas (extinção de Única, na Editora Globo; dezenas de cortes na Editora Símbolo, que também fechou alguns títulos; etc.) voltaremos quase ao estágio anterior ao boom da web, entre 1999 e 2000, quando chegamos a contabilizar a criação de pelo menos 800 novas vagas num único semestre, número turbinado por lançamentos expressivos como o jornal Valor Econômico e várias revistas, além da ampliação de equipes em vários veículos.

Ao contrário de um ou dois anos atrás, quando as redações disputavam a tapas os profissionais, atualmente há um número considerável de jornalistas qualificados disponível no mercado, graças ao enxugamento praticado pelas empresas. Número que poderá crescer, sobretudo na área de Economia, caso ocorram demissões em larga escala na Gazeta Mercantil.

É um quadro desfavorável aos empregados e que, pelas leis de oferta e procura, certamente estará pressionando os salários para baixo, além de ser um incômodo aliado dos patrões nas negociações salariais que se aproximam. Os jornalistas deverão buscar caminhos de organização e mobilização para enfrentar a entressafra, tanto no que diz respeito à manutenção de empregos quanto dos salários.

De resto, infelizmente já começa a fazer parte do passado o período dos salários milionários, em que qualquer recém-formado trocava um cargo de trainée pelo de editor, por salários inimagináveis numa situação normal de mercado."

 

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"Gazeta Mercantil: como será depois da greve?", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 6/11/01

"Nada será como antes, na Gazeta Mercantil, depois do final da greve. As marcas da crise, se e quando vencida, levarão anos para cicatrizar e esse será um desafio tão gigantesco quanto o de salvar a empresa, nesse momento. Dos 150 jornalistas parados, dezenas não voltarão à empresa ao final da greve. Um dos editores do jornal calcula que esse número pode aproximar-se dos três dígitos, tal o grau de decepção e de descontentamento com a empresa existente entre os grevistas. Muitos, aliás, já arranjaram ou estão procurando um novo emprego. E vários vão sair mesmo sem nada ter encontrado, por considerar que o ambiente de trabalho, na volta da greve, nunca mais será o mesmo.

O jornal, por seu lado, não terá, segundo todas as projeções e estudos conhecidos, como manter uma folha de pagamento da ordem de R$ 6 milhões por mês, como acontece atualmente. Esperam-se cortes em todas as áreas, mas sobretudo entre os jornalistas. O staff da empresa certamente, pela forte pressão que exerce tanto na folha de pagamento como nos demais custos da empresa (benefícios, verbas de representação etc.), não escapará ao sacrifício, embora tenha em Luiz Fernando Levy um grande aliado (todos sabem do paternalismo com que a família Levy dirige o jornal e do apego de Luiz Fernando pelos funcionários que fizeram carreira no jornal, galgando posições de comando, ao seu lado). Será sempre dele, até prova em contrário, a palavra final sobre quem sai e quem fica, e isso só vai mudar se realmente o comando da empresa trocar de mãos, o que está longe de ser uma certeza. Só que em momento algum na história da Gazeta Mercantil, uma crise atingiu tais proporções, exigindo que sejam tomadas medidas drásticas e draconianas para o completo saneamento da empresa. Ele não tem, portanto, muitas alternativas.

Interessante reparar, no caso da greve, que nenhum dos dois lados avaliou de forma correta o potencial do outro. Os grevistas não acreditavam que a empresa conseguisse manter a normalidade na circulação do jornal com o grau de paralisação obtido; e a empresa, por seu lado, jamais imaginou que o movimento pudesse ser tão forte, coeso e longo – já se vão mais de 20 dias desde o início da greve, e não houve até agora (salvo engano) qualquer deserção.

A empresa lança mão de todas as possibilidades para obter receita capaz de amenizar a crise e de permitir que sobreviva até o período da chamada safra de balanços, quando o faturamento dá um salto significativo. Está difícil. Os créditos estão escassos e a empresa enfrenta a desconfiança do mercado. Uma das apostas é a possível negociação que vem sendo analisada e costurada por Sérgio Thompson Flores através da sua WorldInvest, que teria por trás a força de empresários como Antonio Ermírio de Moraes, Olavo Monteiro de Carvalho, Kati Almeida Braga, fundos de pensão, entre outros. Aposta-se numa fórmula parecida com a do diário esportivo Lance, que tem um administrador-sócio (Walter de Mattos Jr.), operando sob severa vigilância dos demais acionistas (Infoglobo, entre eles).

Para Levy, com todo o incômodo que viesse a ter num cenário como esse, com pesos pesados no seu cangote, ainda assim seria uma solução salvadora e caída do céu.

Para os funcionários, apenas uma tênue esperança. Difícil mesmo vai ser a volta ao trabalho, quando grevistas e não grevistas olharem-se nos olhos. Não faltarão abraços fraternos e calorosos, por tão esperado (e necessário) reencontro. Mas também certamente sobrarão olhares enviesados e mágoas, que precisarão ser logo extirpadas, sob pena de pôr a perder a maior de todas as riquezas da Gazeta Mercantil – o excepcional ambiente de trabalho que sempre ofereceu aos seus colaboradores."

 

"Mídia em crise", copyright No., 9/11/01

"No último semestre o mercado brasileiro de mídia impressa registrou umas das maiores marés de demissões e redução de custos dos últimos anos. Os cortes atingiram todos os grandes veículos da imprensa. O maior impacto, até o momento, foi na Gazeta Mercantil, com a demissão de 400 pessoas – mais 200 devem ser mandadas embora em São Paulo, como apurou no. – e o fechamento de diversas sucursais. A medida, uma vez efetivadas as demissões na matriz, representará um corte de 30% na folha da empresa, que empregava até ontem 2.000 funcionários. Também em São Paulo, os jornais Folha de S. Paulo e Agora S. Paulo (grupo Folha da Manhã) demitiram 29 jornalistas. O jornal O Estado de S. Paulo demitiu 55 pessoas, das quais 40 repórteres e editores. O Globo reduziu de 20 para 5 pessoas o quadro de sua sucursal em São Paulo, que no passado chegou a ter 100 funcionários, entre redação e área comercial. O Jornal do Brasil fechou a sucursal de Belo Horizonte e reduziu para duas pessoas a equipe de São Paulo. O diário esportivo Lance cortou 12 e a Gazeta Esportiva, um dos mais tradicionais jornais do país no segmento, criado em 1947 por Cásper Libero, deixa de circular no próximo dia 19, para enxugar custos. Passa a ser publicado somente na internet.

O quadro é muito ruim e os mais pessimistas ainda dizem que nada será como antes. Faz sentido. O papel para impressão custa 540 dólares a tonelada (com os repetidos pinotes do dólar, algo em torno de 1.500 reais). Desse número, deriva uma conta que ajuda a entender o ambiente na mídia impressa: uma folha impressa de jornal formato standard pesa 5 gramas. Multiplicando-se esse peso pelo número de folhas de um jornal e o resultado pelo número de exemplares de uma tiragem de domingo, por exemplo, dá para ter uma idéia breve da fatia que a conta-papel representa nas despesas de um jornal impresso. Como não podem diminuir as tiragens, porque isso também reduziria o faturamento, as empresas optam por cortar na segunda grande despesa da atividade, que é a folha de pessoal. A causa determinante desse cenário tem, basicamente, dois focos: a receita de publicidade, que despencou, e as dívidas, que hoje assolam as grandes empresas jornalísticas brasileiras, todas familiares.

Não bastasse isso, a situação piorou ainda mais depois dos atentados contra os Estados Unidos em 11 de setembro – é justamente a partir desta data que se nota o aumento de demissões no Brasil. Para entender essa matemática basta imaginar as empresas como seres sensíveis, que se desestabilizam por qualquer motivo. E a primeira pancada é a área comercial que denuncia. ?O mercado teve uma queda importante. Ela foi maior no primeiro semestre. No início do segundo, havia uma recuperação, mas a conjunção de incerteza política, econômica e os atentados de 11 de setembro brecaram-na?, afirma o CEO para as Américas da agência de publicidade Salles D?Arcy Paulo Salles. Explicação parecida é dada pelo diretor de marketing do grupo Folha da Manhã, Paulo Mira: ?Quando você tem um atentado terrorista como o de 11 de setembro, as matrizes das multinacionais seguram os anúncios lá e sofremos o reflexo disso aqui?.

Se a crise afeta duramente as duas maiores cidades do país, no restante a situação é pior. ?Tá dificil. Se no mercado do Rio e São Paulo tá complicado, imagine fora desse eixo. Eu diria que somos 10 vezes mais afetados do que São Paulo e Rio, diz o gerente de publicidade do mercado nacional do Jornal do Commercio do Recife Pernambuco, Luciano Moura. O quadro é cruel, ele diz: ?esperamos uma retração de 20 a 25% em relação ao ano passado?. No Nordeste, a crise é agravada pelos feriados forçados para economizar energia. ?Semana que vem, 15 de novembro, é feriado, No dia 16 também será feriado aqui,. Isso é ruim para o negócio?, completa Moura. No Sul não tem apagão, mas nem por isso a situação é melhor, explica o gerente comercial dos jornais Gazeta do Povo e Primeira Hora, de Curitiba, Jeferson Bronze Moreira. E completa: ?se não considerarmos os reajustes que fizemos na tabela de preços devemos fechar 2001 com uma queda por volta de 10% em relação ao ano passado?.

A retração generalizada pode ser observada como há muito não se via, nas campanhas em TV, revistas e jornais, pedindo anúncios. São tentativas de reação feitas por entidades de publicitários e de mídia. Mas os números não mentem. O Projeto Inter-Meios, realizado pela consultoria PricewaterhouseCoopers, mostra que no primeiro semestre deste ano (em comparação com o ano passado) anúncios em outdoor caíram 31,79%, na TV aberta 5,75%, em revistas 7,66%, nas rádios 9,42%, nos jornais 9,44% e na TV por assinatura 12,05%. O único resultado positivo de todo o mercado publicitário atende pelo nome de mídia exterior, representada por anúncios em ônibus (busdoor), painéis e mobiliário urbano, e representou magros 1,7% — geralmente porque é mais barato. O estudo mede 90% dos investimentos em mídia realizados no país, algo próximo de 12 bilhões de dólares, e é baseado em informações fornecidas pelos próprios veículos.

Mas vale lembrar que o faturamento publicitário em 2000 cresceu 24,6% sobre o de 1999, movidos a anúncios de empresas de internet que, no primeiro semestre, ainda tinham dinheiro para gastar em publicidade e campanhas maciças de empresas da área de telecomunicações. Mas historicamente a maior parte do faturamento publicitário de uma empresa (65%) ocorre no terceiro e no quarto semestres. O resultado do terceiro trimestre já é conhecido e não foi bom, para dizer o mínimo. A culpa, de acordo com os publicitários, é dos atentados. Resta saber se o quarto, turbinado pelo Natal e pelo 13?, irá compensar as perdas do resto do ano. ?Se tivermos sorte, conseguiremos o mesmo faturamento do ano passado?, diz o presidente executivo da Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP) Flávio Corrêa. Paulo Salles é mais pessimista. ?O mercado está andando muito a curto prazo. As autorizações estão sendo feitas dia a dia. Eu era feliz e não sabia?, afirma.

A crise também preocupa as empresas proprietárias de revistas. ?Estou há 30 anos no mercado e nunca tinha visto um crise tão longa. É a primeira vez e espero que seja a última?, diz Paulo Gregoraci, diretor-executivo da editora Globo. No caso da editora, que trabalha com títulos semanais e mensais a crise atrapalha também pela falta de planejamento a longo prazo dos anunciantes. ?Nas revistas semanais, por exemplo, tenho uma base de anunciantes, mas vou fechar anúncios que entram ainda esta semana segunda, terça e quarta. Isso é ruim para as revistas mensais, pois daqui duas semanas vou começar a vender anúncio para janeiro e os anunciantes ainda não definiram seu planejamento do ano que vem?, completa Gregoraci. Em um ponto todos concordam, o resultado publicitário deste ano deve ficar mesmo abaixo do ano passado e confirmam os números apresentados pela pesquisa Inter-Meios – no caso das revistas, por exemplo, a queda deve ficar entre 7% a 10%.

A crise, no entanto, só é novidade na imprensa brasileira. Desde o início do segundo semestre deste ano emitia sinais nas projeções da mídia americana. Em setembro, AOL Time Warner, Viacom e NewsCorp, três gigantes desse mercado, admitiam que encerrariam o ano abaixo das metas projetadas. O londrino Financial Times estima chegar ao fim de 2001 com queda de 40% em relação à previsão de faturamento.

No Brasil, a cada movimento amplo de enxugamento das redações, os jornalistas tendem repetir a pergunta: ?Com tantos cortes e falta de dinheiro em caixa, será que os produtos dessas empresas conseguirão manter a qualidade editorial?? Para o estudioso de mídia Bernardo Kucinski, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, a resposta é sim. ?O prejuízo na qualidade editorial aparece somente no longo prazo. O leitor demora para percebê-la. Por isso você tem a figura do passaralho (demissão em massa) das redações. Você corta os gastos rapidamente e a qualidade editorial se mantém por um tempo ainda. Assim o veículo pode recontratar quando estiver melhor financeiramente?. Em algumas empresas, existe também como estratégia a possibilidade de criar novos produtos, com o mesmo número de jornalistas, como revelou no boletim dirigido aos funcionários do Grupo Abril o novo presidente executivo da empresa, Maurizio Mauro. ?Meu compromisso não é manter o emprego de todo mundo, mas manter a empregabilidade de cada um. Isso passa, inclusive, por aumentar, com as mesmas pessoas, a quantidade de produtos que fazemos?.

Para o jornalismo e os jornalistas, o momento é dos piores. Completa um movimento que teve início no ano passado, com a crise das pontocom e o fechamento ou fusão de dezenas de publicações na Internet, como exaustivamente noticiaram em suas páginas os jornais hoje alcançados pela maré baixa do mercado."

 

"UOL corta 6% da folha de pagamento", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 9/11/01

"Enquanto a navalha faz a festa, ninguém trabalha sossegado. Nem nos grandes veículos de mídia. O maior portal da internet brasileira cortou, nesta quinta, 6% de sua folha de pagamento, uma semana após anunciar a extinção do Zip.net, operação incorporada em fevereiro junto à Portugal Telecom. O Zip agora funciona apenas como serviço de e-mail.

Uma fonte interna do portal, que não quis se identificar, não soube precisar o número total de demitidos. Disse apenas que em sua área, a de conteúdo, foram dispensadas sete pessoas. Os cortes atingiram ainda a área de webdesign e o departamento comercial.

Houve demissões também entre a equipe remanescente do Zip.net. O portal de internet da Portugal Telecom tinha cerca de 170 funcionários, 40 dos quais, especulou-se quando foi anunciado o seu fim, já haviam ganhado a rua.

Outra fonte interna do UOL disse ao CidadeBiz, também em off, que todo o quadro do Zip foi dispensado, exceto a equipe do Pele.net e as cerca de três pessoas responsáveis pelo Zip.wap.

O Zip.net foi vendido no ano passado à PT por seu fundador, Marcos Moraes. A transação custou cerca de 365 milhões de dólares ao grupo português, que em fevereiro fundiu o portal com o UOL e ainda investiu 200 milhões de dólares no provedor.

A assessoria de imprensa do UOL avisa que o portal ?não comenta o assunto? das demissões."