Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eduardo Ribeiro

CORREIO ELETRÔNICO / JORNALISMO

“O horror dos e-mails nas redações”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 13/12/02

“É uma insanidade o que está ocorrendo nas redações brasileiras e que, infelizmente, tem origem nas assessorias de imprensa, e na distribuição desenfreada de releases via e-mail. Não é possível mais as coisas continuarem assim. As redações brasileiras, sobretudo veículos de interesse geral, estão à beira de um ataque de nervos.

Há editorias recebendo mais de mil e-mails diários. É desumano. E não é sem sentido que a cada dia mais os colegas ficam indignados com essa situação que representa uma falta de respeito e profissionalismo. Resultado: um grande número de editorias hoje sequer lê os e-mails gerais, deletando-os em bloco. E para se resguardar, alguns colegas optaram por criar e-mails pessoais guardados a sete chaves, para receber apenas as informações das fontes que consideram confiáveis e que sabem respeitar as práticas saudáveis de relacionamento.

Uma pena.

As agências, as empresas que fazem distribuição de informações, e outras instituições que se valem do expediente do spam estão dando um tiro no pé e atrapalhando todo o mercado.

Ontem (quinta-feira, 12/12), numa conversa que tive com uma das editoras do Jornal da Tarde – a colega Marize Muniz, da editoria de Geral – ela se mostrou desanimada e revoltada com o que está acontecendo. Disse que a situação ao invés de melhorar, de uns anos para cá, piorou consideravelmente e que já não sabe mais o que fazer. Aliás, sabe: joga tudo na lata do lixo, mesmo correndo até o risco de perder boas informações.

Marize é das mais sérias e competentes profissionais da grande imprensa e uma das que mais valoriza o trabalho de parceria com as assessorias de imprensa. Tem, portanto, autoridade para falar. E é uma espécie de porta-voz dos colegas de pauta, tanto pela experiência quanto pela sinceridade.

Marize disse nunca ter visto nada igual em todos esses anos de carreira.

Recentemente, num depoimento que deu durante uma palestra no 2? Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público, o colega Marcelo Recher, diretor de Redação do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, tocou no mesmo assunto. E foi incisivo: ?Aconselho que se use menos o recurso do e-mail. Eu não leio mais e-mail. Nem eu nem os editores do Zero Hora. Recebo de 400 a 500 por dia, um enorme constrangimento. Dou uma olhada no cabeçalho, vejo se é para mim e se desconfio que é alguma coisa diferenciada eu paro. O resto vai para o lixo e pode estar sumindo informação importante também. Nada substitui o contato pessoal. Se a informação é importante, os colegas devem ligar, fazer contato. E se o editor for razoavelmente competente vai poder extrair até mais de uma pauta da conversa.?

O que Marize e Marcelo deixam muito claro nesses depoimentos é que é urgente, urgentíssimo, rever essas práticas.

As redações – mais enxutas do que nunca -, com menos espaços editoriais, e com o crescimento do mercado corporativo estão numa posição desigual, acuadas por um assédio desenfreado e acachapante.

Um detalhe, no entanto, faz a diferença: elas é que têm em mãos as armas mais importantes. Decidem a quem atender e o que vai sair no jornal, na revista, no rádio ou na televisão.

Jornalistas&Cia já tocou várias vezes neste tema e continuará tocando, até por entender que essa é uma contribuição ao mercado, aos profissionais e àqueles que buscam no debate e na troca de idéias e informações as melhores soluções.

Não há mais, nesse caso, como continuar assim.

Informação não é commoditie e quem não se aperceber disso ficará pelo caminho. Daqui a pouco as redações vão fazer uma lista negra de assessorias e aí será efetivamente o fim.

O chato nisso tudo é que há muitas empresas sérias, que trabalham de forma correta, e que acabam sendo penalizadas por práticas inconvenientes de outras empresas. Caberá ao mercado separar o joio do trigo.

Arrisco aqui duas sugestões:

Uma delas às agências, empresas de distribuição de informações corporativas e assessorias diretas das empresas, que ainda, talvez por desconhecimento, utilizem-se desta prática: acabem imediatamente com os mailings generalistas e passem a adotar mailings seletivos e personalizados. Vai dar um pouco mais de trabalho, mas o resultado será surpreendentemente melhor. O próprio conceito da empresa ou agência crescerá muito no mercado, junto aos colegas.

E uma outra às redações (também vai dar um pouco de trabalho, inicialmente, mas a melhora será substancial, no curto prazo): identifiquem as empresas que adotam essas práticas inconvenientes e as avisem didaticamente dos erros cometidos, com um recado tão claro quanto verdadeiro: portas fechadas para quem não se emendar.

Se um grande número de veículos fizer isto, os aventureiros e amadores certamente vão se enquadrar, e o mercado vai acabar se moralizando. E gelo para quem não se enquadrar.

Os sérios vão agradecer.”

 

CIENTISTAS DESLEIXADOS

“Cientista evita ler fontes originais antes de citá-las, revela estatística”, copyright Folha de S. Paulo / New Scientist, 16/12/02

“Um estudo estatístico revelador flagrou os cientistas numa atitude de repórteres desleixados. Quando escrevem seus trabalhos e citam artigos de outros pesquisadores, a maioria deles não se preocupa em ler os originais.

A descoberta foi feita por Mikhail Simkin e Vwani Roychowdhury, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que estudam a maneira como a informação se espalha ao longo de diferentes tipos de rede. Eles perceberam, numa base de dados de citações, que erros nas referências (como no título de um artigo alheio, por exemplo) são bastante comuns e que vários desses erros são idênticos. Isso sugere que muitos cientistas simplesmente economizam tempo, copiando a referência de um artigo de outrem em vez de ler o original.

Para descobrir o quão comum é essa atitude, eles olharam os dados de citações de um estudo famoso de 1973 sobre a estrutura de cristais bidimensionais. Descobriram que o artigo havia sido citado 4.300 vezes, 196 delas contendo referência errada a volume, página ou ano de publicação.

Apesar do fato de que centenas de variações nos tipos de erro são possíveis, eles contaram apenas 45. O erro mais popular apareceu 78 vezes. O que sugere que 45 cientistas, que bem poderiam ter lido o original, erraram ao citá-lo. Então, 151 outros -77% do total- copiaram os enganos sem se dar ao trabalho de ler o original. Para os autores, o cientista confia demais em outros para repetir a mensagem central de um artigo.”

 

JORNAL & INTERNET / EUA

“Internet amplia receita de jornais americanos”, copyright O Estado de S. Paulo / Newsday, 16/12/02

“Cada vez mais, os jornais estão apostando no seu site na web para criação de receitas, uma vez que as perspectivas de um movimento positivo na propaganda impressa em 2003 estão toldadas por uma maior incerteza em relação à economia americana e pela possibilidade de uma guerra contra o Iraque. Esta semana, altos executivos da The New York Times Co., Dow Jones & Co., Tribune Co. e outras atribuíram a melhoria no desempenho das operações à ajuda da internet em amortecer os golpes desferidos pela pior ?seca? de publicidade desde a 2.? Guerra Mundial. E previram que a web produzirá ainda mais receitas nos próximos anos, mesmo se o dispêndio com publicidade em jornais subir.

O reconhecimento da internet como geradora de dinheiro é novo. Há alguns anos, os executivos a descreviam como ameaça aos lucrativos anúncios classificados. Alguns criaram divisões online como uma medida defensiva para manter leitores. Mas, em apresentações a analistas de ações na conferência anual de mídia da UBS Warburg, representantes das grandes empresas jornalísticas enfatizaram o papel essencial desempenhado pelas unidades de internet.

Publicidade – Na Dow Jones, as edições online do ?navio-capitânea?, o Wall Street Journal, atraíram 20% mais publicidade este ano do que em 2001 – ao mesmo tempo em que os anúncios impressos declinaram durante a maior parte de 2002. O site na web do Wall Street Journal, o único grande site de notícias que não é gratuito, tem cerca de 664 mil assinantes.

A taxa de acesso subiu 33% em julho, chegando a US$ 79,00, mas poucos leitores parecem ter cancelado a assinatura. ?Não vimos nenhum impacto perceptível por causa da alta no preço?, disse L. Gordon Crovitz, vice-presidente sênior de publicação eletrônica da Dow Jones.

O The New York Times, que como o Wall Street Journal está competindo pelos leitores abastados, também acha que a internet tem um papel importante, particularmente no momento em que tenta formar uma base nacional de anunciantes e leitores. O diretor-presidente da New York Times Co., Russell Lewis, previu que a operação do jornal na web renderá lucros adicionais de US$ 13 bilhões a US$ 15 milhões este ano, em relação a 2001.”

 

VENEZUELA

“Oposicionistas e chavistas atacam emissoras de TV”, copyright O Estado de S. Paulo, 16/12/02

“Centenas de simpatizantes do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, cercaram de madrugada as sedes dos principais canais de TV do país em Caracas e em outras cidades para protestar contra o que dizem ser uma campanha sistemática contra o governo.

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, que está em Caracas há mais de um mês para tentar mediar um diálogo entre o governo e a oposição, condenou os ataques. Ele disse ver com ?uma profunda preocupação as ações intimidatórias contra as instalações de alguns dos principais meios de comunicação do país?. Gaviria disse ainda que opositores atacaram a tiros o canal estatal de TV.

Os EUA também se disseram preocupados com os ataques de chavistas e de oposicionistas.

Os protestos chavistas ocorreram após a TV e a rádio estatais conclamarem os simpatizantes do presidente a ?defender a democracia nas ruas?. Os manifestantes, entre os quais havia deputados chavistas, batiam panelas e agitavam bandeiras do país. ?Golpistas! Digam a verdade, não mentiras?, gritavam.

A TV Globovisión mostrou imagens de depredação em seu escritório da cidade de Maracaibo, dizendo que os chavistas forçaram a entrada, destruindo janelas, equipamentos e móveis.

A relação de Chávez com os meios de comunicação é conflituosa desde o início de seu mandato. No domingo, ele acusou os meios de comunicação de promoverem ?uma guerra terrorista e sangrenta? contra seu governo. Ele acusou a oposição de usar a mesma tática que levou a um golpe frustrado que o tirou do poder por dois dias, em abril.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, já havia instado o governo a garantir a segurança dos jornalistas e dos meios de comunicação do país após casos de ataques a sedes de jornais e TVs e agressões a jornalistas nos últimos meses.

Milhares de opositores tomaram as ruas de Caracas à tarde para protestar contra os ataques.

O governo negou responsabilidade sobre as ações e disse não querer violência. O vice-presidente, José Vicente Rangel, disse que Chávez não ordenou as ações e acusou a oposição pelos ataques à TV estatal. ?O que está acontecendo aqui é um tipo de ditadura da mídia?, disse ele em entrevista a uma rádio chilena. ?Ela criou uma intensa reação popular -não contra jornalistas ou contra a liberdade de expressão, mas contra a manipulação da verdade.?

MST critica ?elite?

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou ontem uma carta de solidariedade ao povo venezuelano pela crise por que passa o país, na qual diz que a ?opção antineoliberal? na América Latina foi confirmada pelas urnas em Bolívia, Brasil e Equador. A carta critica ?as elites venezuelanas?, a quem acusa de não aceitar mudanças sociais, políticas e econômicas em favor dos pobres e dos excluídos.”