Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Eduardo Ribeiro

CRISE & ARTIGO 222

"Vagas fechadas passam de 700", copyright Comunique-se, 9/12/01

"Com as demissões anunciadas respectivamente por Diário de S. Paulo (26) e Rádio Eldorado (9), o mercado editorial nos grandes centros brasileiros já contabiliza o fechamento de pelo menos 700 vagas, sobretudo em jornais e revistas e na web (rádio entrou agora, por conta do corte feito na Eldorado, mas até então não houve – ou pelo menos não se deu divulgação – a demissões em massa nessa mídia). Para mal de nossos pecados, não houve um outro setor que pudesse compensar essa brutal perda, embora – como pode ser visto em outro texto deste Jornalistas&Cia – Cenários – a área de comunicação corporativa e assessoria de imprensa tenha crescido e absorvido um pequeno contigente de profissionais. Vamos aos fatos.

A Símbolo praticamente puxou a fila fechando vários títulos e pelo menos 30 vagas entre os meses de junho e julho. Logo depois foi a vez de O Globo, que reduziu quase a pó sua sucursal São Paulo, sacrificando 20 postos de trabalho, entre jornalistas e equipe de apoio. A crise na web chegou prá valer no Grupo Abril, provocando o fechamento da Idealyze (empresa dona dos sites Paralela e TCI Net) e a demissão de 29 profissionais. A revista Única, da Editora Globo, não resistiu aos 6 meses de vida e foi a primeira sinalização da Editora Globo na linha de ajustes. Com a descontinuidade do título, o mercado perdeu 18 vagas. Fizeram as contas? Até aqui temos 97 cortes.

Agosto, mês das bruxas, começou com a Folha de S. Paulo comunicando um corte de 20 profissionais em sua redação; passou pelo Jornal do Brasil (já no período pós-Mario Sérgio Conti) com 7 baixas entre as sucursais São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte; e encerrou com a Band descontinuando o jornal 1? Hora, após apenas 11 dias de vida, fechando 5 postos de trabalho. Total: 129 vagas.

A crise mais grave estava ainda por vir, e nos deu uma folga em setembro e primeira quinzena de outubro. No final daquele mês, no entanto, o Estadão começou a segunda onda de demissões no semestre, abrindo com aquele que seguramente foi o maior corte de pessoal da história do centenário jornal: 55 dispensas de uma só vez, corte que atingiu a matriz e as sucursais Rio de Janeiro e Brasília. Quase simultaneamente, o diário esportivo Lance enxugou suas duas redações (São Paulo e Rio de Janeiro) em 12 vagas. Ao final de outubro tínhamos, portanto, 196 baixas.

Novembro marcou o auge desse movimento funesto e foi o mês em que o passaralho fez o estrago maior. Talvez um estrago inédito na história do jornalismo brasileiro. As Organizações Globo extinguiram o Portal do Esporte, fechando cerca de 50 vagas; o UOL demitiu 6 profissionais; a Gazeta Mercantil, em duas etapas, fechou cerca de 250 vagas jornalísticas (120 no primeiro anúncio e cerca de 130 no segundo); Veja puxou as demissões na Abril, cortando 25 vagas, incluindo sucursais, e foi seguida pelas demais publicações da casa que demitiram praticamente o dobro desse número, ou seja outras 50 vagas (estimativa moderada); e o mês fechou com a Editora Globo também anunciando um ajuste que sacrificou 13 vagas em suas diversas redações. Foram 394 outras vagas, que somadas às 196 dos meses anteriores, contabilizam 590 postos de trabalho.

Somando as 35 demissões realizadas no início da semana (portanto em dezembro) no Diário de S. Paulo e na Rádio Eldorado, 30 delas envolvendo jornalistas, chegamos ao impressionante número de 620 demissões. Somadas a outras 65 provocadas por Estadão (cortes em fevereiro e março, totalizando 28 vagas, isso antes do ajuste de outubro), Ediouro (14), O Fluminense (13) e Estado de Minas (10) chegamos às 685 vagas.

Se a esses números acrescermos as demissões residuais e dezenas de vagas congeladas, teremos um número superior a 700 vagas fechadas no ano. E certamente mais de 1.000 nos últimos 18 meses, computando-se as baixas na web. Para um setor que, no boom, gerou 800 novos postos de trabalho, nosso déficit é de pelo menos 200 vagas, fora o exército de recém-formados chegando ao mercado nesse período (mais de 1.000 num cálculo muito moderado).

É o reverso da moeda. Nossa catogria saiu do paraíso para o inferno num curto espaço de dois anos, com reflexos não só no emprego, mas daqui para a frente também nos salários.

Todas as expectativas em termos de uma recuperação do mercado de trabalho estão, de um lado, na retomada do fluxo de publicidade e, de outro, na aprovação da lei que autoriza a entrada do capital estrangeiro nos veículos brasileiros até o limite de 30% do capital votante."

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"Comunicação Corporativa passa ao largo da crise", copyright Comunique-se, 9/12/01

"A crise que se instalou no mercado editorial neste segundo semestre, provocando corte de mais de 700 vagas jornalísticas nos principais centros do País, não chegou sequer perto do mercado da comunicação corporativa, que continua forte, robusto e em fase de nítido crescimento.

Se pegarmos, por exemplo, o mercado das agências de Comunicação, o cenário é surpreendentemente promissor. Nenhuma delas, obviamente, revela estar nadando em dinheiro ou abre sua lucratividade, mas a verdade é que a cada semana multiplicam-se as notícias de agências que conquistaram novos clientes, de contratações no setor e mesmo de surgimento de novas agências.

Interessante notar que contas perdidas não são contas fechadas, já que há dentro do setor, a exemplo do que ocorre na publicidade (só que em grau menor), migração de clientes entre as agências. Ou seja, as contas muitas vezes saem da agência mas permanecem no mercado. Há, além disso, um volume muito grande e crescente dos chamados jobs, que representam hoje uma receita adicional interessante e estratégica para as agências – e que também absorvem um razoável contigente de profissionais especializados.

Esse segmento – mostram as estatísticas – praticamente dobrou de tamanho nos últimos três anos e só as quatro maiores do setor (CDN, In Press Porter Novelli, FSB e G&A) faturam, conjuntamente, algo ao redor de R$ 50 milhões por ano. E mesmo tendo dobrado de tamanho, tem ainda muito a crescer, caso consiga desenvolver uma ação setorial através da recém-criada Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), que poderá ser um instrumento decisivo no apoio à busca de novos mercados (área pública, por exemplo), e na consolidação de atuação em áreas estratégicas e rentáveis como a de propaganda institucional.

Só na área pública, que hoje limita-se a jogar praticamente 100% de sua verba de comunicação na publicidade (o que ocorre por vários fatores, entre eles a falta de conhecimento das áreas públicas sobre o que as agências de comunicação fazem e oferecem, e a própria ausência de uma representação mais efetiva das agências nessa esfera), estamos falando de alguns bilhões de dólares (eu disse dólares e não reais), volume que faz crescer os olhos do mais tímido e ingênuo cidadão, que dirá de quem está no mercado buscando crescer. É uma luta importante, justa e que certamente alavancará, como jamais visto, o mercado de comunicação corporativa e institucional no País, colaborando para gerar os empregos que hoje estão faltando nos veículos de comunicação.

De outro lado, quando olhamos o mercado da comunicação corporativa, pelo lado de dentro das grandes corporações, também vemos que, embora enxuto, ele continua estratégico e atraente. Só nas últimas semanas pelo menos cinco dos mais importantes nomes do setor mudaram de emprego ou de função. O mais experiente e renomado deles, Walter Nori, decidiu finalmente encerrar sua carreira do lado de dentro das fronteiras corporativas, abrindo mão do cobiçado cargo de vice-presidente de Comunicação Empresarial da Embraer, para – daqui a três meses e após merecido descanso – retomar a carreira como consultor, quando poderá colocar a serviço de várias organizações, a experiência adquirida, entre outras, na Volkswagen, Rhodia, Hill and Knowlton, Scania e na Embraer, onde esteve por dois anos.

Outro que mudou foi Renato Gasparetto Jr., que aceitou deixar o cargo de diretor de Comunicação Corporativa da Motorola, por um convite para assumir a Diretoria de Relações Institucionais da Telefônica, com responsabilidades sobre as áreas de eventos e patrocínios e também pela estratégia corporativa de relações institucionais e de relações públicas do Grupo no Brasil. Temos ainda Francisco Carvalho, diretor de Comunicação da Young & Rubicam, que está de mudança para o McDonald?s, e na área de governo a transferência de Luiz Carlos Neto Aversa da Sabesp (a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) para o Palácio dos Bandeirantes, para cuidar das áreas de marketing e propaganda do governo Alckminn, na equipe do Secretário de Comunicação, Luiz Salgado Ribeiro."

 

"Emenda da mídia pode ser votada com modificação", copyright Folha de S. Paulo, 5/12/01

"A responsabilidade pela linha editorial e pela programação dos veículos de comunicação será de brasileiros natos ou naturalizados, segundo proposta articulada pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), relator do projeto que permite a participação de capital estrangeiro nas empresas jornalísticas.

O controle do conteúdo da programação e da linha editorial por brasileiros foi exigido por partidos de oposição. O relator vai se reunir hoje pela manhã com o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), para negociar o apoio do partido ao projeto.

Na semana passada, Alves entregou ao petista um esboço do texto da proposta de emenda constitucional que altera o artigo 222 da Constituição. A intenção do relator é conquistar o apoio do PT para votar o projeto na sessão da Câmara de hoje à tarde.

Por se tratar de um projeto que modifica a Constituição, são necessárias duas votações no plenário da Câmara, antes de seu envio para o Senado. Se o projeto não for votado nesta semana, não haverá mais prazo regimental para a realização dos dois turnos na Câmara neste ano.

Segundo Pinheiro, dificilmente será fechado um acordo entre os líderes partidários para a votação do projeto na sessão de hoje. Os líderes que apóiam a proposta querem votá-la numa quarta, dia em que a presença de deputados é maior. Como se trata de uma mudança na Constituição, são necessários 308 votos favoráveis.

Desde o início do mês passado, o relator negocia ajustes no texto aprovado na comissão especial há dois anos, na tentativa de assegurar a votação na Câmara até o final do ano. Com isso, ela poderia ser votada em dois turnos no Senado no início de 2002.

A última versão abre até 30% do capital de jornais, revistas e emissoras de rádio e TV para estrangeiros. Pessoas jurídicas nacionais poderão participar de até 100% do capital de jornais, revistas e emissoras de rádio e TV. Ou seja, poderão ter o controle das empresas jornalísticas.

Todas as alterações de controle societário deverão ser informadas ao Congresso, de acordo com lei a ser votada posteriormente pelos congressistas.

Atualmente, apenas brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos podem ser proprietários de meios de comunicação. É vedada a participação de pessoa jurídica no capital social, exceto a de partido político e de sociedades cujo capital pertença exclusiva e nominalmente a brasileiros.

A participação de pessoa jurídica, cujo capital pertença exclusiva e nominalmente a brasileiros, só pode ser feita por meio de capital sem direito a voto e não pode exceder o limite de 30%."