Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Emissoras arrumam malas rumo à praia”

TV DESCE A SERRA

“Emissoras arrumam malas rumo à praia”, copyright Folha e S. Paulo, 28/12/03

“Entra ano, sai ano, o truque das emissoras para buscar audiência nas férias de verão é sempre o mesmo: mudar a programação para um cenário de praia e colocar os apresentadores de biquíni ou bermuda para tentar dar um ar descontraído às atrações.

Globo, Bandeirantes, Record, Rede TV! e MTV já estão de malas prontas rumo ao litoral, e as novas atrações ou as habituais com nova roupagem começam a aparecer logo após o Réveillon.

Na Globo, a mudança ficará com Luciano Huck, que durante o mês de janeiro apresentará o seu ?Caldeirão do Huck? de uma praia em Niterói, no Rio.

Na Record, quem muda é Adriane Galisteu, que, a partir do dia 5, terá o ?Bahia 50??, um programa diário transmitido do Píer Bahia, espaço da cantora Ivete Sangalo em Salvador. Na agenda, além de entrevistas e debates, muitos shows. O primeiro será um encontro entre Sangalo e o grupo Jota Quest.

Ao lado de Galisteu, estará o apresentador Otaviano Costa, que estava sumido da televisão desde abril, quando seu programa na emissora saiu do ar. Além de servir de âncora, ele fará reportagens sobre pontos turísticos da Bahia -o governo do Estado é um dos patrocinadores do programa- e merchandising. ?É bom estar de volta e ver que o mercado ainda confia na minha imagem?, diz Costa, que, após quase um ano na geladeira da Record, voltará a ter um programa fixo em março.

?Ainda estamos formatando o ?Impacto?, mas já sabemos que será uma revista eletrônica dominical que apresentarei ao lado de Milton Neves e Fernanda Fernandes?, conta. ?Tenho a cabeça no lugar para não ter entrado em paranóia nesse tempo que fiquei fora da TV. Toquei meus projetos, não fiquei fazendo qualquer coisa para tentar aparecer na mídia.?

Quem também vai ressurgir no verão -e por enquanto só no verão- são os gêmeos Flávio e Gustavo (ex-?Casa dos Artistas?). Eles vão fazer reportagens sobre esportes radicais na programação de verão da Bandeirantes, outra que vai se mudar para o litoral.

A ?Casa do Sol?, nome dado à propriedade alugada pela emissora em Ilhabela (litoral norte de São Paulo), terá no comando Sabrina Parlatore e Olivier Anquier, que, mesmo sem ter um programa propriamente dito, vão receber convidados e interagir com as atrações da emissora.

A MTV também se desloca para Maresias (SP), na batizada Casa da Praia. A partir do dia 5, a maioria dos programas da emissora passa a ser apresentada de lá, com atrações feitas para o verão.

Entre outras coisas, Daniela Cicarelli ganha um ?game show? no litoral, o ?Luau MTV? volta a ser gravado e o tradicional ?Rockgol? (campeonato de futebol entre bandas) vira futebol de areia e ganha outras modalidades ?de férias?, como frescobol, pingue-pongue e vôlei de praia.

A partir do dia 12, programas da Rede TV! como ?A Casa É Sua?, ?TV Fama?, ?Superpop? e ?Noite Afora? serão apresentados da praia da Enseada, no Guarujá (litoral sul de SP). Além disso, a modelo Ellen Jabour fará reportagens percorrendo praias do Rio e de São Paulo. De biquíni, claro.”

TV RECORD

“Mário Prata será o autor de nova novela da Record”, copyright Folha de S. Paulo, 28/12/03

“Sem escrever novelas há quase 18 anos, o escritor Mário Prata, 57, será o autor da trama que a Record está produzindo e passará a exibir a partir de março do ano que vem.

A novela faz parte dos planos da emissora para 2004, ano em que pretende tirar do SBT o segundo lugar de audiência no Ibope. Para isso, a Record anunciou investimentos de US$ 30 milhões e a criação de um horário para novela nacional.

?Metamorphoses?, nome provisório da história, está sendo feita em parceira com a produtora independente Casablanca, responsável pelo seriado ?A Turma do Gueto?, atualmente a maior audiência da Record.

Procurado pela Folha, Mário Prata afirmou que havia enviado uma sinopse da novela, a pedido de Tizuka Yamazaki, que vai dirigir a trama, mas que ainda não havia assinado contrato com a produtora.

No entanto Arlete Siaretta, dona da Casablanca, confirmou o nome do escritor como autor da trama. ?A novela será escrita pelo Mário Prata, com certeza. Estamos muito entusiasmados com isso?, afirmou. ?A Record nos deu carta branca e total liberdade para a produção da novela. E Prata escreverá um grande sucesso, uma novela com conteúdo.?

Farão parte ainda da equipe dirigida por Tizuka Yamazaki (?Gaijin?, ?Xuxa Popstar?) os fotógrafos Affonso Beato, que trabalhou em ?Tudo sobre Minha Mãe?, do espanhol Pedro Almodóvar, e Edgar Moura (diretor de fotografia de ?Tieta do Agreste?, dirigido por Cacá Diegues, e ?Cabra Marcado para Morrer?, de Eduardo Coutinho), além de Tânia Lamarca (?Tainá – Uma Aventura na Amazônia?) e Pedro Siaretta, que atualmente dirige ?A Turma do Gueto?.

Currículo

Longe da teledramaturgia desde que assinou ?Helena? para a extinta TV Manchete, em 1986, Prata afirma que realmente sente vontade de voltar a escrever para a televisão. ?Mas ainda é cedo para falar sobre isso.?

O escritor estreou na televisão em 1976, com a novela ?Estúpido Cupido?, da Globo, escalada para o horário das 19h. Foi um grande sucesso de audiência e a última novela exibida em preto-e-branco pela emissora -apenas os dois últimos capítulos foram exibidos em cores.

Autor de ?Buscando o seu Mindinho? e ?Minhas Tudo?, ele escreveu ainda mais sete novelas, entre elas ?Um Sonho a Mais? (1985), também da Globo. Em 1996, foi chamado pela Bandeirantes para substituir Ricardo Linhares nos últimos capítulos de ?O Campeão?, por causa da baixíssima audiência da trama.”

CLASSIFICAÇÃO / TV

“Governo revê classificação de programas”, copyright Folha de S. Paulo, 28/12/03

“Impulsionado pelas mais de 600 queixas apresentadas neste ano por telespectadores constrangidos com as cenas de sexo e violência, o governo decidiu rever os critérios para classificação dos programas de televisão.

Constituiu-se no Ministério da Justiça uma comissão para discutir as mudanças e a primeira decisão foi definir que serão fixadas regras diferenciadas para a classificação dos filmes veiculados em cinemas e a programação destinada às TVs. ?O cinema é mais fácil de administrar, porque é uma escolha. Você paga, autoriza seu filho a ir. A televisão entra em nossa casa, invade a vida das pessoas?, diz a secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, coordenadora da comissão.

No regime militar, a censura era exercida pela Polícia Federal. Hoje, cabe ao Departamento de Classificação, apêndice da pasta da Justiça, a tarefa de definir horários de veiculação de programas t
elevisivos e a faixa etária dos filmes exibidos no cinema. O trabalho é realizado por 18 pessoas, com a mesma metodologia há 11 anos. A equipe assiste às fitas, no caso do cinema, e analisa as sinopses de novelas, roteiros de programas e campanhas publicitárias.

O Ministério da Justiça publicou no ?Diário Oficial da União? de 19 de dezembro a versão preliminar de uma portaria que torna obrigatório informar, nos cartazes de divulgação, o conteúdo de filmes cuja audiência não é livre. Além disso, foram criadas duas novas faixas de classificação -para oito e dez anos.

Desde maio, em cumprimento a uma determinação judicial, a mesma equipe também assiste ao conteúdo veiculado. Verificados desvios, a emissora e o responsável pelo programa recebem uma advertência. Inicialmente, os diretores dos programas são chamados a Brasília para conversar sobre a infração, como aconteceu com Wolf Maia por conta da novela ?Kubanacan?.

Na reincidência, há notificação por escrito. Persistindo a infração, o programa pode ser reclassificado, com a transferência de sua exibição para mais tarde, penalidade imposta, por exemplo, à novela ?Mulheres Apaixonadas?. Casos considerados mais graves são levados ao Ministério Público.

Um dos campeões das queixas é o apresentador João Kléber, da Rede TV. João Kléber chegou a liderar o ranking da baixaria na TV, uma enquete elaborada por uma subcomissão da Câmara dos Deputados. O grupo, presidido pelo deputado Orlando Fantazini (PT-SP), lançou em 2002 a campanha ?Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania?, pela ética na programação da televisão.

João Kléber, depois de ser chamado a Brasília, acertou algumas mudanças em seu programa.

?Eles [Departamento de Classificação] tinham razão. A gente estava exagerando mesmo com os barracos?, diz ele.

?Além dos protestos básicos, relacionados a sexo e violência, sentimos uma demanda de homossexuais e negros que se sentem discriminados. Uma nova classificação tem de trazer esses elementos?, afirma Cláudia Chagas.

Vencida a fase de discussões, as modificações serão baixadas por portarias do Ministério da Justiça.

As mudanças chegarão também à indústria. O governo pretende regulamentar uma lei tornando obrigatório que novos aparelhos de TV tenham um dispositivo que permita programar os horários em que poderão ser ligados.”

“Reclamações levam a reelaboração de critérios”, copyright Folha de S. Paulo, 28/12/03

“A secretária nacional de Justiça, Cláudia Chagas, 40, preside a comissão que irá redefinir os critérios de classificação do conteúdo de programas televisivos e fitas de cinema. Leia abaixo trechos de entrevista concedida pela secretária à Folha.

Folha – Por que o governo decidiu rever os critérios de classificação do cinema e da televisão?

Claudia Chagas – Houve essa decisão porque as pessoas cada vez mais querem que a gente assuma uma postura de suspender o programa, de proibir, coisa que não podemos, que é ilegal. Há cartas de mães que chegam dizendo que têm vergonha de assistir à novela junto com a filha. Outras, cobram alguma providência direta do ministro [da Justiça, Márcio Thomaz Bastos], acham que ele tem que tirar o programa do ar.

Folha – Quais as principais queixas dos telespectadores?

Chagas – Sexo e violência, nesta ordem.

Folha – As emissoras não seriam capazes de, juntas, fazer uma auto-regulamentação da programação?

Chagas – Se ficar só na auto-regulamentação, o Estado se retira. As emissoras ainda não criaram suas ouvidorias para saber o que as pessoas acham do que estão assistindo. O Estado tem que fiscalizar como defesa dos interesses da sociedade. Hoje há receio de falar de qualquer forma de controle, porque surge logo a idéia de censura. Não é censura, mas também não pode ser omissão. Penso que já amadurecemos o suficiente para não ter medo de confundir isso [classificação] com censura. O Estado tem que entrar nessa questão com a família, com a sociedade.”

TELEDRAMATURGIA

“Apostas em dramaturgia reciclam idéias”, copyright Folha de S. Paulo, 28/12/03

“A Rede Globo finalizou o ano testando algumas de suas apostas em teledramaturgia para o ano. A julgar por ?A Terra dos Meninos Pelados? e ?A Diarista?, exibidos no domingo passado, não há muito com o que se animar. Por razões diferentes, ambos os programas repetem idéias e formatos que melhor estariam se já tivessem sido abandonados há tempos.

O infantil até que se inicia bem, com roteiro baseado em texto homônimo de Graciliano Ramos. A adaptação parece também acertar, mantendo traços da atmosfera do original, como o cenário de cidade pequena e a caracterização algo antiquada da escola, ao mesmo tempo em que aproxima o espectador moderno com ligeiras atualizações de linguagem. Ponto para o casting infantil, particularmente Herval Silveira, que vive Raimundo Pelado, e Gustavo Pereira, o Pedro Bento, atores crianças distantes dos maneirismos sedutores de hábito.

Mas, às tantas, na verdade logo aos primeiros minutos do primeiro episódio, começa a cantoria -e aí o negócio fica cada vez mais parecido com (mau) teatro infantil, com letras sobre o mundo da imaginação etc. De onde tiraram a idéia de que dramaturgia para criança sempre precisa ser pontuada por números musicais para manter o interesse? E, pior, porque acham que as crianças devem ser conclamadas a imaginar e fantasiar? Ora, isso é algo que eles fazem tão naturalmente quanto respiram. Os adultos fariam melhor se simplesmente entrassem no jogo, como faziam Monteiro Lobato ou Steven Spielberg -e não ficassem tentando ditar as regras.

Em ?A Diarista?, o problema é outro. O dia-a-dia de uma empregada doméstica falante e extrovertida que trabalha com pessoas diversas até que não é um mau mote para uma comédia de situação -o entrecho é aberto o suficiente para um roteirista imaginativo imaginá-las em abundância. Cláudia Rodrigues é uma comediante talentosa, de fato, e os coadjuvantes, nesse episódio piloto, Marisa Orth e Cássio Gabus Mendes, foram escolhidos a dedo.

O diabo é a maneira entre condescendente e preconceituosa de caracterizar essa figura social tão onipresente na vida da classe média. Pobre, para virar personagem de TV, tem de ser perigoso ou engraçado no nível da caricatura. De qualquer maneira, sempre deve se mostrar a distância e a condição absoluta de alteridade, como a reafirmar que ?esse pessoal não é como nós, temos de temê-los ou deles rir, para continuar a mantê-los afastados?. Assim, a Marinete de ?A Diarista? é quase almodovariana, tanto em sua ?cafonice? no modo de vestir quanto na franqueza e no
matraquear incessante com o indefectível sotaque nordestino via Rede Globo.

É pena que a teledramaturgia da Globo tenha que sobreviver sempre dos mesmos recursos.”