Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Entrevistas e mesuras

TIRANDO O CHAPÉU

O sistema oligárquico-nepótico-conjugal vigente no governo do Estado do Rio de Janeiro é, no mínimo, invulgar. Chefes de Estado que compartilham os negócios públicos com seus consortes são episódios comuns na história das monarquias e também em ditaduras de formato republicano (Argentina, Romênia, Sérvia, Filipinas).

Anthony Garotinho não terminou o seu mandato de governador do Rio, elegeu sua mulher como sucessora e agora, quatro meses depois de consagrado o caos na ex-Cidade Maravilhosa, a Senhora Garotinho converte o Senhor Garotinho em homem-forte no posto de Secretário de Segurança.

Para alguns jornais, jornalistas e chargistas a escolha foi uma piada. Para outros, foi coisa natural. No pequeno grupo dos fleumáticos está a Folha de S.Paulo, certamente interessada em mostrar ao leitorado fluminense sua isenção em matéria de costumes políticos.

Nada de novo: a mesma atitude acrítica demonstra o jornalão em outros inusitados episódios da nossa vida pública ? os casos do branqueamento político de José Sarney no governo reformista de Lula e da beatificação de ACM, por exemplo.

Tanto em artigos na página 2 como em matéria noticiosa, a Folha mostra a sua notória bravura levando a sério o secretário Garotinho. A entrevista exclusiva publicada no sábado, um furo (26/4, pág. C 4 ? e não C 1, como consta da chamada de capa) é antológica: com aquela seriedade que Deus lhe deu afirma que a culpa do poder do narcotráfico é dos usuários de drogas. A foto é impagável: no cenário rococó do palácio bagdali onde reside a consorte, entre cortinados, estofos e ouropéis, Garotinho posa para a posteridade como se a sua sucessora não fosse um desastre e ele próprio não estive às voltas com o "propinoduto".

Sobre a "máfia dos fiscais" nenhuma pergunta e, obviamente,
nenhuma resposta. Sobre a corrupção institucionalizada,
uma pergunta clara e consistente com uma escapadela de três
linhas jogando o assunto para o âmbito da corrupção
policial. E nada mais lhe foi perguntado.

E como se não bastasse, no mesmo dia, no primeiro caderno do jornalão (pág. A 8) outra entrevista com uma autoridade (esta do primeiro escalão federal) quase tão criticada como a do ex-governador e ex-candidato: o ministro da Ciência e Tecnologia.

Bacharel em filosofia e também ciências jurídicas, o ministro Roberto Amaral tem mostrado algumas dificuldades na área das ciências exatas que pretende contornar com fortes apelos ideológicos. Exemplo: para evitar uma epidemia mundial da SARS bastam palavras de ordens contra a globalização.

Os leitores certamente perceberam as dificuldades das repórteres quando Sua Excia. afirmou que é nacionalista, anti-corporativista e elas o apertam:

? É estadista ?

? Sou socialista.

Percebendo a confusão do entrevistado tentam ajudá-lo:

? É estadista ?

? Não, mas o Estado deve ter um papel forte etc.etc…

O Bat-Secretário e o Super-Estadista (ou Estatista) são do PSB.
Se vivos fossem, os fundadores do partido João Mangabeira
e Hermes Lima morreriam novamente.