Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Equívoco repetido

ISRAEL-PALESTINA

A cobertura do discurso do presidente Bush sobre a política americana no Oriente Médio foi um exemplo de como a mídia pode distorcer a realidade, comenta Andrea Levin [The Jerusalem Post, 1/7/02]. Bush declarou que "a ocupação israelense que começou em 1967 terminará através de um acordo negociado entre as partes, baseado nas resoluções 242 e 338 da ONU, com a retirada israelense a fronteiras seguras e reconhecidas". Segundo Levin, tais resoluções não estipulam que Israel deve retroceder e voltar às fronteiras existentes antes da guerra de 1967, que seriam "instáveis e indefensáveis, um convite a futuras agressões árabes". Não foi, no entanto, o que a maioria da imprensa divulgou.

Embora tenha se corrigido depois, Associated Press escreveu que o governo americano pedia a retirada total de Israel dos territórios ocupados em 1967. O mesmo foi repetido por New York Times, Atlanta Journal Constitution, Chicago Tribune, Houston Chronicle, San Francisco Chronicle, Agence France Presse, Ottawa Citizen, PBS, NBC, entre outros, afirma Levin. Os veículos que deram a notícia de forma correta seriam Baltimore Sun, Boston Globe, Orlando Sentinel e CNN.

O programa que faz Israel rir

Uma semana depois de 25 israelenses terem sido mortos em ataques de homens-bomba, o programa humorístico Only inIsrael apresentou o seguinte esquete: um casal chega
ao restaurante para jantar; quando o garçom abre o champanhe, os dois se jogam ao ch&atildatilde;o e a mulher grita: "Você está louco? O que acha que está fazendo, abrindo garrafas por aí?"

Samuel Freedman [The New York Times, 30/6/02] conta que o quadro audacioso mostra o tipo de sátira que o programa leva ao ar, e com sucesso: num país de seis milhões de habitantes, Only ins Israel tem atraído uma média de 500 mil telespectadores. "Oferecemos um escapismo importante", afirma Erez Tal, criador e uma das estrelas do show. "Quando você está apavorado, muito tenso, você tem que pegar o que assusta e usar de forma engraçada, até que cause menos medo."

RÚSSIA

Um tribunal militar da Rússia absolveu os seis acusados de matar o jornalista Dmitri Kholodov, do Moskovsky Komsomolets, que investigava corrupção nas forças armadas do país. Em 1994, o repórter recebeu telefonema anônimo avisando que haveria uma maleta com documentos incriminadores em uma estação de trem de Moscou. Quando a abriu, uma bomba o matou na hora, ferindo um colega que o acompanhava. Os promotores acreditam que a ação tenha acontecido por ordem de Pavel Grachev, ministro da defesa no começo dos anos 90, que era um dos alvos das investigações de Kholodov.

Jornalistas russos estão inconformados com a absolvição dos seis homens, dos quais cinco são militares e um diretor adjunto de empresa de segurança privada. O juiz considerou que faltaram evidências para incriminá-los. Juristas criticaram o processo, dizendo que ele perdeu objetividade por não ter sido avaliado por um júri, ficando à mercê do Exército.

A decisão, como reporta Sabrina Tavernise [The New York Times, 27/6/02], veio um dia depois que o jornalista Grigory Pasko, que também investigava as Forças Armadas, foi condenado por "traição". Ele teria fornecido segredos de Estado russos para a televisão japonesa, informação que alguns juristas consideram inventada.

REPÚBLICA TCHECA

Os telespectadores da República Tcheca puderam ver no ar a disputa de poder que envolve a maior emissora do país. O atual comandante da TV Nova apareceu em seu programa de sábado ? Chame o diretor ? dizendo que era ele quem mandava ali. "Seguimos transmitindo e, em todo caso, eu ainda sou o diretor", disse Vladimir Zelezny.

A licença de transmissão da Nova é disputada judicialmente por antigos sócios e o grupo financeiro PPF Holdings. O que eles buscam, na verdade, é o poder que a TV demonstra ter no campo político, fazendo e destruindo candidatos. Há rumores de que a estação está à beira da falência, pois deixou de pagar algumas contas e um de seus principais credores, o banco ABN Amro, declarou que está cobrando empréstimo de US$ 16 milhões.

Em 14/7 o sócio e advogado de Zelezny entrou na sede da Nova com seguranças e anunciou o estar expulsando e assumindo o comando. Iniciou-se uma disputa entre diretores e acionistas pelo controle. Duas horas depois da tentativa de "golpe", urnas abertas na república declararam primeiro-ministro o social-democrata Vladimir Spidla, derrotando o padrinho político de Zalezny, Vaclav Claus, que estava no poder. Agora, observadores especulam que os social-democratas querem dar um jeito de derrubar o diretor da Nova, que nunca deu apoio a eles.

Reportagem do New York Times [1/7/02] acrescenta que há um processo internacional contra o governo tcheco favorecendo em US$ 527 milhões o empresário Ronald Lauder, que detinha a licença do canal antes de Zelezny. Ele é herdeiro da marca de cosméticos Estée Lauder e havia encaixado a Nova em sua rede da Europa Oriental, transmitindo noticiários sensacionalistas, séries americanas e shows de strip-tease com enorme êxito de audiência, até que perdeu o controle para o atual diretor.