Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Erika Palomino

MEMÓRIA / FERNANDO DE BARROS

"Fernando de Barros vivia entre clássico e contemporâneo", copyright Folha de S. Paulo, 13/09/02

"Fernando de Barros , uma das figuras centrais do que se entende atualmente por moda brasileira, morreu anteontem de pneumonia, aos 87 anos, em São Paulo. Nunca parou de trabalhar.

Português de nascimento, Fernando era considerado o introdutor da moda masculina no Brasil, e seu principal pilar. Autor dos livros ?Elegância? (1997) e ?O Homem Casual? (1998), trabalhou por 35 anos na editora Abril, 26 como editor de moda da revista ?Playboy?. Em 1942, escrevia sobre beleza em ?O Cruzeiro?.

Fernando de Barros era um gentleman. Clássico, no sentido da palavra, contemporâneo no vestir. Suas marcas eram a camisa jeans usada -casualmente- sob o paletó e a extrema gentileza.

O amor pelas mulheres vinha em seguida: casou-se oito vezes, a primeira delas com a atriz Maria Della Costa. ?Não eram as mulheres. Era a mulher?, observa Costanza Pascolato. ?Ele me ensinou a apreciação de um gênero: o feminino?, diz a empresária e consultora de moda. Os dois trabalharam juntos a partir de 1971 na revista ?Claudia Moda? num ?casamento profissional?, como ele chamava, que durou dezesseis anos. ?O Fernando era a pessoa mais otimista que já conheci na vida. Foi ele quem me ensinou essa coisa de entusiasmo?.

?Era uma pessoa que sempre foi simples, atencioso com todos e feliz da vida?, diz o estilista de moda masculina Ricardo Almeida. O background de Fernando de Barros era de um homem de teatro e cinema, sua primeira atividade logo que chegou ao Brasil (veio a trabalho, foi a uma festa de Carnaval, apaixonou-se pelo país e acabou ficando).

Dirigiu 20 filmes na histórica produtora Vera Cruz, entre eles ?Apassionata? (1952) com a belíssima Tonia Carrero.

Essa ligação com o cinema serviu de mote para o prêmio especial recebido por Fernando de Barros da Associação Brasileira da Industria Textil (ABIT) no ano passado, quando foi homenageado no Teatro Municipal de São Paulo. Naquela noite, o jornalista foi aplaudido de pé por aqueles que fazem hoje a moda brasileira."

 

"Fernando de Barros morre aos 87 anos", copyright O Estado de S. Paulo, 12/09/02

"O jornalista, cineasta e editor de moda Fernando de Barros foi enterrado ontem, às 15 horas, no Cemitério do Morumbi. Internado por causa de uma pneumonia, ele morreu na noite de terça-feira, aos 87 anos, com uma parada respiratória. Nascido em Portugal, Barros chegou ao Brasil pelo Rio de Janeiro, em 1940. Na época, ele veio para integrar a equipe do filme Pureza, baseado na obra de José Lins do Rêgo. Depois de um mês, Barros foi atropelado e fraturou várias vértebras, nariz e cabeça. Numa entrevista concedida ao Estado, em 1997, ele contou que renasceu no Brasil, por isso decidiu ficar. ?Sempre fui guiado por acontecimentos?, argumentou.

Quando chegou a São Paulo, em 1942, acompanhado de Jorge Amado, Barros disse que não moraria ?naquela aldeia?. Não manteve a opinião. Em 1950, durante a temporada da comédia Um Deus Dormiu Lá Em Casa, com Paulo Autran e Tônia Carrero, foi convidado a ser produtor-geral da Vera Cruz e acabou mudando-se para São Paulo. Conhecedor de muitas capitais no mundo, afirmou há alguns anos que não trocaria a capital paulista por nenhuma. Adorava morar em Higienópolis e passear pela Praça Vilaboim.

Antes de tornar-se uma celebridade no mundo da moda e um dos críticos mais respeitados, Fernando de Barros fez história no cinema. Começou como claquetista, depois passou a assistente de diretor de fotografia, assistente de produção e direção, até que se tornou um dos cineastas mais atuantes da Vera Cruz, na década de 50. Produziu 4 peças e cerca de 20 filmes, alguns dirigidos por ele, como Apassionata, Caminhos do Sul, Quando a Noite Acaba, Riacho de Sangue, Lua de Mel e Amendoim, As Cariocas, Uma Certa Lucrécia e A Arte de Amar Bem. Um gentleman, um homem de fino trato, Barros foi casado com belas mulheres, entre elas Tônia Carrero (Apassionata e Tico-Tico no Fubá), Maria Della Costa (Moral em Concordata), Odete Lara (Moral e Dona Violante Miranda) e a modelo Giedre Valeika.

Barros fez cinema, aventurou-se no teatro e debruçou-se sobre o jornalismo.

Sempre elegante, ele escrevia sobre beleza para O Cruzeiro, uma das revistas mais importantes da América Latina, nos anos 40. Fez sua estréia como jornalista de moda na revista Quatro Rodas, em 1960, a convite de Luís Carta. Não parou mais. Foram 35 anos trabalhando na Editora Abril, dos quais 26 como editor de moda da Playboy.

Expert em moda masculina, Barros lançou dois livros sobre o assunto. O primeiro, Elegância – Como o Homem Deve Se Vestir (Negócio Editora), introduz o homem no universo da moda, esclarecendo as principais dúvidas e oferecendo ótimas dicas. No segundo, O Homem Casual (Editora Mandarim), ele defende a tese de que o estilo social não resistirá ao século 21, dando lugar ao estilo casual, mais confortável e não menos elegante.

Para quem quiser conhecer uma pitada do trabalho de Fernando de Barros como cineasta, o Canal Brasil, da Net/Sky, exibe hoje Moral em Concordata, às 13h30."

 

"Morre em São Paulo o jornalista de moda Fernando de Barros, aos 87", copyright Folha de S. Paulo, 12/09/02

"O jornalista Fernando de Barros, consultor de moda da revista ?Playboy? durante 26 anos, morreu na noite da última terça-feira, aos 87 anos, em São Paulo.

Até o fechamento desta edição a causa da morte não havia sido divulgada. Ele estava internado havia mais de uma semana com pneumonia e estado de saúde debilitado, no hospital São Luiz, no Morumbi.

Cinema

Nascido em Lisboa (Portugal), Barros chegou ao Brasil em 1940 e se tornou referência na moda masculina. No entanto foi o cinema que motivou sua vinda ao país. No fim da mesma década, ele trabalhou como produtor-geral dos estúdios Vera Cruz em oito produções, como ?Tico Tico no Fubá? (1952). Como jornalista, começou nos anos 70, na revista ?Quatro Rodas?. Durante mais de 35 anos, Barros trabalhou na editora Abril, onde participou da criação de diversas publicações.

Nos últimos anos, era consultor da ?Playboy? e coordenava ensaios de moda, além de também responder dúvidas no site.

Homenageado especial da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) em 2000, o jornalista publicou também dois livros de sucesso: ?Elegância: Como o Homem Deve se Vestir? (1997) e ?O Homem Casual: a Roupa do Novo Século? (1998).

No primeiro livro, o autor traz dicas de como o homem casual pode se vestir; no segundo, ele responde as dúvidas mais comuns que os homens têm sobre vestuário.

Barros, que passou por oito casamentos -o primeiro deles com a atriz Maria Della Costa-, morreu solteiro e tinha um filho, o também jornalista Fernando Valeika de Barros."