Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Espetáculo de dissimulação

Wagner Guerra (*)

 

A direita cristã no Brasil já não se contenta em usar a política com o objetivo de manipular a população, dominando apenas as escolas católicas ou evangélicas. Eles pretendem, fulminantemente, dominar a mídia. Basta ligar a televisão em determinados canais para ver o incrível poder que esses grupos estão exercendo sobre as pessoas. Em países de economia crescente, empregos sobrando e toda uma perspectiva de futuro, duvido que essa pretensão ortodoxa e alienadora sobreviva.

A sociedade moderna americana é um exemplo. Acho muito difícil essa tal idéia unificadora de quererem meter em nossas cabeças, através da mídia, um estilo de comportamento apregoado por eles de “correto”. Infelizmente há fatores mais realistas que suscitam essa unificação. Miséria, fome, desemprego, que é o grande barato no Brasil, constituem-se bases de sustentação intrínsecas às igrejas evangélicas. É por isso que elas estão em ascensão. Milhares de pessoas passam a freqüentar essas “empresas da fé” atrás de dias melhores.

Aqui mesmo no Brasil ocorre um sucesso extraordinário: as igrejas se apropriando das concessões de rádio e televisão, a opulência do grupo Edir Macedo exorcizando, em horário nobre, o dinheiro estirpado dos crédulos pecadores e, recentemente, a audácia da autodenominada “perua de Cristo”, aquela senhora do programa Renascer, que fala toda engraçada de Cristo, como se fosse uma espécie de amante dele. “Ô, meu Cristo, meu amor…”. Quase que essa mulher leva a TV Manchete para o reino de Deus.

Essas igrejas estão transformando a religião numa espécie de paraíso possível na terra. Estão oferecendo não mais felicidade post mortem, mas uma felicidade em que, se o sujeito pagar o dízimo, se obedecer a Deus, ele pode colocar aquele paletozinho e aquela gravatinha “caretas” e prometer shoppings centers e aumento de salário aos ignorantes.

“Mais felizes”

Apesar da péssima situação financeira do brasileiro, as igrejas evangélicas, principalmente as picaretas, assaltantes da miséria do povo e recolhedora de grana dos mais vulneráveis, são vistas com bons olhos. “No meio dessa desgraça é até meio aceitável pagar o dízimo. O cara pára de beber e bater na esposa, a mulher deixa de ser prostituta e os meninos começam a estudar. Isso cria uma unidade mínima, já que a comunidade brasileira é jogada às baratas pelo governo federal”, afirmam. Dessa forma, as igrejas evangélicas estão criando comunidades aglutinadas: “As pessoas se sentem mais felizes, mais assistidas”, dizem.

Embora achem a igreja evangélica ridícula, causadora de alienação, hoje em dia os sociólogos apoiam essas igrejas por organizarem socialmente as comunidades desgraçadas.

A igreja católica também não fica muito atrás. A bendita religião faz campanha contra o aborto, enquanto milhares de mulheres brasileiras morrem por ano cometendo esse pecado em recintos clandestinos. O problema da CNBB é ficar se metendo onde não é chamada. A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil insiste em nortear o Ministério da Fazenda, enviando diretrizes econômicas. Opinam em aumentar ou diminuir o dólar, se o país tem que ter “desenvolvimentismo” ou não.

Diante desse vácuo, as igrejas evangélicas se beneficiam, pois no seu plano administrativo não tem interesses na política, atrasando ainda mais o seu progresso.

(*) Estudante de Jornalismo da UnP, Natal

 

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