Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estilhaços atingem correspondentes

MÍDIA & GUERRA

Toma lá, dá cá. São essas as notas que os EUA e o Iraque vêm tocando agora que a guerra parece estar mesmo por um fio. A expulsão de correspondentes dos dois países em terras inimigas é simbolismo cabal da intolerância mútua.

Greg Palkot, repórter da Fox News, está sendo expulso do Iraque, embora três de seus técnicos poderão ficar após encontro com autoridades oficiais. A emissora foi notificada de que os quatro deveriam deixar o país. Palkot estava trabalhando no Iraque havia duas semanas. Segundo reportagem de Madison Gray para a Associated Press (15/2/03), a Fox News não sabe se autoridades do Iraque permitirão uma substituição. Sem repórter no país, a cobertura local da guerra só poderá ser feita por outros países e por agências de notícias.

Autoridades iraquianas disseram que a atitude é resultado da decisão americana de expulsar Mohammed Allawi, jornalista que cobria a ONU em Nova York para a agência oficial de notícias do Iraque. Uma fonte do governo americano que não quis se identificar disse que Allawi “se envolveu com atividades consideradas perigosas à segurança dos EUA, e tais atividades constituem um abuso de privilégio de residir no país”. Isso porque, oficialmente, a guerra ainda não começou.

À sombra da suástica

Tempos delicados requerem maior cuidado da mídia. Informação e opinião podem se confundir e fazer com que colunistas passem por porta-vozes de jornais ? o que não é verdade, embora quem tenha o privilégio de assinar uma coluna conte com a simpatia ideológica do produto vendido.

Foi com enfáticos pedidos de desculpas que o britânico London Evening Standard se dirigiu aos leitores na semana passada. O escritor e colunista A. N. Wilson pôs o jornal em saia justa ao atacar Israel e citar Michael Hoffman, que o jornal considera um “notório defensor da supremacia branca e negador do Holocausto”. “É lamentável que Hoffman ou qualquer de suas propagandas tenham sido divulgados.”

Segundo Douglas Davis, (Jerusalem Post, 13/2/03), o editorial do Standard dizia que o jornal discorda fundamentalmente das opiniões expressas por Wilson, e que o leitor sentiu-se justificadamente ofendido. Afirmou, no entanto, que “como qualquer colunista, Wilson tem direito à livre expressão”.

Não ao filho do nazismo

Com os ânimos exaltados, donos de jornais também entraram na onda de sensibilidade que assola o público. Richard Desmond, dono do Daily Express e arquiinimigo do Visconde Rothermere, afirmou que não aceita ser “segundo colocado”, deixando a liderança para um homem cujos ancestrais eram simpatizantes de Hitler. Desmond disse não permitir que o filho de alguém que admirou Hitler se beneficie dele. “Rothermere, proprietário atual do Daily Mail e do Evening Standard, é o homem cujo pai disse que Hitler estava correto ao lidar com a questão dos judeus na Alemanha e como esses mesmos planos deveriam ser replicados na Grã-Bretanha. Bem, agora tenho uma mensagem para seu filho: também tenho um plano para lidar com pessoas como você e seus sócios”, afirmou.

Desmond, de acordo com notícia de Lisa O?Carroll [The Guardian, 13/2/03], está lançando um jornal londrino gratuito, o Evening Mail, após lutar por dois anos para manter o leitorado do Daily Mail, jornal que pertence ao Daily Express, de sua propriedade. O novo jornal pretende afundar a circulação do Evening Standard e do também gratuito Metro.

Desmond disse que não é porque seu antecessor Robert Maxwell perdeu a briga contra Rothermere que ele teria o mesmo destino. O pai do visconde, Vere Rothermere, acabou destruindo o London Daily News de Maxwell em míseros cinco meses.

Boicote a jornalista israelense

O prefeito de Roma Walter Veltroni repreendeu o vice-primeiro-ministro iraquiano Tarek Aziz, cancelando o encontro agendado após Aziz se recusar a responder à pergunta de um jornalista israelense em uma coletiva de imprensa. Segunda a Reuters (16/2/03), a notificação foi feita por carta. “Sinto-me obrigado a cancelar nosso encontro por causa de sua recusa a responder a uma questão formulada por um jornalista israelense”, escreveu o prefeito.

A coletiva ocorreu na Associação de Imprensa Estrangeira após o encontro do vice-primeiro-ministro iraquiano com o papa João Paulo, no Vaticano. Por mais de meia hora, respondeu longa e atenciosamente a perguntas de mais de uma dúzia de jornalistas. No entanto, quando um correspondente do jornal israelense Maariv se levantou e perguntou se, em caso de guerra, o Iraque pretendia atacar Israel, Aziz respondeu: “Quando vim a esta coletiva, não estava em minha agenda responder a perguntas da mídia de Israel”.

A reação gerou vaias e diversos jornalistas foram embora.