Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estreitando os laços entre jornalismo e ciência

OFJOR CIÊNCIA 99

 

Mônica Macedo

 

C

omeça no dia 8 o Curso de Especialização em Jornalismo Científico da Unicamp. Precedido por poucas experiências semelhantes no Brasil, esse curso tem uma característica singular: reunirá, em sala de aula, jornalistas e cientistas. Para ser mais exata, 19 jornalistas e 21 cientistas, não só de áreas diversas – como química, biologia, ciências sociais e engenharia – como também de idades variadas, numa faixa que vai dos 21 aos 59 anos.

Trata-se de uma diversidade rara em cursos de pós-graduação, em que se pressupõe dos participantes razoável conhecimento prévio do tema e uma “linguagem” comum. Alguns apostam, inclusive, em disciplinas de nivelamento, que são ministradas antes do início das aulas como forma de recordar conteúdos e assegurar um “vocabulário básico” compartilhado.

Poderia, então, o leitor ser levado a desacreditar da proposta do Curso de Jornalismo Científico, dada a dificuldade de alunos tão distintos partilharem o mesmo conhecimento. De fato, sabemos que não é fácil conciliar idéias sequer dentro de um grupo homogêneo, que dirá em meio a repórteres, pesquisadores, professores, fotógrafos… simultaneamente.

Mas, nesse caso, a diversidade é proposital e necessária. Ao reunir profissionais de perfis tão diferentes, o curso pretende colocar em discussão aquele que é considerado um dos pontos críticos da divulgação da ciência e da tecnologia: justamente a relação entre jornalistas e cientistas. Para isso, busca romper com a postura corporativista a que geralmente estão habituados tanto uns quanto outros, fazendo-os conviver lado a lado e desenvolver atividades conjuntas. Uma das estratégias a serem implantadas é a formação de duplas de trabalho – jornalista-cientista ? em todas as disciplinas do curso. Vale ressaltar que a meta não é transformar cientistas em jornalistas ou vice-versa, mas sim fazê-los conviver e discutir abertamente suas concepções sobre ciência e jornalismo.

Levar o cientista a compreender o processo de produção da notícia e o jornalista a perceber o modo como se desenvolve a pesquisa científica e tecnológica será, por si só, um ganho considerável. Boa parte da resistência que cientistas oferecem a dar declarações à imprensa deve-se à incompreensão de necessidades básicas do jornalismo cotidiano, como rapidez da notícia, clareza das informações e linguagem coloquial. Por seu lado, poucos jornalistas revelam-se dispostos a estudar assuntos científicos e muitas vezes privilegiam a informação de maior “apelo”, menosprezando considerações sobre a complexidade do processo científico.

A diversidade de idade e perfil profissional dos alunos do curso será também uma oportunidade para reproduzir a antiga redação de jornal, em que jovens jornalistas conviviam com profissionais mais velhos e experientes, num clima de aprendizado profícuo e permanente. Uns nutrindo-se da utopia dos outros.

Para os professores, a heterogeneidade do grupo é um desafio. Entre os 40 selecionados há oito doutores, quatro mestres, quatro especialistas e três mestrandos. Dos cientistas, vários têm trabalhos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais de prestígio e participam regularmente de congressos e simpósios. Dos jornalistas, boa parte já atua na cobertura de ciência e tecnologia e em outras áreas do jornalismo especializado. Ambos estarão buscando aprimorar a reflexão sobre ciência e tecnologia e desenvolver estratégias de divulgação.

A proposta parece ter interessado. Na primeira fase, houve 145 inscrições, o que levou a um concorrido processo de seleção, incluindo redação de textos, entrevista e prova de inglês. A organização e iniciativa cabem ao Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) e Departamento de Multimeios (DMM).

Neste primeiro semestre, os alunos terão aulas de Teoria e prática do jornalismo, Ciência, tecnologia e sociedade, Linguagem: jornalismo, ciência e tecnologia e Fontes de informação em Ciência e Tecnologia. A duração total do curso é de um ano e meio. Espera-se, dada a grande demanda, que ele tenha continuidade, com uma nova edição se iniciando no segundo semestre do ano 2000. Até lá, teremos já observado os primeiros resultados da convivência entre jornalistas e cientistas e poderemos avaliar os sucessos e insucessos dessa proposta pouco convencional.

Para mais informações sobre o Curso de Especialização em Jornalismo Científico, consulte o site do Labjor: http://www.uniemp.br/labjor