Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estrela Serrano

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

"Manifesto sobre as Finanças Públicas" copyright Diário de Notícias, 18/3/02.

"O DN e o Público divulgaram no dia 12 de Fevereiro, terça-feira de Carnaval, um documento intitulado Manifesto para a Educação da República, assinado por ?mais de 1300 personalidades?, de apelo ao Presidente da República para ?a batalha inadiável da Educação?. Este documento seguiu-se a um outro ? o Manifesto sobre as Finanças Públicas ? publicado, em exclusivo, dias antes, pelo DN.

O jornal Público, fez acompanhar a publicação do Manifesto para a Educação por um texto intitulado Os métodos do ?Diário de Notícias?, no qual a direcção editorial daquele jornal afirmava que tinha ?há meses conhecimento do Manifesto (…)? e que a ?notícia lhe fora dada com embargo (…) dado que os seus promotores pretendiam recolher primeiro um número substancial de assinaturas?. O Público afirma ter ?cumprido o compromisso?, acrescentando que o dia escolhido pelos promotores do Manifesto para a sua divulgação ?em exclusivo?, nesse jornal, não era o dia de Carnaval mas sim o dia seguinte. Segundo o Público, o DN foi informado desse ?compromisso?, tendo dito que ?não tencionava respeitar a existência desse acordo de cavalheiros e que divulgaria o Manifesto nessa terça-feira?. Face à atitude do DN, o Público considerou que não lhe restava ?alternativa senão antecipar igualmente a sua divulgação?.

No dia seguinte ao da divulgação do Manifesto pelos dois jornais, o DN publica um texto intitulado Métodos de mau perdedor, onde afirma que teve conhecimento, na segunda-feira anterior, ?do Manifesto para a Educação da República, subscrito por mais de 1300 personalidades, patente num site na Internet?. ?Fizemos o nosso dever?, diz o DN.

?Tratámos o assunto em profundidade, contactámos alguns dos principais signatários, que nos prestaram depoimentos de inegável interesse, num trabalho jornalístico de qualidade gráfica e editorial, que ficou a ganhar em qualquer análise comparativa (…). Incomodámos, por isso, alguma concorrência.?

O leitor Fernando Carvalho considera que o DN não respeitou ?o embargo solicitado pelos autores do Manifesto?, o que classifica como ?uma indesculpável manifestação da ânsia de ultrapassagem da concorrência? que, em sua opinião, levou o jornal a esquecer ?o respeito devido a quem com tanta seriedade toma uma iniciativa que se deseja de enorme alcance nacional?. F. Carvalho considera que ?os cidadãos merecem uma explicação?.

O problema surgido com a publicação do citado Manifesto prende-se com práticas usadas por fontes e por jornalistas, muitas vezes, de resultados incertos e, até, contraproducentes, relativamente aos objectivos dos seus promotores: essas práticas são, em primeiro lugar, a libertação ? condicionada através de embargo ? de informação considerada importante; em segundo lugar, a concessão de exclusividade a um órgão de informação; e em terceiro lugar, as ?fugas? de informação ? premeditadas ou involuntárias ?, da responsabilidade das fontes.

É óbvio que uma fonte tem o direito de gerir a informação que produz da maneira que considerar mais útil aos seus objectivos. Mas, para ter sucesso, deverá acautelar alguns aspectos, entre os quais, assegurar-se de que não existirão ?fugas? de informação por parte de elementos com acesso aos materiais que se pretende divulgar, em exclusivo, a um determinado jornal. Mas, também o jornal a quem é concedido um exclusivo, e pedido um embargo, deverá prever e acautelar os riscos da ?operação?, alertando, por exemplo, a fonte para a impossibilidade de manter em sigilo um documento conhecido por um grande número de pessoas. Ora, perante um documento em processo de recolha de assinaturas, como era o caso do Manifesto para a Educação, cujo número, no dia da publicação, ia já em mais de 1300, só excepcionalmente se poderia esperar que não houvesse uma ?fuga?, do todo ou de parte, do seu conteúdo. Acresce que, segundo afirma o DN, o documento se encontrava na Internet, o que torna ainda mais difícil de impedir a ocorrência de ?furos? ao embargo e à exclusividade.

Por outro lado, é certo que, apesar da normal concorrência entre dois jornais que disputam ?segmentos de mercado? muito próximos, existem princípios éticos e regras de convivência que não podem ser ultrapassados. A concorrência é legítima e saudável, mas tem regras, entre as quais se encontra a da lealdade entre os concorrentes. Contudo, no caso presente, segundo afirma o director, o DN teve conhecimento do Manifesto pelos seus próprios meios, o que o liberta de qualquer compromisso, relativamente ao embargo combinado entre os promotores e outro jornal.

Importa, contudo, anotar que, independentemente do incómodo que a divulgação antecipada do Manifesto provocou nos seus promotores e no jornal a quem tinha sido prometido o exclusivo, a divulgação do Manifesto não foi prejudicada, já que ambos os jornais lhe dedicaram a capa desse dia, beneficiando assim de uma maior divulgação. Os leitores foram, neste caso, os principais ?vencedores? de uma pequena ?batalha? das muitas travadas nos bastidores da informação. Se não fosse a troca pública de acusações entre os dois jornais, os leitores nem se teriam apercebido da natural frustração do jornal que perdeu o exclusivo e dos promotores que planearam a divulgação para o dia seguinte ao Carnaval.

Bloco-notas

Correio ? A provedora penitencia-se pelo facto de não conseguir dar resposta pontual, na sua coluna, a todos os leitores. Os mais prejudicados são os que usam o correio ?normal?, o que contribui para criar, também neste âmbito, uma nova classe de ?excluídos? das novas tecnologias da informação. De facto, as mensagens enviadas por correio electrónico, apesar de serem em número incomparavelmente mais elevado do que as chegadas por outra via, acabam por ter um tratamento mais rápido, o que não é, reconheça-se, de todo, justo. Acontece, por outro lado, que grande número de questões não é do âmbito da provedora, embora as receba com interesse e as encaminhe para onde devem ir. Sistematizando as questões e os perfis dos leitores que as colocam, vejamos alguns casos.

Reflexões ? Há leitores que gostam de reflectir sobre os media e o jornalismo. Pedro Manuel Torres de Castro, enviou há alguns meses, à provedora, uma série de interessantes reflexões sobre questões relacionadas com o exercício do jornalismo, chamando a atenção para o uso de determinadas expressões linguísticas em títulos dos jornais, muitas vezes carregadas de conotações, nomeadamente nas notícias sobre criminalidade. Insurge-se, também, contra o abuso de adjectivação nas notícias e preconiza um jornalismo mais isento e objectivo. Outro leitor, Mário Pinto, coloca questões como as ?ligações entre partidos e jornalistas; entre partidos e clubes de futebol; entre Governo e partido que o apoia; entre partidos e grupos de interesses vários?, assuntos que considera deverem merecer atenção.

Cartas ? Outros leitores ? estes em maior número que os da categoria anterior ? protestam por não verem publicadas as cartas que dirigem à secção Meu caro DN. Algumas dessas cartas são comentários a artigos de opinião de colaboradores do DN, outras usam um estilo de linguagem que não se coaduna com o estatuto editorial do DN. Mas, muitas têm sido publicadas nessa secção, embora nem sempre com a brevidade desejada pelos seus autores, a não ser que o DN decidisse alargar o espaço dedicado ao correio dos leitores. A provedora desconhece dados estatísticos sobre índices de leitura dessas páginas, mas arrisca dizer que não serão insignificantes. Neste grupo de leitores está Américo Ponces, que afirma que ?o direito de selecção e resumo? das cartas, invocado pelo DN, ?se parece mais com um exercício de lotaria (…) do que com uma selecção razoável ou uma questão de espaço e clareza?. Outro leitor, José Manuel Franco Tavares, enviou à provedora quatro cópias de cartas dirigidas ao DN, das quais apenas uma foi acolhida pela secção Meu caro DN. Desiludido com o destino das suas cartas, o leitor pede à provedora que aborde um ?tema que gostaria de ver discutido?, que consiste na obrigação de os jornalistas ?declararem a origem dos proventos que auferem?, a fim de se verificar se existem ?conflitos de interesses?. A ponderar."