Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estrela Serrano

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

"Jornalistas devem acautelar créditos da profissão", copyright Diário de Notícias, 21/10/02.

"Entre os erros que mais irritam os leitores encontram-se imprecisões relativas a dados sobre pessoas ou instituições mencionadas nas notícias. Os leitores reagem mal face a esses casos, não poupando o jornal nem os seus jornalistas. Muitas vezes, têm razão, outras vezes, não. Contudo, independentemente do tom, mais ou menos incisivo, dessas críticas, elas resultam sempre úteis para o jornal, não apenas pela oportunidade que criam de uma reflexão interna, como pela possibilidade de reparar, publicamente, situações eventualmente injustas.

A provedora traz hoje dois casos que motivaram outros tantos protestos, diferentes entre si no tom e na substância, mas ambos denotando desagrado e alguma desilusão face ao trabalho dos jornalistas. O primeiro, diz respeito a uma notícia do DN, publicada em 31 de Agosto passado, sobre o acidente com um autocarro português, em Cáceres. O outro incide sobre uma notícia publicada em 23 de Setembro sobre as vagas no ensino superior. Vejamos cada um deles:

H. H. Martins escreve sobre o acidente ocorrido em Cáceres, em 30 de Agosto. Apresentando-se como ?motorista de autocarros?, afirma não poder ?deixar passar em branco tantas asneiras? que leu, viu e ouviu sobre o referido acidente. Aponta o facto de, no DN, o relato do acidente ?envolvendo um autocarro da empresa Barraqueiro? ser ?ilustrado com um fotografia onde se vê um autocarro da Frota Azul?, o que, a seu ver, ?não serviu senão para colocar os familiares dos motoristas da Frota Azul em desespero?. Refere, igualmente, imprecisões relativas à identificação do local em que ocorreu o acidente e a dados referentes às vítimas, tais como idades e anos de trabalho na empresa. Citando as informações publicadas na reportagem do DN, H. Martins encontrou várias incongruências, tais como afirmar-se na reportagem, que o motorista que faleceu ?tinha 58 anos de idade e 21 anos de casa?, enquanto num ?registo?, na mesma página, se apresentam dados diferentes relativamente aos dois motoristas. Segundo esses dados, a vítima mortal é o motorista com 30 anos de idade, embora o nome (Manuel Nunes Alves) seja o da mesma pessoa que na reportagem é referida como tendo 58 anos. Face a essas discrepâncias, o leitor afirma não entender ?como é que o sr. Manuel Nunes Alves, com 30 anos, já tinha 21 anos de motorista?. Afirma, ainda, que ?quando tragédias destas acontecem, todos os meios de comunicação noticiam as mais ridículas estatísticas e procuram nos arquivos as comparações mais absurdas?. Afirmando não pretender ?denegrir a imagem dos jornalistas?, pergunta, contudo, se ?será muito pedir-lhes que verifiquem muito bem o que escrevem ou dizem?. O autor da reportagem, jornalista Roberto Dores, afirma que ?em nenhum momento a reportagem do DN utiliza expressões que indiciem termos especulativos? e que ?tudo foi feito com base nas fontes que são devidamente citadas na peça?. Acrescenta que ?a própria empresa não se furtou ao diálogo com o DN, mesmo perante a consternação da tragédia rodoviária?. Quanto à imprecisão da idade da vítima mortal, o jornalista afirma não ser da sua responsabilidade e que ?na peça geral, a idade e os anos de serviço estão correctos?.

O segundo caso refere-se a uma notícia sobre o preenchimento das vagas do ensino superior, na qual se afirmava que a Universidade do Porto foi este ano, pela segunda vez consecutiva, a instituição universitária portuguesa que conseguiu preencher o maior número de vagas para o presente ano lectivo. O leitor A. F. S. afirma que essa notícia ?aparece também no Correio da Manhã, pelo que se presume ter partido da mesma fonte? e recorda que, na notícia do dia anterior, o próprio DN apresentava uma lista segundo a qual ?apenas uma instituição de ensino superior universitário conseguiu preencher, logo na primeira fase, (?) todas as vagas que lhe foram atribuídas e com notas mínimas de uma forma geral superiores às das licenciaturas homólogas de outras instituições?. Essa instituição era o ISCTE, afirma o leitor, acrescentando que o mesmo aconteceu ?em anos transactos?. Pergunta, pois, se ?não seria altura de se chamar, também, a atenção pública para o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo ISCTE?.

A provedora reconhece a pertinência das observações feitas pelos dois leitores. Trata-se, em ambos os casos, de distracções dos responsáveis da Redacção, a quem compete, em última instância, analisar o conjunto dos textos a publicar. No primeiro caso, como refere o jornalista Roberto Dores, o ?registo? donde constavam os dados errados, publicado ao lado do seu texto, não é da sua responsabilidade. Foi, possivelmente, acrescentado por alguém, na Redacção, que não teve o cuidado de ler a sua peça. No segundo, a notícia do DN não é assinada, verificando-se pela sua leitura que se trata de um ?despacho? da agência Lusa (daí a sua publicação também noutros jornais). Uma vez mais, o DN não prestou suficiente atenção ao texto (neste caso, da Lusa), confrontando-o, por exemplo, com os seus próprios dados. A publicação na rubrica Meu caro DN (4/10) de uma carta do vice-presidente do ISCTE, corrigindo a informação, não compensa o erro praticado. Compete às hierarquias da Redacção assegurar a coerência e a correcção das informações publicadas. A pressão do tempo que impende sobre os jornalistas não justifica este tipo de lapsos. "