Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estrela Serrano

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

"Afirmar e demonstrar", copyright Diário de Notícias, 13/7/03

"A União dos Editores Portugueses (UEP) protestou contra a manchete do DN, de 8 de Junho ? Manuais escolares sobem 15 a 20%. Pergunta a UEP: "Afinal em que ficamos: sobem 15, ou (…) 20, ou 16 (…), ou 19,5%, ou outro número qualquer?" e acrescenta que "a definição do preço dos livros não se move por estados de humor ou de espírito, mas antes pela relação entre o preço actual e o preço passado, que (…) tem que ser traduzido num número (num só número) e nunca num intervalo de variação, seja ele qual for".

Diz a UEP que "a adenda à Convenção de Preços entre a APEL e o Estado", mencionada pelo DN, "fixa o preço máximo dos livros para o 1?. ano de escolaridade em 6,3 euros (para 3 disciplinas) e 5,8 euros" (para uma), "que são os mesmos que os editores escolares associados da UEP irão praticar no próximo ano lectivo".

Por outro lado, a UEP afirma que também constam da notícia factos extraídos de um estudo da Direcção-Geral do Comércio e Concorrência (DGCC) que "não deixam ninguém mentir". Nesse estudo, "foi apurado, quanto aos preços do conjunto dos manuais relativamente ao ano em curso, que o preço médio dos manuais do 1.? ano era de 22,8 euros". "Feitas as contas" aos valores dos manuais para o próximo ano lectivo, a UEP conclui que "a quantia a pagar pelas famílias traduz um aumento de 11,4 % (?) bem longe dos 15 a 20% noticiados pelo DN". Segundo a UEP, "na própria notícia a jornalista consegue desdizer-se quanto ao material que recolheu".

A UEP afirma, ainda, que este é o terceiro trabalho jornalístico do DN "com direito a título de primeira página desde que os manuais escolares entraram em fase de adopção nas escolas (…), o primeiro sobre a actividade de divulgação dos manuais escolares, o segundo sobre erros detectados num livro do 4.? ano de escolaridade, que de novo nada tinha". Em sua opinião, "tais trabalhos configuram um carácter sensacionalista", sendo que a notícia do dia 8 "tem mais de mentira do que de sensacionalismo".

A autora da notícia, jornalista Elsa Costa e Silva, responde que "o que o DN escreve é que a generalidade dos livros (e não a sua média) vai aumentar entre 15 a 20%". Segundo a jornalista, "analisando os dados da DGCC, vemos que a maioria dos livros se situa perto dos 5,50 euros", pelo que "entre esse valor e 6,30 o aumento é de cerca de 15%". A jornalista remete para a sua notícia de 9/6, no DN, onde refere que "o próprio ministério admite que o aumento, em relação aos cinco manuais mais adoptados em 2002, é de 14%". Segundo os seus cálculos, assumindo que todos os livros terão o valor de 6,30 euros (e não os 5,50 da maioria dos livros adoptados em 2002) "o patamar mínimo que os pais poderão pagar vai crescer 20% face a 2002". Reconhece, contudo, que "quanto ao aumento médio (que contabiliza todos os manuais) (…) é efectivamente de 11,4%". Acrescenta que "o que o DN faz é tentar mostrar que realidades se escondem por detrás de uma média".

Os leitores estarão certamente confundidos com a exuberância de números e percentagens apresentados por ambas as partes. Mas o que é mais grave é que poderão não ter chegado a nenhuma conclusão sobre qual é, afinal, o aumento dos manuais escolares do 1.? ano de escolaridade no próximo ano lectivo. Porque era esse o tema da manchete do DN do dia 8 de Junho ? Manuais escolares sobem 15 a 20%, cujo antetítulo ? "Primeiro ano de escolaridade" ? não deixava dúvidas de que era aos manuais do 1.? ano que a manchete se referia. Trata-se, pois, de saber se no desenvolvimento da notícia fica provado que o preço vai aumentar "15 a 20%", como referia o título.

Uma primeira conclusão impõe-se desde logo: invocando os mesmos dados (da DGCC), a UEP, a jornalista e o ministério chegam a conclusões diferentes: a primeira diz que o aumento se situa em 11,4%, a jornalista mantém os 15 a 20% e o ministério considera que "dificilmente poderão existir acréscimos médios superiores a 14%" (conforme notícia do dia seguinte ? 9/6).

Vejamos, contudo, o essencial da questão: o preço dos manuais escolares é um assunto de indiscutível interesse público, abrangendo grande número de cidadãos, não apenas pais de crianças em idade escolar mas também professores, editores, autores, enfim, trata-se de um tema que cruza "faixas" diversas da sociedade. O DN assim o entendeu também, ao puxar para manchete o trabalho da sua jornalista. Os primeiros destinatários da notícia ? os pais das crianças que vão entrar no 1.? ano ? reagiram ao aumento de 15 a 20% anunciado na manchete do dia 8 com "grande preocupação" (como refere a própria notícia). Contudo, os dados mencionados na notícia não são suficientes para extrair a conclusão expressa na manchete.

Por outro lado, a intenção declarada pela jornalista de "tentar mostrar que realidades se escondem por detrás de uma média" necessitaria de uma exposição mais clara e de uma interpretação menos sofisticada dos dados que disponibiliza aos leitores.

Pode ser que o aumento dos manuais seja o que o DN anuncia. Porém, a sua notícia não o prova. Ora, os leitores esperam, pelo menos, que os títulos não afirmem o que não é demonstrado no texto.

BLOCO-NOTAS

Tem a palavra o leitor

A secção "Meu caro DN" é uma das que mais prendem a atenção dos leitores que gostam de interagir com o jornal. Muitos dos que escrevem não ficam, todavia, totalmente satisfeitos com os excertos escolhidos pelo DN para publicação, embora as regras sejam anunciadas diariamente na respectiva página e não seja possível publicar todas as cartas com a brevidade que os leitores desejam. Contudo, deve assinalar-se que o DN faz um esforço para que a publicação seja o mais rápida possível. Vejamos um caso de um leitor que ficou descontente.

Mudança do título

O leitor José Noribal Cota Vieira enviou à provedora o texto integral da carta que dirigiu ao "Meu caro DN", sobre a transmissão directa da conferência de imprensa de Fátima Felgueiras "nos três principais canais de televisão", a qual foi publicada quase na íntegra, na referida secção, no passado dia 17. Contudo, o DN atribuiu- -lhe o título "A corrida da TV às audiências por Felgueiras", em vez do título "O crime compensa" que o leitor lhe dera. O último parágrafo foi igualmente omitido. O leitor afirma que não consegue "descortinar os motivos que terão levado à mudança do título" (que ficou incompreensível), perguntando se foram "razões de espaço ou de clareza".

O leitor condena

Eis o parágrafo não publicado que o leitor considera importante para se compreender o seu pensamento: "Será que a moda vai pegar e que todo e qualquer cidadão que tenha um problema com a justiça e consiga sair do País vai ter a mesma cobertura mediática que teve a senhora ex-presidente? Condeno o procedimento da foragida à justiça que pretende o estatuto de refugiada política. Mas condeno muito mais o procedimento de caça às audiências a todo o custo, desempenhado pelos três canais de televisão, procedimento levado a um extremo perverso e doentio por parte do canal 1 da RTP".

Dia da Criança

Mário Serra Pereira, "leitor diário do DN" escreveu à provedora a propósito do suplemento "Terra do Nunca" publicado aos domingos na revista Notícias Magazine. O leitor estranhou a mensagem que o n.? 327 desse suplemento fez passar para as crianças, ao escrever: "Esquece os TPC (trabalhos para casa) porque hoje é Dia da Criança." Diz o leitor: "Como pai e educador não posso deixar de sentir que esta mensagem está profundamente errada" pelas seguintes razões: 1) Não é por ser Dia da Criança que se devem esquecer os deveres; 2) Sendo o suplemento publicado ao domingo, se a criança deixou os deveres para esse dia poderá revelar já algum menosprezo pelos ditos deveres. O leitor acrescenta que com alguma criatividade haveria muitas "frases " que poderiam ter sido escolhidas.

Considera "irónico" que, por um lado "se veicule este tipo de mensagens" e, por outro, "os jornalistas constatem o insucesso escolar e o abandono precoce da escola"."