Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

ET baixou nas escolas de Comunicação

JORNALISMO EMPRESARIAL

Aurélio Galvão (*)

Numa entrevista hipotética, perguntado como faz para motivar os jogadores,
o técnico da seleção pentacampeã de
futebol, Luiz Felipe Scolari, responde: "Eles são naturalmente
motivados; meu trabalho é mantê-los assim."

Pensei nisso após uma conversa com um amigo advogado. Ele falava das perspectivas dos formandos de Direito numa das faculdades particulares mais tradicionais de Brasília: "De uma turma de 60 alunos, quatro vão advogar; 12, mais ou menos, vão tentar carreiras no serviço público (procuradores, juízes etc.)".

Considerando que o curso de Direito é um dos que têm menor evasão no país, perguntei-me: e os outros 44? Perguntei-me também como seria essa questão nas faculdades de Comunicação. O que um estudante de Jornalismo vai encontrar na faculdade depois de passar no vestibular? Que expectativa pode ter um aluno ao entrar na faculdade, depois de vencer várias barreiras nos ensinos Fundamental e Médio, como dificuldades econômicas, de aprendizagem, o contexto da violência e, às vezes, até com alimentação inadequada e a necessidade de trabalhar para se sustentar?

Ele vai encontrar a maioria das faculdades de Comunicação atrasadas 30 anos no tempo, porque o currículo hoje foca, basicamente, em sua parte específica, disciplinas sobre linguagem jornalística em três meios de comunicação: TV, rádio e jornais impressos. Não desmereço a importância desses conteúdos, mas é muito pouco. Um alienígena que visitasse as faculdades hoje e conhecesse o currículo diria: "Ah, então a maioria dos alunos vai trabalhar nas grandes redações".

O jornalismo empresarial, por exemplo, não está no currículo. Muitos estudantes querem compreender o fenômeno da comunicação empresarial, mas encontram poucas referências sobre o tema. Nas bibliotecas há uma ou outra obra. Na internet, onde se acha tudo com certa facilidade, a mesma frustração.

Livros de auxílio

Não se acha porque não existe mesmo. O meio acadêmico, que supõe-se dedicado a pensar (afinal, o que diferenciaria um curso de Jornalismo de uma oficina com aulas meramente práticas?), ignora o tema. Nada de pesquisas, nada de cursos de extensão, nenhuma disciplina aborda especificamente o jornalismo empresarial. Há belíssimos trabalhos sobre TV, sobre rádio, sobre jornalismo impresso. Mas, sobre jornalismo empresarial, a produção é desprezível.

Fico me perguntando por que ainda não pipocaram aqui e acolá agências juniores de jornalismo, experiências-piloto para ensinar aos estudantes os rudimentos da comunicação empresarial, e do próprio jornalismo, em laboratório vivo, nas empresas ou instituições de cada cidade. O diferencial do jornalismo empresarial, do ponto de vista do profissional que trabalha na área, é a visão empreendedora. As técnicas são as mesmas do jornalismo, mas o jornalismo empresarial respira as inter-relações entre técnica jornalística e administração de um negócio, o seu próprio e o do cliente. Se até para calcular o preço do serviço temos dificuldade é porque há muito a amadurecer.

Estamos na infância do jornalismo empresarial. Faltaria interesse dos empresários em contratar um serviço que vai lhes trazer mais visibilidade na sociedade, que vai estreitar o relacionamento com seus clientes atuais ou potenciais? Certamente não. O desejo do desenvolvimento da comunicação é inerente ao ser humano.

Desconheço literatura específica de jornalismo empresarial. Contudo, gostaria de indicar aos que concluem o curso de graduação algumas obras que podem ser úteis na preparação de uma monografia. Os livros estão listadas em ordem decrescente de importância, segundo meu exclusivo critério pessoal.


* Quem tem medo de ser notícia?, de Marilene Lopes, Makron Books, São Paulo, 2000.

* Manual da qualidade em projetos de comunicação, de Fábio França e Sidinéia Gomes Freitas, Pioneira, São Paulo, 1997.

* Seja o seu próprio relações públicas, de Bill Penn. Ediouro, Rio de Janeiro, 1995.

* Quem tem medo da imprensa? Como e quando falar com jornalistas. Guia básico de mídia training, de Regina Villela. Editora Campus, Rio de Janeiro, 1998.


Sobre como administrar negócios, inclusive o da comunicação, recomendo algumas leituras que considero essenciais:


* A busca do uau!, de Tom Peters, Harbra, São Paulo, 1997.

* Bom senso em marketing direto, de Drayton Bird, Makron Books, São Paulo, 2000.

* A lei do triunfo, de Napoleão Hill. José Olympio, Rio de Janeiro, 2001.


(*) Jornalista. Site pessoal: <www.aureliogalvao.hpg.com.br>