Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Etienne Jacintho

REALITY SHOWS

"Kléber quer seguir carreira na tevê", copyright O Estado de S. Paulo, 04/04/02

"A final meio morna de Big Brother Brasil rendeu à Rede Globo uma média de 59 pontos no Ibope. Com a audiência ancorada na novela O Clone, o reality show chegou a alcançar 64 pontos. Segundo o Ibope, 76% dos televisores estavam ligados na Globo. Os dados são referentes à Grande São Paulo.

O grande vencedor da noite, que embolsou R$ 500 mil, foi o dançarino e vendedor de coco Kléber de Paula, de 24 anos, o Bambam. A modelo Vanessa ficou em segundo lugar e recebeu R$ 30 mil e uma passagem para Fernando de Noronha (PE). André, o terceiro colocado, além de engordar sua conta em R$ 20 mil e receber uma viagem para Costa do Sauípe (BA), também assinou contrato com a gravadora Som Livre, da Globo. Os seis primeiros colocados ganharam um carro.

Na platéia do BBB estavam parentes e amigos dos três finalistas e os nove eliminados do programa. Os vencedores foram definidos pelo público, em votação pela Internet e por telefone. Foram 68% de votos para Kléber, 21% para Vanessa e 11% para André. A Rede Globo não divulga o total de votos recebidos.

Após uma comemoração rápida com a platéia do BBB, no Rio, Kléber embarcou num helicóptero, pela primeira vez na vida, e voou para São Paulo. O ?big brother? chegou aos estúdios da Globo, para ser entrevistado no Programa do Jô, na madrugada de ontem. Ele conversou durante 15 minutos com Jô e fez o auditório dançar ao som de axé. Depois do programa, o vencedor concedeu uma entrevista coletiva no estúdio global.

Kléber, mesmo tonto com a repercussão do BBB, não se sentiu intimidado por Jô Soares. Na hora de encarar os jornalistas que, às 3 horas de ontem, o bombardearam com perguntas, Kléber mostrou-se um pouco confuso. No momento, ele só pensa em ?pisar no Planeta?, comprar um apartamento e dar um mergulho no mar de Copacabana, no Rio. Bambam nunca pensou que poderia vencer, mas já formulou sua tese de campeão. ?Ganhei por causa do meu jeito de ser?, comenta. ?O Brasil e o mundo se identificaram comigo porque eu sou o Bambam.?

Kléber quer seguir carreira na tevê, o que não deverá ser muito difícil. O ?big brother? já participou de especiais da Xuxa, tem contato com Marlene Mattos, já circulou nos bastidores do Domingão do Faustão e só entrou no reality show da Globo porque ?colegas? fizeram sua inscrição. Quanto a essas coincidências, Bambam fala: ?Faz parte.? Com ótimas perspectivas para ingressar no mundo artístico, ele não pensa em posar nu. ?Quando eu não achava que ganharia os R$ 500 mil, até pensei em fazer isso, mas agora é hora de me valorizar um pouquinho?, afirma.

Kléber abandonou Maria Eugênia no Rio. A boneca servia de consolo para os momentos difíceis. Na verdade, ele quer substituí-la pela Xaiane, com quem teve um affair na casa. ?Ela é um caso à parte?, desconversa. Kléber se diz acostumado com a fama por causa de sua experiência de palco nos shows que fazia em Porto Seguro. Agora só falta manter a popularidade, porque a fama de burro Bambam já perdeu. ?Sou humano e tenho o direito de me confundir?, justifica o dançarino que tem colegial completo."

"?BBB? acaba, mas febre do ?reality? continua", copyright Folha de S. Paulo, 02/04/02

"?Big Brother Brasil? termina hoje à noite deixando na TV duas certezas. Primeiro: é preciso mais que uma grande sacada para tirar da Globo a liderança de audiência. Segundo: os ?reality shows? ainda têm muito fôlego no Brasil.

O programa, que começou desacreditado dentro da própria emissora, tinha nas costas o peso de anular o efeito trágico causado na Globo por ?Casa dos Artistas? (SBT), um dos maiores fenômenos da história do Ibope, que deixou o ?Fantástico? em segundo lugar pela primeira vez.

E a metralhadora giratória para emplacar o ?reality show? -internet, TV paga, rádio, jornais e outros programas- acertou o alvo: ?BBB? teve média de 43 pontos às terças-feiras (principal edição). Mesmo aos domingos, filé mignon de Silvio Santos, a atração da Globo não foi mal, com 29 de média. ?Casa? está com 35, em queda (cada ponto equivale a 47 mil domicílios na Grande SP). Mas anteontem, na eliminação do último candidato, ?BBB? chegou a 36 contra 11 do SBT.

Quem sai aliviado desta empreitada é J.B. de Oliveira, o Boninho, diretor de ?BBB?. Ele assumiu o comando um mês antes da estréia, no auge da crise causada por ?Casa?. A Globo, que tinha planos de colocar ?Big Brother? no ar só no segundo semestre, antecipou às pressas para 29 de janeiro. Foi um investimento de R$ 25 milhões, o maior da emissora em um projeto, e o fracasso seria o caos.

?A gente estava completamente atordoado. Tinha acabado de voltar do ?No Limite 3?, tido a responsabilidade de melhorar a audiência do programa que havia sido ruim?, disse Boninho, em entrevista à Folha, sábado, nos bastidores de ?BBB?, no Rio.

?O ?Big Brother? começou desacreditado por todo mundo. A gente foi bombardeado pela imprensa por causa da história das inscrições [a Globo divulgou que os participantes seriam escolhidos por inscrição na internet, mas a maioria do elenco foi selecionada por indicação de produtores?, pelo público, que se sentiu subutilizado. E, internamente, a Globo não acreditava muito no projeto.?

Mas, 15 dias após a estréia, a Globo definiu os horários que ?BBB? teria na programação, e o programa começou a crescer no Ibope. Com a calmaria veio à tona outro estresse: era preciso usar o ?reality? para alavancar a audiência do Faustão e, principalmente, do ?Fantástico?, que perdera a liderança para o SBT com ?Casa?.

Foi outra estratégia que, aliada à inconstância de ?Casa 2?, deu certo: anteontem, Faustão bateu Gugu, e o ?Fantástico? deu 31 pontos de média contra 26 do SBT.

Boninho diz que percebeu que o jogo contra ?Casa 2? estava ganho logo que o ?reality? do SBT estreou, em 17 de fevereiro. ?Venho de uma cultura de TV que proíbe mentir ao telespectador. Na estréia, Silvio mentiu. Fez um esquema como se fosse selecionar o elenco ao vivo e no final disse que era armação. E também tirou do público o poder de eliminação.?

E, como não poderia deixar de ser, Silvio Santos já anunciou mudanças de regras para ?Casa 3?, prevista para ir ao ar assim que acabar a segunda edição. Irá confinar seis artistas com seis fãs.

?BBB 2? também está no forno com novidades. O novo embate na guerra de audiência é um indício de uma previsão de Boninho: ??Reality shows? chegaram para ficar. A audiência e o formato devem mudar, mas sempre terão seu espaço na TV?. Pelo visto, ou o telespectador vira fã do gênero ou investe em um DVD. Porque, se a Globo acredita nisso, nem a TV paga deve ficar livre da febre."

 

"Excesso de produção anula emoção da final,", copyright Folha de S. Paulo, 03/04/02

"?Reality show? é interação ao vivo, pelo telefone, no palco, na casa, entre apresentador, espectadores, e personagens do drama. Ontem os participantes na casa assistiram ao programa ao vivo. O batimento cardíaco dos finalistas foi monitorado, integrando até o corpo de cada um dos concorrentes nessa corrente.

A mãe de André e a avó de Vanessa transmitiram tranquilidade na torcida. Kléber chorou com a mãe. Mas a emoção da expectativa do resultado final foi cortada: clipes do início do programa, perfis de cada um dos concorrentes, pedaços ?frios? que cortam a espontaneidade, que é seu maior apelo.

O ?Big Brother Brasil? cumpriu a função de restabelecer, mais uma vez e ainda que temporariamente, o domínio da Globo. Mas esteve longe de provocar o frisson da primeira versão de ?Casa dos Artistas?, ou a polêmica gerada em países como Suécia ou Portugal.

O ?reality show? veio para ficar. Não pelo artificialismo das gincanas mas pela possibilidade de conexão que ele oferece. O desafio para os criadores é pensar estruturas estimulantes, para além do dinheiro, da fofoca e das eliminações. E o espírito de solidariedade dos concorrentes do ?BBB? é sugestivo."