Eu também quero ser juiz

Eu também quero ser juiz. Afinal, a justiça é um direito que a Constituição assegura a todos os brasileiros indistintamente, sem mencionar nada sobre exigência de qualquer bacharelado. Mas, se menciona, ignore-se: existe o direito ao trabalho, e eu quero trabalhar como juiz. Existe o direito de livre expressão, e eu quero me expressar por meio de sentenças judiciais. Existe o direito de ir e vir, e eu quero transitar pela esfera forense sem dar satisfação a ninguém.

Eu também gostaria que a regulamentação da profissão de jornalista não fosse parte do chamado "entulho autoritário", e talvez não seja. Talvez seja a parte boa desse entulho. Infelizmente, se o diploma de jornalista é resquício do passado, que dizer da toga dos juízes, do linguajar jurídico, dos códigos processuais que cercam esses profissionais da aura sagrada que tanto prezam? Por certo são o presente e o futuro da Justiça ? enquanto no circo o verdadeiro talento do palhaço dispensa até maquiagem.

Eu, finalmente, gostaria que o ofício do jornalismo fosse de fato potencialmente incapaz de pôr em risco a vida de alguém. Que fosse inócuo, até sedativo. Que pudesse ser exercido por crianças, inocentemente, como quando elas constroem castelos de areia ou receitam remédios para bonecas. Aliás, eu gostaria mesmo é que a engenharia, a medicina, a própria vida não fossem tão complicadas.

Nesse mundo ideal, em que bastaria uma "formação cultural sólida e diversificada" para ser jornalista, realmente não seriam necessários sindicatos para fiscalizar o mercado de trabalho, como quer a doutora Carla. Também não seriam necessários jornalistas, nem juízes. O senhor André não precisaria mover ações públicas, a serviço de sabe-se lá quais interesses.

Enfim, seria um mundo sem malícia, portanto sem injustiça. Daí, sem notícia ? tudo que a juíza substituta da 16? Vara Federal de São Paulo aspira a ser.