Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eugênio Bucci

REGIONALISMO NA GLOBO

"Sotaques desterrados", copyright Folha de S. Paulo, 2/6/02

"Quem faz papel de nordestino na Rede Globo é quase sempre um carioca. É triste dizer isso desse modo, é triste dizer isso quando se sabe dos méritos dos autores e diretores que conseguiram, nas novelas, falar de regiões remotas desta nossa terra, falar dos ?rincões? e dessa multiplicidade de tipos exóticos, caleidoscópicos e bem desenhadinhos que acabaram compondo a imagem de pluralidade dócil do Brasil integrado pela TV. É triste, vá lá, mas também é fato: o novelão das oito firmou-se como um pêndulo incansável entre a cidade (o eixo Rio-São Paulo ou o eixo São Paulo-Rio) e o campo (o interior da Bahia mítica ou então da Bahia mística); o regionalismo, quando chegou à TV, chegou ali como pastiche de si mesmo. Na TV, a prosódia nordestina nunca passou de um ?nordestinês? artificial e higienizado. Exceções à parte, o Nordeste da TV está para os nordestes reais assim como o Zé Carioca do gibi está para Madame Satã. No horário nobre, o ?nordestinês? falsificado, cheio de facilitações e de glamour, substituiu os sotaques nordestinos autênticos e, no mesmo movimento, cassou aos nordestinos o direito de aparecer na TV.

Como cassou o direito à voz dos caipiras. Se há um som que é banido do entretenimento chique no nosso país, esse som é o ?erre? dos caipiras. Aquele ?erre? que deveria levar um til em cima para ter a sua sonoridade representada adequadamente (mas o computador se recusa a grafar a letra ?r? com um til em cima; só o que se consegue digitar é o til ao lado do ?r?; o ?r? do caipira é vítima de preconceitos até do teclado do computador). A TV abomina o caipira. A propósito, a única virrrtude daquele Kléberrr que ganhou o primeiro ?Big Brotherrr? era o seu ?r? que parecia um ?i? mais fibroso (?fais paite?, ele vivia repetindo). Aquele Kléber redimiu a fala caipira, anistiou-a, reabilitou-a. Depois sumiu nesse ?mundão véio sem portêrrra?. A fala do interiorzão de São Paulo, de parte de Minas, do Paraná, essa fala é emudecida pela TV, é uma minoria política, é perseguida como se fosse a própria mula-sem-cabeça. Por todos. Os profissionais que recrutam jovens executivos barram os caipiras. Nenhuma empresa quer um sujeito que fale ?porrrta? como seu CEO. Caipira, eles imaginam, não sabe o que é CEO. As sogras de Ipanema não querem saber de genros que puxem aquele ?erre? que, aos ouvidos delas, soa como um berrante expatriado. Falar com aquele ?erre? repuxado é falar como um aleijão fonético. Correntemente, a TV quer eliminar o fatídico ?errre? do rude e doloroso idioma. Quer mantê-lo apenas como curiosidade remota, como a moda de viola, o bicho-de-pé, o fumo-de-rolo, os bailes de Ituverava.

Você nunca viu um apresentador de telejornal do meio-dia que, em vez de emitir seu ?boa tahrhde? aspiradamente acariocado, espremesse dos lábios um ?tarrrdê? acaipirado. Dificilmente verá. Assim como dificilmente verá um nordestino curtido e seco, genuíno, cerrando os olhos no papel de galã. Você os verá como os vê, nos programas humorísticos, passando por bobalhões que não percebem a malícia dos inimigos que lhes cobiçam as mulheres, você os verá em funções subalternas, melancólicas, você os verá como vê os animais em extinção.

Não são apenas os negros que não têm vez na televisão brasileira. É o Brasil que não tem vez. É verdade que não temos mais o Sérgio Cardoso pintando o rosto de negro para interpretar um escravo, mas temos aí uma porção de bonitões bancando os ?coronés? de araque, ou posando de jagunços perfumados. Ah, sim, temos também os palhaços que fazem a nação inteira gargalhar às custas dos caipiras. Na TV, o banimento dos sotaques corresponde ao banimento das diferenças no ideal de Brasil integrado. O Brasil que idolatramos é um Brasil de mentira."

 

MEMÓRIA / CARMEM KOZAK

"O jornalismo perde Carmen Kozak, aos 38 anos", copyright Comunique-se, 29/5/02

"A jornalista Carmen Kozak, da coordenadoria de Política da sucursal de Brasília do Jornal do Brasil, morreu na madrugada desta terça-feira (28/5). Aos 38 anos, foi vítima de enfarte agudo.

Carmen dedicou a vida ao Jornalismo. Trabalhou no JB – por onde passou duas vezes (1994 a 1997 e de setembro de 2000 até a última segunda-feira) – até a véspera da morte.

Segundo a colega Dora Kramer, que conhecia a jornalista desde 1993, Carmen estava ?exageradamente dedicada e animada com o trabalho nos últimos dias?. ?De um lado, isso era bom porque trocávamos informações e avaliações que contribuíam para nosso trabalho. Por outro preocupava, já que se dedicava excessivamente?. Dora conta que, no dia anterior, elas almoçaram juntas e conversaram sobre as compensações de tanta dedicação.

Formada pela Universidade de Brasília, trabalhou na TV Nacional/Radiobrás e no Estado de S. Paulo. Foi chefe de reportagem da sucursal da revista Caras e trabalhou na segunda campanha de Fernando Henrique à Presidência da República.

Ela era solteira. Deixa três irmãs e um irmão.

O enterro aconteceu na manhã desta quarta, às 9h, no Cemitério Campo da Esperança."

 

DIA DA IMPRENSA

"1? de junho é o Dia Nacional da Imprensa", copyright Comunique-se, 31/5/02

"Neste sábado (1/6), comemora-se o Dia Nacional da Imprensa. Embora a data seja importante para todos os profissionais da área, muitos órgãos e entidades representativas vão deixá-la passar em branco. Mas a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) faz questão de prestar homenagem a Hipólito José da Costa que, no dia 1? de junho de 1808, deu o pontapé inicial para o desenvolvimento da imprensa, lançando o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense.

A programação inclui palestras, debates, sessão solene e lançamento do Anuário Gaúcho das Comunicações. (Leia abaixo).

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) publicou, em seu site, texto em que lembra a importância da data e parabeniza os jornalistas de todo o país ?pela sua difícil e incansável tarefa de manter a sociedade informada, contribuindo dessa forma para o fortalecimento da democracia?.

Um pouco de História

O primeiro jornal do Brasil era impresso e editado em Londres, onde Hipólito ficou exilado, depois de ser preso em Lisboa sob muitas acusações. Circulava por aqui clandestinamente porque a Coroa portuguesa, já instalada no Brasil, temia a propagação de idéias libertárias francesas. Britânicos e portugueses tamb&eacuteacute;m recebiam os exemplares do Correio. ?Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa devido à dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos?, justificou o fundador, segundo o historiador Nelson Werneck Sodré, no livro ?História da Imprensa no Brasil?.

No Brasil, como a maioria da população era analfabeta, poucos liam o Correio. Suas edições tinham de 96 a 150 páginas, divididas pelas editorias: Correspondência, Reflexões, Política, Comércio e Artes, Literatura e Ciências e Miscelânia. Dedicava-se mais à doutrina do que à notícia.

Em setembro de 1808, Hipólito José da Costa parabenizou o Brasil pelo lançamento da Gazeta do Rio de Janeiro, dedicada a divulgar informações sobre a Coroa. Era o surgimento oficial da imprensa no país.

O jornal foi publicado até 1822. Foram 175 exemplares.

Programação da ARI (Porto Alegre)

1 de junho

10h – Palestra com o sociólogo Roque Callage Neto no auditório da associação, localizado na Av. Borges de Medeiros, 915;

11h30min – O jornalista Eucádio Derrosso lança o livro ?Os Caminhos da Montanha?, no Bar Social da ARI

3 de junho

20h – Sessão solene em homenagem ao Dia da Imprensa. Entrega da Medalha Caldas Júnior a Manoel Braga Gastal e Jayme Copstein, na Loja Maçônica Grande Oriente, localizada na Rua Jerônimo Coelho, 116.

4 de junho

19h – ARI lança a edição Anuário Gaúcho das Comunicações 2002, na sede da Famurs, situada na Rua Marcílio Dias, 574."