Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Eugênio Bucci

GALVÃO BUENO

"Galvão galvaniza", copyright Folha de S. Paulo, 22/12/2002

"CRITICA-SE bastante, e com fervor, o astro dos programas esportivos da Rede Globo, Galvão Bueno. Quase sempre são críticas pertinentes. Elas normalmente atacam lapsos de estreiteza cognitiva, por assim dizer, do profissional da Globo. Às vezes zombam disso, como fazia o colunista desta Folha, José Simão, que o chamava de ?Magdo?. Galvão, de fato, tem seus defeitos estridentes. E daí? Ele é um êxito raro e perene da televisão brasileira não porque não tenha defeitos, mas porque os têm em perfeita sintonia com a natureza da televisão no Brasil.

Ele é a personificação da função que a TV exerce junto ao público, que é a de galvanizar (com o perdão do trocadilho) os humores da massa. Entre nós, a televisão existe para unificar o que é disperso e esgarçado. Por isso Galvão é um sucesso: ele comete suas gafes e, por vezes, agride o razoável, mas sempre para unificar o que é desunido, para dar um denominador comum ao que não tem nada em comum. A TV une o Brasil, e Galvão é o narrador em tempo real desse trabalho de unificação. Não é no que ele diz que reside a complexidade do que ele ajuda a realizar, mas a complexidade do que ele ajuda a realizar (a unificação dos humores dispersos da massa) é que precisa das simplificações, às vezes ofensivas, que ele pronuncia. Galvão é muito bom no que faz, pois é redondamente adequado ao papel que a TV projeta sobre ele e espera dele.

No domingo passado, na final do Campeonato Brasileiro, o mestre de cerimônias da Globo deu mais uma demonstração de sua competência intuitiva para a realização de sua função ideológica. Logo no pontapé inicial, abriu sua fala com um pequeno ?editorial? sobre o atual estado do futebol brasileiro. Com isso, estabeleceu o pano de fundo, o contexto e a perspectiva em que aquele jogo em particular acontecia; organizou o tabuleiro imaginário em que as emoções iriam ser jogadas, definindo de antemão o modo pelo qual as paixões de cada um seriam equacionadas para o bem do congraçamento de todos. Galvão é um maestro da torcida, com tudo o que isso tem de uniformizador e de empobrecedor, mas é um eficaz, legítimo, reconhecido maestro.

Não é confortável falar bem de Galvão Bueno, parece uma rendição inominável. Mas é necessário, para que melhor se entenda a TV que temos. Um locutor esportivo de TV precisa ser, de uma vez só, apresentador, animador, narrador, jornalista, âncora e mais um pouco. Apresentador porque apresenta o show esportivo como quem apresenta um programa de auditório. Também por isso ele é animador, pois depende dele a tarefa nada amena de injetar ânimo na audiência. Como um Silvio Santos dos esportes, Galvão modula o estado de ânimo do seu público: indica o momento de comemorar, o de ficar apreensivo, o de se deixar embalar pela cadência da cena. Ele também é narrador, claro, pois cabe a ele narrar as competições. Por fim, atua até mesmo como jornalista: entrevista um ou outro convidado e, como um âncora de telejornal, centraliza as informações que veicula e comanda uma equipe de repórteres e analistas. Mas, atenção, é um jornalista em termos. Na TV, os eventos esportivos são espetáculos cujos direitos de transmissão são comprados pelas emissoras; um jogo de futebol é exibido menos como reportagem jornalística e mais como um show contratado, como a apresentação de um cantor ou de um filme. Por isso, Galvão exerce mais a função de animador que a de jornalista, embora às vezes também se apresente como jornalista e às vezes fale e trabalhe como se fosse jornalista.

Não é fácil ser Galvão Bueno, por mais que pareça obtuso. Ser Galvão Bueno é construir o sentido de uma unidade imaginária que não tem sentido. Não que ele seja um gênio. Gênio ele não é. É apenas um ?Magdo?, vá lá, mas, conscientemente ou não, é um ?Magdo? orgânico, essencial e magnânimo."

 

FIM DE ANO / TV

"Canais querem sua audiência de presente", copyright Folha de S. Paulo, 22/12/2002

"O NATAL e a chegada do Ano Novo inspiram mais um round na luta dos canais pagos e abertos pela audiência. Há de shows a documentários, de filmes inéditos a edições especiais de programas de auditório e sitcoms.

?Decidimos programar filmes com alta dose de emoção, em sintonia com o espírito da época?, diz Mauro Lissoni, diretor de programação do SBT. A Cultura investe em especiais de auditório. ?Alô, Alô?, ?A Turma do Pererê? e ?Viola Minha Viola? ganham conteúdos natalinos e de Réveillon. ?O humor será mais lúdico por ser época de Natal?, afirma Fafy Siqueira, apresentadora do ?Alô, Alô?. ?No Réveilllon, as pessoas não querem ver falatório na TV. Vamos exibir os melhores hits do ano?, diz Márcia Aguiar, diretora do especial ?Musikaos?. A Globo vai exibir sucessos do cinema nacional e estrangeiro, especiais e musicais. ?Brava Gente – Anjo Não Chora?, ?O Natal de Seu Creysson?, com a turma do ?Casseta e Planeta?, e ?Show da Virada? são alguns deles. ?O especial remete à emoção, união da família e ao nascimento de Jesus?, diz Cininha de Paula, diretora de ?O Natal no Sítio do Picapau Amarelo?. As sitcoms ?Família Record? e ?O Golpe da Madame? são os trunfos de Record e Rede TV!. ?O nosso programa é um pastelão engraçado, nos moldes dos humorísticos dos anos 80?, diz Marcelo Carvalho, vice-presidente da Rede TV!. Essas emissoras encerram o ano com Adriane Galisteu (?É Show?) e Luciana Gimenez (?Superpop?), grandes alvos da crítica de TV em 2002. Uma seleção de shows musicais é a aposta da Band para o fim de ano. ?É tradição da emissora exibir musicais nesta época, mas nunca fomos tão radicais?, diz Rogério Gallo, diretor de programação. O Réveillon de Salvador (Bahia) será o cenário da ?virada?.

TV paga

As produções mais elogiadas de cada canal durante o ano serão reexibidas em longos blocos por GNT, Discovery, Fox Kids, Discovery Kids e Animal Planet. ?É a primeira vez que reunimos as melhores de acordo com o voto do público pela internet?, diz Beth Carmona, do Fox Kids, sobre o ?Quem Tem o Controle??, eleição em que o público opta pelas séries que quer ver reprisadas. A votação, pelo site www.foxkids.com.br, termina hoje.

Veja os horários dos programas que mais prometem nas TVs paga e aberta no quadro da página seguinte."

 

"Futura traz ?Vila Sésamo?", copyright Folha de S. Paulo, 22/12/2002

"O canal pago Futura decidiu matar a saudade dos fãs do programa infantil ?Vila Sésamo?, que foi ao ar nos anos 70, antes do lançamento da nova versão, previsto para 2003.

Nesta terça, às 20h, o canal exibe o especial ?O Natal de Elmo?, de 1996, que mostra a solidariedade do personagem Elmo com Papai Noel. No dia seguinte, às 17h, vai ao ar ?Fim de Ano com Elmo na Vila Sésamo?, de 2002, viagem do personagem por países de diferentes culturas, mas com um espírito comum, de fraternidade.

?Pesquisas comprovam o alcance e a eficiência pedagógica do programa, criado em 1969 com o objetivo de atingir crianças carentes?, diz Paula Taborda, coordenadora de parcerias internacionais do Futura.

A produção de 2003 de ?Vila Sésamo? terá Garibaldo e Emília modernizados, além de uma personagem brasileira esportista. Na linha educativa, trará orientações sobre língua portuguesa. (O NATAL DE ELMO – terça, 20h e FIM DE ANO COM ELMO NA VILA SÉSAMO – quarta, 17h, ambos no FUTURA)"

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"Globo rememora o ?Ano da Mudança?", copyright Folha de S. Paulo, 22/12/2002

"Tradicional na programação da emissora, a retrospectiva jornalística da Globo vai ao ar nesta sexta-feira, às 22h, mostrando os fatos e imagens que marcaram o ano, principalmente as eleições, a Copa do Mundo e o Mundial de Vôlei.

?O tema da ?Retrospectiva 2002? é ?Ano da Mudança?. Pesquisamos as melhores imagens e associamos temas sem cronologia e separação por assuntos?, diz Silvia Sayão, editora-chefe do programa. ?O ano será traduzido em imagens?, afirma.

Produzida pela equipe do ?Globo Repórter? e apresentada por cinco duplas de âncoras, a edição deste ano inova com o bloco ?Inimaginável que Aconteceu?, seleção de casos que surpreenderam os brasileiros, como a história de Pedrinho, que reencontrou a mãe biológica, e de Suzane Louise von Richthofen, cúmplice dos assassinos dos pais.

O programa também relembra os desastres ecológicos do ano e os principais flagrantes feitos pelos cinegrafistas. (RETROSPECTIVA 2002 – Globo, sexta, 22h)"

 

FOLHA CONTESTADA

"Cartas de letitores", copyright Folha de S. Paulo

"20/12/2002 – Novo governo

Em relação às afirmações contidas na coluna ?A falta de autocrítica do PT? (Opinião, pág. A2, 18/12), de Fernando Rodrigues, esclareço o seguinte. 1. Sustento tudo o que disse na CPI dos Bancos, cujo relatório é de domínio público. 2. Sustento, como sustentei à época, que todos os indícios de operações especulativas e/ou de vazamento de informação privilegiada teriam de ser investigados em profundidade. Lamentavelmente, o entendimento da CPI, comandada por parlamentares da base do governo Fernando Henrique Cardoso, foi outro. Foi o governo, e não o PT, que preferiu abafar as denúncias que apresentei. 3. No artigo que escrevi para essa Folha em 28/11/99 -que é mencionado pelo colunista-, o que afirmei foi: ?Neste episódio, muito mais grave do que a nossa denúncia dos casos Marka e FonteCindam foi o comportamento de grandes bancos internacionais como o Chase Manhatan e o grupo J.P. Morgan e Morgan Garanty Trust, entre outros, que compraram grandes valores em dólar às vésperas da desvalorização e depois dirigiram o ataque especulativo contra o real?. O jornalista, além de citar de maneira imprecisa o texto publicado anteriormente, substituiu o nome dos bancos que mencionei por uma inserção de sua própria lavra -?entre os quais o BankBoston?-, induzindo o leitor a uma interpretação equivocada do que eu realmente escrevi. 4. O BankBoston, embora tenha modificado a sua posição no mercado de câmbio à vista, como citei em meu depoimento, não realizou operações relevantes no mercado de títulos cambiais, não obteve ganhos no mercado futuro de câmbio da BMF e não teve fundos de capital estrangeiro com grande lucratividade naquele período (segundo os dados oficiais que pude obter na ocasião). Ou seja, o seu comportamento no episódio da desvalorização do real aparecia como menos contundente -em termos de ganhos especulativos- em comparação com aqueles bancos que, sim, citei explicitamente, destacando a necessidade de uma investigação profunda e abrangente sobre essas instituições estrangeiras.? Aloizio Mercadante, deputado federal -PT-SP (Brasília, DF)

Resposta do repórter Fernando Rodrigues – A expressão ?entre os quais o BankBoston? está entre colchetes, formato usado pela Folha para inserir uma explicação que ajuda a compreensão do leitor. Era necessário explicar, pois o deputado sempre incluiu o BankBoston entre as instituições que teriam supostamente se beneficiado da desvalorização do real em 99.

Radiobrás

?A propósito do texto ?O PT e a tentação da Radiobrás? (Ilustrada, pág. E2, 18/12), gostaria de esclarecer que fui nomeado para a equipe de transição como seu representante para tratar especificamente da área de comunicação social, isto é, para levantar informações relevantes para o diagnóstico do setor. Essa é a razão pela qual, nas últimas semanas, tenho ido com frequência à Radiobrás ou procurado dirigentes não só da Radiobrás mas também da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto-TVE) e de outras assessorias de comunicação do governo. Não se trata, portanto, de nenhuma ?tomada de poder?, como afirma o texto, mas apenas de uma ação legítima e acertada entre o novo governo e o atual. Aliás de amplo conhecimento no país. Finalmente, reitero que não fui nomeado nem convidado para ser presidente da Radiobrás.? Wilson Thimoteo Júnior, representante designado para preparar o diagnóstico sobre a área de comunicação social na equipe de transição (Rio de Janeiro, RJ)"