Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Faltam dois depoimentos

PAINEL DO SENADO

Chico Bruno (*)

Escrever artigos e colunas é, talvez, o exercício mais trabalhoso da arte de fazer jornalismo. Articulistas e colunistas passam o dia pendurados ao telefone caçando notícias. Todos possuem um batalhão de fontes, que vão de motoristas de gente famosa a influentes empresários e políticos. No particular da política, existem as fontes privilegiadas, que diariamente abastecem de notícias os jornalistas. O sigilo da fonte é mantido sempre, assim como o segredo que a fonte fornece, o conhecido "off".

No episódio da violação do painel eletrônico do Senado a fonte se transformou em "offs" do ofício. Foi pela imprensa, no dia 9 de agosto de 2000, que se começou a suspeitar da violação do painel. Naquele dia, o colunista de O Globo Ricardo Boechat publicou pequena nota revelando o possível voto da senadora Heloísa Helena, durante a sessão que cassou os direitos políticos do senador Luiz Estêvão.

Hoje, com os depoimentos dos envolvidos, todos são os principais suspeitos de serem a fonte do Boechat. Os senadores que fazem parte do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar utilizam volta e meia essa nota do Boechat mas, em respeito ao pacto existente entre jornalistas e fontes, não ousam convocar o jornalista para revelar a fonte da nota, que com certeza ajudaria a desvendar o mistério que ainda envolve o caso.

O senador Eduardo Suplicy, por mais de uma vez, já recorreu a uma nota sobre o episódio, publicada por Valéria Blanc em sua coluna no Correio Braziliense, mas também não quis saber a fonte da informação.

As notas de Boechat, que levanta suspeita sobre o voto da senadora Heloísa Helena, e de Valéria Blanc, que sugere o envolvimento do presidente Fernando Henrique no caso, são graves e podem ajudar a elucidar as contradições, ou quem sabe, no mínimo, introduzir novos personagens nas investigações do Conselho de Ética. Talvez seja mais importante a revelação das fontes do que a acareação entre três personagens da violação do painel.

Vale a pena lembrar o que diz na página 185, do livro "Política e paixão", o senador Antônio Carlos Magalhães sobre a importância da fonte na vida dos jornalistas: "A pior coisa da fonte é a mentira. E do jornal, também. Ninguém pode mentir…"

Esse exemplo demonstra com clareza o que representam as fontes, que com certeza nunca serão reveladas, pois os senadores não estão dispostos a ferir a ética da convivência entre jornalistas e fontes. Haja vista que eles são, em sua grande maioria, fontes de informação de articulistas e colunistas políticos de Brasília, apesar dos apelos do senador José Eduardo Dutra, que pede que todos os que participaram direta ou indiretamente do caso apareçam e digam a verdade.

Fica a pergunta no ar. Nesse caso específico, o sigilo da fonte deve ou não ser mantido? Com a palavra, os senhores jornalistas e senadores.

(*) Jornalista

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