Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Faroeste candango

RORIZ vs. CORREIO BRAZILIENSE

Vera Silva (*)

Em março de 2001, num artigo intitulado "O ACM do cerrado" [remissão abaixo] escrevi:


"Na sua entrevista ao OI, Joca [João Carlos Teixeira Gomes, autor de Memórias das Trevas], como é chamado, disse (…) abre-se fogo contra o jornalista e sua família, cortam-se os anúncios e depois é só esperar a ruína. O Correio Braziliense é um grande jornal, tem muitos leitores, mas não devemos pensar que possa lutar sozinho contra o governador Roriz e seus parceiros políticos. É um grupo que tem dinheiro, poder e poucos escrúpulos. Não pode ser menosprezado nem tratado como mosquito incômodo. Está na hora de começarmos a ajudar o jornal, porque debaixo dessa guerra suja há muita coisa contra o cidadão comum e contra Brasília, que será atingida."


É exatamente o que está acontecendo agora no Distrito Federal.

O governador e seus aliados tentam intimidar os jornalistas Paulo Cabral e Ricardo Noblat e suas famílias, acusando-os, durante o horário eleitoral (!), de apropriação indébita e de favorecimento ilícito. Enquanto isso, em festa de rodeio, faziam propaganda em conjunto com um candidato a deputado distrital que está com prisão preventiva decretada por grilagem de terras e encontrava-se foragido, aguardando voltar à cena assim que estiver sob guarda da lei que o protege da prisão nos 15 dias que antecedem as eleições..

Num quadro de faroeste, típico de terra-sem-lei, o Distrito Federal é espoliado de suas terras, tem seus mananciais diminuídos e contaminados, vê sua Câmara Legislativa, tão desejada, conspurcada por deputados acusados de grilagem e de fraude, e, horror dos horrores, o candidato oficial à Presidência da República subir no palanque de Roriz e falar de planos de governo em conjunto.

A questão de terras no DF é antiga e, no meu entender, já deveria ter sido resolvida pelo governo federal que, no entanto, deixou tudo correr frouxo, alimentando o crime e a perversão social. Na eleição passada, para se garantir, o governo federal fez de conta que apoiava o candidato do PT de um lado, enquanto fortalecia Roriz de outro. Resultado, levou um loteamento para o quintal do Alvorada e uma ponte que vai tumultuar todo o trânsito daquela região, além do custo exorbitante. Mas, como não era com ele, FHC deixou para lá.

Chega de vista grossa

Agora, às vésperas das eleições, depois de ter dois senadores cassados (um deles é candidato a deputado federal), o DF corre o risco de ter um governador, vários deputados distritais, ex-secretários etc, processados e condenados por grilagem de terras públicas e o enorme pepino de não saber o que fazer com milhares de pessoas que construíram suas casas em terras públicas, um monte de gente semi-alfabetizada e sem qualificação profissional morando em favelas, crianças sem-escola por falta de ônibus, gente sem-saúde por falta de remédios, milhares de jovens sem capacitação profissional…

O que o Brasil vai fazer com isto? Construir uma nova capital na Amazônia para fugir do inchaço e deixar o pepino na mão dos brasilienses, como fez em 1960, quando, depois de explorar o Rio de Janeiro, largou tudo lá nas mãos de quem quis?

O que a mídia nacional vai fazer com isso? Passar a pautar o DF nos cadernos de polícia e no noticiário do crime organizado? Vai chorar no velório do Correio Braziliense e lamentar o ataque sofrido por seus diretores?

A história vai se repetir enquanto não agirmos eficazmente contra a corrupção no cotidiano. Bradar contra o corrupto não basta, é preciso não continuar fazendo vista grossa à corrupçãozinha-nossa-de-cada-dia-afinal-a-gente-não-é-de-ferro-e-todo-mundo-faz-isso.

(*) Psicóloga

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