Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

FCC quer abrandar legislação

“Máscara de Gore é revelada”, dizia o subject de um e-mail de Washington. A mensagem apimentada do Comitê Republicano Nacional circulou ofuscantemente nas caixas postais de computadores por todo os Estados Unidos na semana passada. Não se tratava de sugerir corrupção política ou obstrução da justiça, mas de espalhar o relato publicado na revista People de que Gore usava maquiagem. Por meio dessa mensagem, a seção “Perspectiva” da Newsweek dedicou-se a esmiuçar a fofoca.

A infindável competição Gore vs. Bush tornou-se verdadeira cyber-guerra. Segundo matéria de Peter Marks [The New York Times, 1/6/00], de hora em hora e-mails chegam como “lanças digitais” dos candidatos e seus respectivos partidos.

Traiçoeiras, eficazes, funcionais e fofoqueiras, as mensagens materializam via rede a campanha eleitoral norte-americana de 2000.

A audiência mais significativa é de jornalistas. “Dia 52: Repórteres são reféns!” gritava um e-mail do Comitê Republicano em abril. Esta é uma de séries de mensagens do gênero, enviadas para lembrar jornalistas de que havia 52 dias o vice-presidente não lhes tinha concedido uma entrevista coletiva. Com efeito, a mensagem rendeu pauta em jornais e emissoras de todo o país. No “Dia 60”, Gore deu a coletiva.

Campanhas eleitorais sempre sussurraram pequenas bobagens escabrosas sobre a oposição nos ouvidos dos repórteres. Mas porque o e-mail introduziu uma nova era de facilidade e conectividade epistolares, criou também uma forma de release super-eficiente e independente de papel. Assim, a cyber-campanha não apenas liga diretamente o mundo político ao jornalístico em segundos, como também permite aos partidos atirar um no outro de acordo com suas vontades.

Assim que a “Mensagem do Dia é emitida”, abre-se o pretexto para o lançamento da “Mensagem dos Últimos 10 Minutos”. Previsivelmente, chegam e-mails de todos os tipos: úteis, irrelevantes e irreverentes.

“Mensagem via computador é ao mesmo tempo invasiva e discreta”, observa Clifford D. May, diretor de comunicação do Comitê Republicano. “E um telefonema, mas não em tempo real.” Segundo May, a nova forma de campanha apresenta muitas vantagens. “Não se está interrompendo um jornalista em deadline”, diz, “e por e-mail cada um pode levar o tempo que for necessário para compor sua mensagem da forma mais persuasiva possível.”

Há um travesso “sabor especial” de imprensa marrom nas campanhas por e-mail, apesar de ambas afirmarem que o outro lado deforma a verdade. As mensagens não só circulam instantaneamente a partir da fonte, como podem ser encaminhadas com a mesma eficácia.

Spams que requerem rápida atenção são, enfim, outra marca da era da mídia instantânea, era em que o destino mais triste de uma mensagem no computador é o desprezo.