Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fernanda Dannemann

ENTREVISTA / PAULA SALDANHA

“Casados com o Brasil”, copyright Folha de S. Paulo, 5/01/03

“Depois de 25 anos de produção independente ao lado do marido, o biólogo Roberto Werneck, 51, a jornalista Paula Saldanha, 49, contabiliza milhares de reportagens, mais de 90 mil fotos e de cem documentários -a maioria para o programa ?Expedições?, veiculado pela TVE e pela TV Cultura (domingos, 19h30). Saldanha falou ao TV Folha.

A produção independente é uma aventura de risco no Brasil?

É em qualquer lugar; no Brasil, muito mais, porque com a extensão territorial do país, as emissoras nacionais restringem o mercado. Faço um acordo com a Rede Brasil (TVE) e a Cultura (que são afinadas em termos de filosofia), mas não posso simultaneamente negociar com uma emissora comercial. E tem os custos do programa, já que o ?Expedições? é produzido em viagens, e viajar dentro do Brasil é caríssimo. Até 1985, o formato também dificultava, porque não era permitido fazer denúncia.

Como era naquela época?

Tivemos muita censura. Um exemplo é o título ?A Amazônia é Nossa?, de 1979, além de sete minutos do próprio programa. Criticávamos a entrada de multinacionais na floresta, desmatamentos, queimadas e grilagem de terra.

Mas isso mudou.

Lentamente. No programa do último dia 22, falamos da grilagem de terra e da destruição de nascentes dos principais afluentes do rio São Francisco. Hoje preferimos apontar soluções, o que nos faz aprofundar a pesquisa e viajar mais. O programa é produzido em 15 dias e leva um mês pra ser editado.

Como é viver viajando?

Fascinante. Meu caçula está com 20 anos; quando comecei a viajar com o Roberto, ele tinha três. Tinha o esquema das avós e das madrinhas. Na adolescência, nossos três filhos reclamavam mais.

A produção independente que tem por tema a educação é mais fácil de fazer?

O ?Expedições? é jornalístico, social e cultural. Mas o pessoal acha que meio ambiente é bichinho e floresta. No começo, quando fazíamos muita denúncia, era difícil conseguir patrocínio. As empresas tinham medo que denunciássemos o que elas faziam de errado. Depois da Rio 92 é que ficou ?in? patrocinar programas ecológicos.

No exterior isso é diferente?

A Europa é fascinada pelo lado exótico do Brasil. Já fomos contactados por canais da Inglaterra, França e Itália. Estamos traduzindo nossos livros e programas para o inglês e o espanhol.

Quais os maiores desafios nesses 25 anos de produção independente?

Chegar à nascente do rio Amazonas, em altitude de 5.500 metros, nos Andes peruanos. E conseguir verba para viabilizar o programa na TV. Até 1995, nunca tivemos patrocínio. No caso do ?Fantástico?, éramos pagos pelo direito de exibição por um período, o que muitas vezes nos deixava no prejuízo. A parceria com a Globo acabou porque ela passou a comprar programas estrangeiros, mais baratos por serem vendidos para mais de cem países.

Qual é a média de audiência?

O ?Expedições? está entre os de maior audiência na TVE e na Cultura. Na TVE, tem cerca de 01 milhões de telespectadores semanais.

Como foi sua passagem pela Globo?

Entre 1974 e 1985, apresentei o ?Fantástico?, o ?Jornal Hoje? e o ?Globinho?. Mas, já em 1977, eu e Roberto passamos a produzir documentários científicos para o ?Globinho?. Dois anos depois, fizemos o primeiro programa sobre ecologia para jovens na TV brasileira, o ?Globinho Repórter?.

Por que você saiu da Globo?

Em 85, tentei resgatar o ?Globinho?, o ?Globinho Repórter? e sugeri um programa de entretenimento, mas nada foi adiante porque a emissora entrou numa linha mais comercial. Preferi sair e fechei um contrato de produção independente com o ?Fantástico?, que durou até 1992. Foi a primeira vez que a Globo trabalhou com material jornalístico de produtora independente. Eles avisavam que não queriam filmes científicos, porque era pra povão. Diziam que o velhinho não podia dormir na cadeira.

Documentários para todos

Mais antigo documentário jornalístico da TV brasileira, o ?Globo Repórter? (sexta, 22h) completará três décadas em 2003, mas só nos anos 80 ganhou horário fixo na programação. Com enfoque em temas polêmicos ou de interesse geral, o jornalístico tornou-se um dos mais assistidos da emissora: a média de audiência, em 2003, foi de 32 pontos (cada ponto equivale a 47 mil domicílios na Grande São Paulo). ?O ?Globo Repórter? tem audiência porque é sensível ao escolher seus temas e tem uma produção de alto nível?, diz a editora-chefe, Silvia Sayão. ?O segredo é a vontade de fazer um bom programa, além de muito trabalho?, afirma ela. No ?SBT Repórter? (quinta-feira, 23h40) a equipe de Hermano Henning não mede esforços. O repórter Christian Colt, por exemplo, escalou os 170 metros da ponte de Sidney num programa sobre a Austrália, bebeu sangue de cobra na China e foi atacado por uma onça na Amazônia. ?Quero que o telespectador sinta comigo a aventura?, diz ele. Seu colega Gérson de Souza também não teme o perigo: ao mostrar o contraste do lixo do rico e do pobre, em São Paulo, o medo de uma intoxicação alimentar não impediu que ele almoçasse peixe e torresmo com uma mulher que vive do que encontra nas lixeiras. A audiência foi a 27 pontos, e Gerson diz que valeu a pena. ?Cada documentário é uma oportunidade para o conhecimento e a aventura.? Ainda na TV aberta, o ?Repórter Record? (sexta-feira, 21h), pauta seus documentários por fatos importantes no Brasil e no mundo, como o sequestro do publicitário Washington Olivetto e a repercussão dos atentados de 11 de setembro em Nova York.

TV paga As opções para os assinantes são maiores e específicas na TV paga, onde a maioria dos canais fica no ar 24 horas por dia. O Animal Planet, por exemplo, se ocupa de documentários sobre bichos.

O Discovery Channel, por sua vez, explora a ciência, a tecnologia, a cultura e a natureza. ?Nosso objetivo é que as pessoas tenham curiosidade de conhecer o mundo?, diz Javier Casella, gerente regional da Discovery Networks Brasil.

Já no People+Arts, a filosofia é ?contar histórias? e oferecer uma perspectiva detalhada sobre pessoas, culturas e localidades.

No GNT, arte, viagens, legalização das drogas e perfis são os temas abordados por documentários divididos em faixas como ?Lanterna Mágica?, ?Pé na Estrada? e ?Papo Cabeça?.

O canal não divulga números, mas informa que o preferido da audiência é a faixa ?Grandes Nomes?, rebatizada como ?Celebridades?, e que mostra biografia de pessoas que são, entre outras coisas, o que diz o novo nome da atração.

Histórias do casal, segundo Roberto Werneck

?Em 1988 denunciamos a grilagem de terras na Bahia, por maus empresários do Sul que expulsavam as populações e matavam gente. Uma hora depois da veiculação da matéria, no ?Fantástico?, recebemos telefonemas anônimos de gente ameaçando nossos filhos.?

?Fomos ao Mato Grosso apurar a reabertura dos garimpos que poluíam o Pantanal, decretada por uma juíza que levou propina. Em frente ao fórum, um comboio nos cercou. A PM nos escoltou até o avião e disse pra gente se mandar. O comboio também cercou o avião, na pista.?

?Uma vez um macaco partiu pra cima da Paula. Macaco fica alucinado com cabelos claros. Depois foi comigo: uma macaca que filmei durante dias finalmente não me deixou filmar mais nada: se deitava na frente da câmera, grunhia e fazia poses sensuais. A Paula até hoje tem ciúmes.?

?Chegamos à reserva ianomâmi em plena guerra, mas felizmente nos entendemos com eles. O cacique mexia no cabelo da Paula e a convidava pra rede dele. Depois as índias fizeram cafuné em mim, e a Paula me apontava, dizendo ?marido!?. Elas respondiam ?Tadihe!? (?bonito?).?”

 

CORPORATIVISMO

“Quanto mais eu rezo…,”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 5/01/03

“Vou ser franco: achava mesmo que a bagunça em que se transformou o nosso mercado de trabalho nos últimos tempos tinha chegado ao auge depois da liminar daquela juíza de São Paulo. Mas é como se diz: ?nada é tão ruim que não possa piorar?. Pois não é que mais um grupo de profissionais resolveu que também pode ser jornalista? A invasão da hora é da parte do pessoal que lida com Recursos Humanos nas empresas.

Na verdade, tinha recebido sinais do início desta invasão de um amigo, jornalista morador aqui da Ilha e professor de comunicação. Ano passado, ele foi convidado para dar um curso rápido de jornalismo empresarial numa faculdade do interior de Minas (não lembro o nome agora) para uma turma de pessoas de empresas da região. A maior freqüência, ele notou, era de gente de RH e, a princípio, ficou contente, pois achou que, finalmente, as empresas estavam olhando a comunicação empresarial de maneira mais profissional. ?Ôba! Mercado de trabalho!?, pensou meu amigo, alegre.

Lá pelo fim do curso – que durou três dias – começou uma discussão sobre a especificidade do jornalismo de empresa e aí os RHs entraram numa de dizer que os jornais das empresas – na verdade, toda a comunicação interna delas – deveria ficar por conta deles. O vizinho insulano ainda pensou que estavam falando sobre a visão de fundo e até concordou com eles no início da conversa. ?Realmente, vocês é que têm que dar a orientação estratégica?, admitiu.

Só que os RHs não queriam apenas isso; queriam mesmo era escrever e editar jornais impressos, murais, em vídeo, e o que mais aparecesse pela frente. O companheiro tomou um susto. ?Peraí! Vocês não sabem lidar com as ferramentas e as linguagens de comunicação como nós, que estudamos para isso?, argumentou o meu amigo, sem ter convencido os caras.

Quando ele me contou isso, sinceramente não fiquei lá muito preocupado. Na época, ainda havia o diploma como barreira, mínima, mas existente. O grilo se instalou mesmo foi há duas semanas quando, num bate-papo via emeio com uma amiga que trabalha na assessoria de uma grande empresa da área médica, ela me disse que o pessoal do RH de lá se mete até na edição do jornal da empresa. Pior: há pouco, a chefe dos Recursos Humanos se queixou com ela que a Exame não tinha botado todos os ?cases? que ela tinha enviado para um guia de cidadania corporativa que a revista estava editando, apesar de o repórter ter pedido. Ou seja, ela fez assessoria de imprensa!

Bem, na sinceridade, não dá para se queixar muito, certo? Se nós mesmos não respeitamos a nossa própria especificidade profissional, porque é o que profissionais de outros setores iriam fazê-lo, ainda mais no atual estado de ?pega-pra-capar? do mercado de trabalho em geral? Não sei o qual a sua opinião, mas acho que é bom começarmos a reagir já. Se não, os RHs não serão os últimos a invadir nossa praia.

Concessões – Ahá! Pensou que tinha escapado, né? Mas não se apavore. Não vou falar disso esta semana. Na verdade, vou dar um dica de ouro para o povo que se interessou pelo tema e quer continuar acompanhando. Para esses, é obrigatório botar nos favoritos o site da Pay TV News (www.paytv.com.br), uma galera que corre atrás do assunto e costuma fungar no cangote de Minicom, Anatel e quejandos. Aliás, é bom que façam isso mesmo, pois se depender de nossa grande imprensa…Bom, mas isso é papo para outro dia.”