Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fernando Canzian

DANOS COLATERAIS

"Governo e empresas tentam reduzir prejuízo da mídia com a guerra", copyright Folha de S.Paulo, 20/3/03

"Empresas de comunicação e o governo dos EUA estão trabalhando em conjunto para reduzir os efeitos da guerra contra o Iraque no faturamento da mídia americana. A estratégia foi montada após análise da perda publicitária que as empresas sofreram durante a Guerra do Golfo (1991).

A estratégia do Pentágono para a mídia foi batizada como ?embedded with troops? (na cama com as tropas). Estimulados até pelo nome, críticos afirmam que o governo estaria ?retribuindo? um clima pró-guerra que as principais emissoras, e alguns dos maiores jornais americanos, vêm adotando há alguns meses.

A ?simbiose? entre os meios e os militares deve resultar em uma cobertura maciça da guerra, com centenas de jornalistas acompanhando as tropas. Visa minimizar perdas na receita publicitária e reduzir os custos da cobertura.

?Temos de ver como isso vai funcionar?, disse à Folha Michael Getler, ombudsman do ?Washington Post?. Há um mês, o jornal publicou editorial de meia página para se defender da acusação de leitores de que estaria agindo a favor da guerra.

Em fevereiro, o Pentágono tinha a expectativa de levar 500 jornalistas para a região do Golfo. Na semana passada, a lista foi ampliada para 600 pessoas.

A estratégia das emissoras e jornais é criar um clima mais ?amigável? com seu público a partir do local do conflito. Isso diminuiria, por exemplo, o risco para as TVs de contar apenas com imagens cedidas pelos militares.

Em 91, as três maiores emissoras de TV dos Estados Unidos, ABC, NBC e CNN, tiveram prejuízos estimados de US$ 25 milhões (R$ 85 milhões) ao dia com o cancelamento de anúncios de clientes que não quiseram ter produtos vinculados à guerra.

Para a mídia impressa, o resultado foi semelhante. Nos primeiros dias da guerra, peças de grandes anunciantes simplesmente desapareceram das páginas de jornais e revistas.

Ao mesmo tempo, os custos para a cobertura do conflito aumentaram da noite para o dia. Para cobrir esta guerra, a CNN reservou um orçamento de US$ 35 milhões -contra os US$ 25 milhões gastos no primeiro conflito.

O cenário hoje é mais sombrio pelo fato de grande parte da mídia norte-americana estar endividada após pesados investimentos feitos durante a chamada ?bolha tecnológica?. Há dois anos, houve pesados aportes em produtos e serviços voltados à internet que não resultaram lucrativos até agora.

Para evitar o estrago de 91, a vice-presidente de comunicações do ?The New York Times?, Catherine Mathis, diz que o jornal deverá separar toda a cobertura da guerra em um caderno específico para desvincular o noticiário bélico da publicidade."

"Wall Street debate ?efeito CNN? na economia", copyright O Estado de S.Paulo, 22/3/03

"Analistas em Wall Street já começam a ponderar o impacto do chamado efeito CNN ? redução de gastos dos consumidores que permanecem em casa assistindo à televisão, acompanhando o desenrolar da guerra ? sobre o crescimento da economia americana. O economista-chefe para Estados Unidos do Banco ABN-Amro, Steven Ricchiuto, informou que poderá revisar novamente para baixo as suas projeções para o crescimento do PIB americano neste ano, dependendo do impacto do efeito CNN na atual campanha militar contra o Iraque.

Há duas semanas, Ricchiuto reduziu a sua estimativa de crescimento do PIB de 3,3% para 2,7% no quarto trimestre deste ano, comparado com igual período do ano passado, por causa da deterioração dos recentes indicadores macroeconômicos. Para o ano inteiro de 2003, ele projeta um crescimento de 2,3%. ?Mas os riscos estão ainda para o lado negativo, ou seja, de redução dessa projeção, dada a possibilidade do efeito CNN, que ainda é uma incógnita. Vamos avaliar melhor durante o final de semana?, afirmou Ricchiuto à Agência Estado.

?Precisamos ver se o efeito CNN se dará apenas neste final de semana ou se na próxima semana também. Esse é o risco, que talvez tenhamos de reduzir mais ainda a nossa projeção de crescimento do PIB para este ano se o efeito CNN for significativo?, acrescentou. Segundo Ricchiuto, a sua projeção não embute esse efeito CNN sobre os gastos dos consumidores.

Na opinião do economista-sênior para Estados Unidos do Deutsche Bank, Cary Leahey, o chamado efeito CNN é importante, mas os mercados financeiros vão prestar atenção mais nos próximos índices de confiança do consumidor (como os da Universidade de Michigan e do Conference Board) do que propriamente nos dados sobre gastos do consumidor no curto prazo. ?O efeito CNN deverá ocorrer, pelo menos, enquanto durarem os tiros e ataques militares no Iraque. Contudo, sob o aspecto do mercado financeiro, os investidores estarão menos interessados nos dados sobre os gastos dos consumidores de curto prazo do que no sentimento em relação ao futuro?, afirmou Leahey.

?Em 1991, durante a Guerra do Golfo, os mercados reagiram muito bem aos saltos nos índices de confiança dos consumidores, mesmo que os dados sobre gastos efetivos não os tivessem acompanhado imediatamente. Os índices de confiança sinalizariam para o mercado financeiro que, em algum momento, os gastos voltariam a crescer?, disse o economista do Deutsche Bank. Para ele, os investidores já esperam o efeito CNN, mas o que pesará para eles é se as pessoas ficarem mais otimistas sobre o futuro.

Segundo Leahey, o próximo indicador de confiança, a ser divulgado na terça-feira, talvez ainda não capte o sentimento dos consumidores em relação às últimas 48 horas ou 72 horas, quando teve início a guerra contra o Iraque. ?Mas o próximo índice da Universidade de Michigan, a ser divulgado daqui a uma semana, já poderá mostrar uma recuperação da confiança do consumidor, o que será bastante positivo. Mas, para que haja um impacto significativo, é preciso haver uma melhora de 5 pontos a 10 pontos nos principais indicadores de confiança dos consumidores?, afirmou Leahey.

O economista mantém a sua estimativa de crescimento do PIB americano de 4% para o segundo semestre deste ano e de 3% para o ano inteiro, especialmente por causa da queda forte nos preços do petróleo recentemente. ?Há o sentimento de que, por volta do final de maio, o preço do petróleo caia para o patamar de US$ 25 o barril e que o mercado acionário suba outros 1.000 pontos na crença de que a economia americana terá um segundo semestre decente em termos de crescimento?, afirmou Leahey. (AE)"

"TV dos EUA ressentem-se financeiramente", copyright Público, 23/3/03

"Programação alterada, receitas publicitárias em queda, grandes meios deslocados para o terreno ? a cobertura intensiva do ataque ao Iraque arrisca-se a pesar fortemente nas finanças dos grandes grupos de comunicação social dos Estados Unidos.

As cadeias de televisão do país constataram que as longas emissões em contínuo, com os ataques e a invasão ao Iraque, se arriscam a fazer baixar audiências. Segundo dados preliminares da empresa Nielsen Media Research, a cobertura ao vivo na quinta-feira dos ataques pela ABC (propriedade do grupo Walt Disney) ficou em segundo lugar ao fim da tarde e à noite, atrás da programação de entretenimento da NBC, mesmo durante a emissão por esta cadeia da repetição de um episódio da sua comédia-sucesso de longa data ?Friends?.

No que respeita custos directos, a cobertura da guerra pode ir de 5,5 milhões a 22 milhões de euros por dia, dependendo da estação, segundo divulgou o banco de investimento Goldman Sachs, na semana passada. Um analista citado pela Reuters, Tom Wolzein (ex-executivo da NBC News e que foi militar no Vietname), considera por seu lado que a cobertura da guerra poderá fazer aumentar os custos dos departamentos de informação das televisões entre cinco e dez por cento ao longo do ano.

A baixa de receitas publicitárias deverá ser mais sentida pelas redes hertzianas (CBS,ABC, NBC), que se ressentem particularmente com a actual situação excepcional de informação contínua, à qual as televisões por cabo (CNN, Fox News, MSNBC) estão habituadas.

Com uma audiência maior, normalmente as cadeias hertzianas atraem mais os grandes anunciantes do que as cadeias por cabo, explicam analistas citados pela AFP. Um especialista de ?media? da Guzman and Company, David Joyce, conta que ?a Procter and Gamble, um dos maiores anunciantes, já disse que nenhum dos seus anúncios será difundido no meio de programas de informação sobre a guerra?. Este grande grupo industrial dos Estados Unidos não quer que as suas fraldas, champôs ou detergentes sejam misturados com imagens dramáticas.

Assim, os telespectadores terão os seus hábitos alterados, nomeadamente os fãs de basquetebol que vibravam com a aproximação do começo do campeonato universitário. A CBS, que adquiriu os respectivos direitos exclusivos de retransmissão durante onze anos, por 6,6 mil milhões de euros, teve de recorrer a uma das suas cadeias por cabo para poder encontrar os horários pretendidos, perdendo com isso 20 por cento da audiência, segundo um porta-voz da empresa citado pela AFP."