Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fernando Horacio da Matta

FUTEBOL / COPA 2002

"Dos estádios aos estúdios", copyright Comunique-se, 9/5/02

"Até o início da década de 80, os clubes de futebol no Brasil viviam da arrecadação dos jogos e da contribuição dos sócios. Ou, ocasionalmente, da venda do passe de algum jogador para reequilibrar as finanças. Ou, já então muito raro, da doação de algum figurão abonado e apaixonado. A partir de então, a comercialização do esporte alterou substancialmente esse cenário, com a inclusão de vários fatores:

? chegada de fortes patrocinadores;

? promotores e implementação do marketing esportivo;

? verbas da televisão pelos direitos de transmissão;

? fabricantes e fornecedores de material esportivo;

? a exploração da marca (escudo, camisas, bandeiras, cores, símbolos, os mais diversos objetos etc.) para o consumo dos torcedores.

Mas os clubes, as federações e a CBF não só resistem às mudanças necessárias de conceitos, organização e administração, como as impedem, no intuito de manter os privilégios nebulosos de determinados dirigentes.

Debilitados financeira e economicamente, os clubes passaram a vender seus craques e ídolos para o exterior. Dessa forma, baixaram a qualidade dos times e, lógico, dos jogos, o que resultou na queda de interesse e na fuga do público dos estádios. Os patrocinadores – vale citar entre outras a ISL, a Hick Muse, o Bank of América, que assimilou o Nations Bank, e a Parmalat – assustados com o descalabro das administrações, romperam seus contratos. Diluíram-se, com isso, as empresas de licenciamento criadas para explorar marcas, vítimas também da concorrência incontrolável da pirataria. Restou a televisão como o único grande financiador.

As redes de TVs impuseram suas regras. A Rede Globo, para financiar o Campeonato Brasileiro de 2001, exigiu a volta do Fluminense e do Bahia à primeira divisão, interferiu na tabela e nos regulamentos, determinou os dias e os horários dos jogos. É a velha lei da imposição, manda quem paga. Marcar, durante a semana, uma partida para as 21 horas e 40 minutos, que com os acréscimos inevitáveis vai terminar à meia-noite, significa esvaziar as arquibancadas. Mas eis aí a grande jogada: aproveitando os piques de audiência das novelas, que antecedem os jogos, o torcedor, ao invés de sair de casa, continua preso à telinha, absorvendo as mensagens dos anunciantes.

A Globo, que adquiriu os direitos para a transmissão da Copa do Mundo do Japão e da Coréia do Sul, pela audiência em declínio do futebol, teve dificuldades em vender suas cotas de propaganda, sendo obrigada a reduzi-las. Marcelo Campos Pinto, o homem do marketing esportivo da Rede Globo, participa das reuniões do Clube dos 13 e da Liga, e revela que os investimentos direcionados ao futebol estão em baixa. Para o Campeonato Brasileiro de 2002, já avisou que haverá um corte de 25% a 30% em relação ao ano anterior. Dos 120 milhões de reais, o patrocínio cairá para algo em torno entre 80 a 90 milhões de reais. Fragilizados e dependentes, os clubes estão nas mãos da televisão, que ainda adianta dinheiro para salvá-los de situações críticas.

A ISL faliu internacionalmente e abandonou o Flamengo reclamando na Justiça um buraco de 80 milhões de dólares que injetou no clube rubro-negro, dos quais está explicado – e mal explicado – o destino de apenas 20 milhões de dólares. O Bank of América deixou o Vasco e pede judicialmente o ressarcimento imediato de quase 40 milhões de dólares cuja aplicação ignora, dos 150 milhões de dólares aplicados em cerca de três a quatro anos. Onde está esse dinheiro?

Muita gente considerou excepcional a televisão haver patrocinado o Campeonato Carioca de 2001, com plenos direitos de transmissão, pagando cerca de 40 milhões de reais. Aos quatro grandes clubes coube a parte do leão. Eles dividiram mais de 80% do total e até a Federação ficou com parte do rateio restante. Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, segundo as últimas pesquisas, somam em termos nacionais mais de 55 milhões de torcedores, ou seja, de potenciais consumidores dos produtos anunciados. Analisando-se os números, comprova-se pela relação investimento/mercado que este foi um ótimo negócio para a televisão.

Dependentes do dinheiro da televisão, os clubes, sem outras opções, entram frágeis nas negociações, sem força para impor melhores condições. Ainda que não sirva como comparação, a transmissão da temporada do futebol americano – NFL – nos Estados Unidos é vendida para televisão por 2,3 bilhões de dólares anuais. O campeonato de basquetebol da NBA vale por ano 2 bilhões de dólares. E nesses números não estão computadas as receitas provenientes dos sponsors, que praticamente dobram o ganho de cada equipe.

Envoltos em dívidas – estima-se que só o Flamengo deve hoje mais de 250 milhões de reais, ninguém sabe ao certo, nem seu Conselho Fiscal, tal a desorganização que por ali campeia – os quatro grandes clubes cariocas decidiram se retirar do Clube dos 13 e a Liga Nacional, voltando aos braços ignóbeis do Caixa d?Água da Federação do Rio e do Ricardo Teixeira da CBF. Querem reviver, como se fosse possível, os áureos tempos do Campeonato Carioca, desprezando as competições regionais e nacionais.

A CBF de hoje suga os clubes para que seus mandatários vivam nababescamente. A AFA – Associação Argentina de Futebol – quando fechou com a Adidas um contrato de 80 milhões de dólares para fornecimento de material, destinou aos seus filiados 75% desse total. A CBF firmou com a Nike o contrato de 400 milhões de dólares (metade em moeda e metade em material) e sequer convidou os clubes para festa, muito menos lhes deu um cent.

As CPIs do Senado e da Câmara Federal levantaram – em todos os níveis – ilícitos graves, desvio de dinheiro, sonegação fiscal cometidos sobretudo pelos presidentes da CBF, da Federação, do Vasco e do Flamengo, entre outros. Um tem seu processo de cassação como Deputado Federal postergado sabe-se lá por quais artifícios, outro está com ordem de prisão decretada, sendo investigado pela Receita Federal e pelo Ministério Público. O Botafogo saiu pela solução de nomear como vice-presidente um corretor zoológico, contraventor com passagens pelas carceragens do Rio, para tentar salvá-lo da bancarrota.

Os dirigentes cariocas, porém, preferem se juntar a Ricardo Teixeira e ao Caixa d?Água para colher migalhas e levar o futebol carioca ao estado de penúria em que se encontra, derrotado e na miséria. Batem de frente com os interesses da televisão, se isolam e agravam a crise. Marcelo Campos Pinto já anunciou que a Rede Globo não vai investir um tostão nesse Campeonato Carioca, previsto para ser disputado na mesma época da Copa do Mundo, absurdo inconcebível.

A atitude quixotesca, inadequada e estreita desse quarteto de trapalhões, subtrai qualquer credibilidade para negociar em tom de igualdade com a televisão. Além do endividamento insanável, estão de dois a cinco meses com os salários atrasados. Os jogadores reclamam, os atletas perdem o emprego, os funcionários passam fome. Desafiar a televisão é suicídio, é ignorar a tábua de salvação.

Eles deveriam, mais do que nunca, rememorar a advertência do ex-presidente da FIFA, João Havelange: ?Em breve, o futebol deixará de ser disputado nos estádios para ser jogado nos estúdios?. Fato é que, como se pode ver mundo afora, com máximo de tecnologia para a teletransmissão do espetáculo, os projetos dos estádios modernos o transformam em imensos estúdios, as arquibancadas em tribunas quais auditórios superdimensionados, e os torcedores em prestigiados figurantes. Mas isso é coisa de primeiro mundo, onde não existe lugar para estapafúrdios como o Dr. Caixa d?Água e seus acólitos. (Fernando Horacio da Matta é jornalista e professor da Fundação Mudes. Tem passagens pelos grandes veículos de Comunicação do país, como o Jornal do Brasil, Jornal dos Sports e a extinta Manchete. Nos últimos anos, participou como debatedor em programas esportivos de TV, como Espaço Aberto (Globonews) e Bola da Vez (ESPN-Brasil). Chefiou a Assessoria de Comunicação de Furnas Centrais Elétricas. Elaborou os projetos editoriais e coordenou as edições dos livros oficiais dos centenários do Clube de Regatas do Flamengo (?Um Século de Paixão?) e do Clube de Regatas Vasco da Gama. Em 1989, comandou a Assessoria de Imprensa da Campanha de Mário Covas. Escreveu em parceria com Márcio Braga, ex-presidente do Flamengo, o livro ?O Futuro É Rubro-Negro?, e o livro de contos Happy-Hour, em fase de edição. Da Matta é mais um colaborador que escreve nesta coluna, durante as férias de Eduardo Ribeiro.)

 

"Regra da Fifa impede 4 milhões de ver Copa", copyright Folha de S. Paulo, 10/05/02

"A Globo pagou US$ 150 milhões (outros US$ 70 milhões foram repassados à Globosat) pela Copa do Mundo de 2002, mas não vai poder transmitir os jogos em sinal aberto via satélite. Ou seja: quem possui antena parabólica convencional não vai ver a Copa, a não ser que tenha outra alternativa.

A restrição, segundo a Globo, foi imposta pela Fifa. Seu objetivo seria impedir que operadoras de TV paga de países vizinhos ao Brasil ?pirateiem? o sinal da Globo e transmitam o Mundial sem pagar por direitos de exibição.

Estima-se que existem hoje entre 7 milhões e 10 milhões de antenas parabólicas no Brasil. De acordo com o ?Atlas de Cobertura? da TV Globo, 1 milhão de domicílios com TV no país recebem o sinal da emissora via satélite, por parabólica. Esse número equivale a 2,5% do total de domicílios com TV (41 milhões) e representa cerca de 4 milhões de telespectadores potenciais.

O total de prejudicados, no entanto, deve ser maior. Os dados da Globo se referem a 625 municípios em que sua cobertura não chega por via terrestre. Não levam em consideração, por exemplo, áreas da Grande São Paulo (principalmente favelas) em que há grande concentração de parabólicas porque a recepção por transmissão terrestre é ruim. Também não consideram áreas rurais e litorâneas de regiões mal cobertas por suas afiliadas. Só a Globo irá exibir a Copa em TV aberta.

OUTRO CANAL

Elenco 1

A ?princesa? Carola Oliveira vai participar de ?Casa dos Artistas 3?, apesar de ter feito uma passagem fulminante pela segunda edição do programa. Ontem, o SBT confirmou os seis artistas que estarão na atração, que estréia dia 2 e terá seis fãs.

Elenco 2

Além de Carola Oliveira, Luiza Ambiel e Jorge Pontual (que já estão aparecendo em chamadas), integrarão ?Casa 3? o modelo Flávio Mendonça (irmão de Gustavo), o cantor Agnaldo Timóteo e a personal trainer Solange Frazão. O desafio do SBT agora é encontrar fãs de ?artistas? como Carola e Solange.

Pacote

A TV Globo já pensa em uma segunda edição do ?reality show? musical ?Fama?. Se vingar para o segundo semestre, poderá ocupar o horário nobre, aos sábados à noite. A emissora já estuda, também, um quarto ?No Limite? para o final do ano.

Binário

Apesar das divergências políticas, o SBT afirma que nunca acenou com simpatia para nenhum padrão de TV digital (americano, japonês ou europeu). Diz apenas que defende um padrão que ofereça mobilidade (como o japonês).

Batismo

Otaviano Costa grava hoje na Record o primeiro piloto (programa-teste) do ?Compressão?, ?game show? com artistas e anônimos com estréia prevista para o dia 19, das 12h às 13h30."


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"Ministério pede fim de exclusividade esportiva", copyright Folha de S. Paulo, 6/05/02

"Em pareceres concluídos no último dia 26, a Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico), do Ministério da Fazenda, sugere a extinção de contratos de exclusividade de direitos esportivos nacionais detidos pela Globosat (programadora de canais pagos da Globo) e pelo canal ESPN Brasil. A Globosat detém exclusividade de quase todos os campeonatos nacionais de futebol.

Os pareceres embasarão julgamento do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que não necessariamente irá seguí-los) de dois atos de concentração: um em que a Globosat compra 25% da ESPN Brasil e outro em que Globosat, Fox e ESPN se associam para lançar o canal Fox Sports (que irá substituir o ESPN International).

Os relatórios da Seae aprovam as duas operações, mas com restrições: impede que o ESPN Brasil e o Fox Sports sejam vendidos com exclusividade ou por preços superiores aos pagos pelas operadoras da Net e afiliadas à Net Brasil (empresa da Globo que distribui programação de TV paga).

Os documentos concluem que, com as duas operações, a Globosat terá ?poder de mercado? sobre os canais esportivos, por ser sócia de quase todos (menos no Bandsports, a ser lançado). E sugerem a abertura de processos administrativos contra Globosat e Net Brasil por política de exclusividade que inibe a concorrência. As empresas não se manifestaram.

OUTRO CANAL

Leite

O patrocínio da Nestlé ao ?Show do Milhão? foi o melhor negócio realizado pelo SBT neste ano. Pelo acordo, fechado em fevereiro, a empresa irá pagar R$ 32 milhões de patrocínio durante quatro meses. E irá bancar R$ 19,2 milhões (R$ 400 mil por programa) de custos de produção (hospedagem, prêmios etc). Foi a salvação. As recentes edições com cantores, apesar da boa audiência, não conseguiram atrair patrocinadores especiais.

Alternativa

A cúpula da Globo decide nesta semana se coloca no ar às quartas, após ?O Clone? ou ?Big Brother Brasil 2?, o programa ?Os Normais?, atualmente às sextas. Seria um tapa-buraco durante a Copa do Mundo, quando não haverá futebol às quartas.

Retorno

O novo programa de Otaviano Costa na Record deve estrear no próximo dia 19, das 12h às 13h30, no lugar do ?Domingo Show?, de Gilberto Barros, que fechou com a Band. Será um ?game show? com quadros musicais.

Parto

A Globo finalmente comprou os direitos autorais de ?The Weakest Link?, ?game show? que faz sucesso na TV britânica. Em estudo desde setembro como quadro do ?Domingão do Faustão?, deverá entrar no ar com o nome de ?O Elo Mais Frágil?.


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"Globo proíbe reprise da Copa em bar e hotel", copyright Folha de S. Paulo, 7/05/02

"Em comunicado publicado ontem em jornais, a TV Globo e a Globosat (programadora do canal pago SporTV) anunciaram que está proibida a exibição de videoteipes de jogos da Copa do Mundo em locais de frequência coletiva, como bares, restaurantes, shoppings, hotéis e eventos.

Segundo o documento, a exibição só poderá ocorrer em transmissões ao vivo, desde que ela se inicie cinco minutos antes e termine cinco minutos após o fim das transmissões, sem cortes de intervalos, anúncios e marcas de patrocinadores. E, mesmo nesses casos, não poderá haver cobrança de ingresso, realização de sorteios, distribuição de brindes, comercialização de patrocínio ou associação com qualquer marca, inclusive a do estabelecimento. O veto atinge também políticos.

O comunicado frustou bares, restaurantes e hotéis que pretendiam tirar proveito da Copa 2002, que será de madrugada, exibindo reprises durante o dia.

Os advogados da Abred (Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados) já estudam o caso. Embora concorde com a proteção a patrocinadores, a entidade acha a medida restritiva e vai tentar negociar pelo menos a liberação de promoções e sorteios.

A Globo e a Globosat dizem estar amparadas em lei que cobra direito autoral pela exibição de DVDs e fitas VHS em público e que as proibições estão previstas em contrato com a Fifa.

OUTRO CANAL

Alerta 1

Pela segunda semana consecutiva, o ?Domingo Legal?, do SBT, perdeu para o ?Domingão do Faustão? _desta vez pré-gravado, o que é quase uma humilhação para o ex-líder absoluto. O placar foi de 28 a 25 pontos a favor da Globo, alavancada pela primeira final do Torneio Rio-SP, que goleou o SBT por 37 a 15.

Alerta 2

Pesquisas da Globo apontam que desde novembro o apresentador Gugu Liberato vem apresentando ?problemas de imagem?. Os telespectadores dizem, entre outras coisas, que ele ?está chato?. O ?Domingo Legal? vai tentar reagir com modelos que tiram a roupa enquanto lêem notícias.

Sopa

No sábado, o ?Fama?, da Globo, deu 16 pontos, apenas um a mais do que o ?Programa Raul Gil?. Antes, e com o ?Amor a Bordo?, o ?Caldeirão do Huck? voltou a perder da Record, por 15 a 14. No domingo, ?Casa dos Artistas? perdeu para o ?Fantástico? (pela segunda semana) por 29 a 33.

Encrenca

Executivos da Fox anunciaram a 25 publicitários brasileiros, em Nova York, que o grupo irá lançar no Brasil, com sinal em português, o canal de notícias Fox News. A Fox é sócia da Sky, controlada pela Globo, que tem acordo com a Turner impedindo o lançamento da CNN em português (para proteger a Globo News). Se o Fox News entrar na Sky, o acordo deve virar água."