Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fernando Martins

JORNAL DE NOTÍCIAS

"Que limites à intervenção dos leitores nos jornais?", copyright Jornal de Notícias, 8/6/03

"Consumidores de informação querem ter um papel mais participativo nos seus ?media?

Os momentos de crise conduzem, frequentemente, a debates ricos de conteúdo e férteis em conclusões cuja aplicabilidade acaba, quase invariavalmente, por ser postergada. As medidas propostas são, grande parte das vezes, imoladas às soluções de recurso, ditas transitórias, ou simplesmente tornadas desnecessária perante uma recuperação que todos saúdam mas que poucos entendem.

Um desses temas de discussão é recorrente e tem a ver com os limites da intervenção, nos ?media?, dos seus consumidores.

Não espanta que, hoje, perante o acelerado protagonismo dos jornalistas e face às acusações de desvios éticos dirigidas a diversos ?media?, volte a falar-se de uma regulação na qual muitos esperam que os consumidores (leitores, ouvintes e espectadores) venham a ter um papel relevante.

Alberto Tinoco dos Santos, de Lisboa, dirige ao Provedor três perguntas:

? Será a exploração mediática dos casos da pedofila induzida subliminarmente por forças que pretendem desviar as atenções de problemas muito mais importantes para a nação e incómodos para essas forças?

? A participação dos leitores nos ?media? deve ser restringida às cartas ao director, à participação nos fóruns e à intervenção ou figuração nos programas televisivos?

? Porquê os consumidores, em vez de darem apenas cobertura aos ?media? (pela sua preferência), não participam na definição e na fiscalização da linha editorial dos órgãos de comunicação social?

A verdade é que as três perguntas estiveram igualmente presentes (ainda que não com a mesma formulação), num seminário organizado sob a égide de ?O Primeiro de Janeiro?, da Câmara do Porto e do Instituto da Droga e da Toxicodependência (sábado passado, no Palácio do Freixo), e num debate que o Jornal Universitário do Porto promoveu, na sua sede, na segunda-feira seguinte.

A verdade é que (e o Provedor tem-no afirmado repetidamente) os ?media? são, de uma forma geral, diariamente escrutinados ? justamente pelos seus consumidores. Quando continuam a comprar ou quando mudam de jornal, através da fidelização a uma rádio, ou quando manifestam a sua insatisfação no comando do receptor de televisão. São os consumidores que orientam as audiências, que representam o único esteio substantivo dos ?media?.

Por outro lado, os consumidores têm, também, o recurso aos provedores ? ainda que representando uma instância que nem todos os ?media? abraçaram (há, fora de Portugal, alguns provedores também para as rádios e para as televisões).

O Provedor é, de facto, a porta aberta à participação dos leitores no aumento da qualidade dos jornais, uma vez que as críticas e as sugestões que lhe são endereçadas não deixam de ser analisadas pelas várias instâncias dos jornais que, em nomedas audiências, e portanto da receita da publicidade, não podem deixar de perseguir objectivos que se aproximem o mais possível das preferências dos seus leitores.

Porém, existe em Portugal, admitamo-lo, um défice de participação cívica ligada à exigência. Não estamos habituados a exigir de nós próprios nem dos outros. Aceitamos com preocupante passividade sermos mal servidos na política, num restaurante, num transporte público ou no jornal que compramos.

Sem nos lembrarmos de que, sem a nossa exigência individual, chegaremos muito tarde a um país colectiva e civicamente exigente.

Como em todos os outros sectores, os ?media? são aquilo que os seus consumidores deles exigirem. E exigir não será só (nem principalmente) criticar à mesa do café, censurar no círculo restrito dos debates fechados; insinuar nas colunas de opinião, ou exigir mecanismos de controlo ? por incapacidade de afirmação ou por outros interesses inconfessados.

Exigir é, antes do mais, saber rigorosamente o que se quer, ou, talvez melhor, aquilo que se não aceita. E lutar pelos nossos direitos, pelas nossas necessidades — em que têm preponderância o livre acesso a uma informação verdadeira e equidistante, que, respeitando a presunção da inocência de todos os arguidos, e a todos dando o direito de defender-se, não viole os elementares direitos ao bom nome, à dignidade e à privacidade.

O contacto com o Provedor pode ser feito pelo correio, pelo fax 222002861 ou, por computador, para os endereços provedor@jn.pt ou fmartins@jn.pt

Carlos Rocha, leitor do Porto, diz que acredita que o jornalista autor da peça ?Ferro depõe hoje? (2? página de quarta-feira finda) saiba contar até três. Mas não aceita que deixem passar um erro como o do destaque com o título ?Saber mais?.

Lia-se claramente que , no final do depoimento, Ferro poderia sair do DIAP com um de dois estatutos:

? testemunha

? arguido

? preso preventivo

…O que valerá por dizer que dois é igual a três!

Para que não fiquem quaisquer dúvidas nos leitores em termos de credibilidade do jornal, a Direcção do ?The New York Times? (Howell Raines e Gerald Boyd) demitiu-se na quinta-feira de manhã. Foi apenas mais uma consequência dos escândalos de Jayson Blair (repórter responsável por plágios e por falsificação de testemunhos), e de Rick Bragg, vencedor de um ?Pulitzer?, que assinou um trabalho sem mencionar um colega, que com ele participara na elaboração da peça jornalística.

Raines, director, e Boyd, director adjunto, chamaram a si a partilha da responsabilidade dos dois jornalistas já que, em sua opinião, deveriam ter criado mecanismos eficientes de prevenção de graves erros como os de Blair e Bragg.

Arthur Sulzberger, presidente da empresa, e membro da família que, há mais de um século, controla o jornal, ainda que lamentando a saída da Direcção, aceitou a decisão dos directores como sendo a melhor forma de tentar recuperar a imagem de que o Times novaiorquino conquistou ao longo dos anos. Qualquer dos dois jornalistas que agora abandonaram a Direcção tem um invejável currículo (Raines conquistou um ?Pulitzer? em 1992."