Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fernando Martins

JORNAL DE NOTÍCIAS

"As muito grandes pequenas incertezas", copyright Jornal de Notícias, 22/6/03

"Uma explicação muitas vezes simples aumenta a confiança e valoriza a informação.

Já nos anos 60, quando se discutiam os caminhos da imprensa em face da crescente e agressiva concorrência da televisão, J. Nycoope, então director do jornal sueco ?Expressen?, citou a fórmula que, quase quatro décadas depois, ainda tem aplicação escassa — talvez porque a sua adopção traz consigo pressupostos de difícil concretização.

Para Nycoope acabara, já nessa altura, no suporte papel, o tempo do ?aconteceu ontem?. Rádios e televisões tinham chamado sua a informação instantânea, e aos jornais estava reservada uma missão bem mais complexa: explicar as notícias e perspectivá-las. Agora há argumentos ainda mais poderosos para reforçar e tese do jornalista sueco — como, por exemplo,a informação ?on line?.

Hoje, mais do que nunca, os consumidores dos ?media? necessitam de ser esclarecidos — às vezes sobre questões aparentemente insignificantes. E quase sempre a resposta às suas dúvidas, muito simples, acaba por ser um instrumento de credibilização muito importante.

Silvino Macedo Martins, do Porto, não entende como a telenovela ?Saber Amar?(TVI) estásempre mais bem posicionada em termos de audiências quando, na opinião do leitor e por ele partilhada com diversas pessoas, ?Amanhecer? tem mais qualidade.

A telenovela é apenas um caso que faz germinar a dúvida de Silvino Martins, já que muitos outros programas reforçam nele a sensação de injustiça. Daí que tivesse solicitado ao Provedor que promovesse uma explicação de ?como se chega aos valores publicados nas secções ?Televisão?, ?Antena? e ?Ranking TV ? Programas mais vistos?.

A dúvida do leitor é, decerto, desfeita pela explicação da jornalista Fernanda Gomes, editora de ?Televisão?:

?O perfil da audiência de programas e dos canais de televisão são elaborados a partir dos dados indicados diariamente pela empresa de audimetria ?Marktest?.

?Em linhas gerais, o processo que conduz àqueles resultados assenta num painel de 850 lares de todo o país (com excepção das ilhas), escolhidos de molde a representar o universo de 9,45 milhões de telespectadores. Nesses lares estão colocados os audímetros ligados aos televisores da família, os quais registam a sintonização dos programas e, em simultâneo, enviam o sinal para a empresa. Opções, mudanças de canal, tudo é registado, segundo a segundo. A partir desses elementos, projectados para o universo de espectadores, é construído o quadro de audiências.

?Embora surja, de vez em quando, alguma contestação por em Portugal, ao contrário de outros países, existir uma única empresa de audimetria, a verdade é que as estações de televisão, todas elas, as mais interessadas, acreditam nos índices da ?Marktest?, esperam os dados com ansiedade, controlam e tomam opções de programação de acordo com esses resultados. Não hesitam em remeter um programa com fraco índice de audiência, para as horas ?mortas?, quando não acabam mesmo com ele.

?Outra coisa será compreender a colocação dos programas no quadro. No exemplo citado pelo leitor, refira-se que a telenovela ?Saber amar? sendo exibida logo após o Jornal Nacional, da TVI, beneficia, logo à partida, da emissão no chamado ?horário nobre?, aquele em que há mais espectadores a ver televisão. Se a estação duvidasse da capacidade da novela para atrair público não a colocaria nesse período, pois é aquele onde a competição é mais forte, e a publicidade mais cara. A telenovela ?Amanhecer? é exibida num horário menos favorável, mais tarde, com menos televisores ligados. Refira-se, porém, que atinge sempre uma elevada, por vezes elevadíssima, quota (share) do conjunto desses espectadores. O mesmo se poderá dizer da novela ?New wave?, que passa à tarde, na SIC.

?Nível de audiências traduz consumo do público. Não é sinónimo de qualidade. Só às vezes. Podemos, mesmo, citar casos de programas de indiscutível grande qualidade, mesmo a nível mundial, e que têm índices modestos: as séries ?Os Sopranos?, ?Sete palmos de terra?, ?Os homens do presidente?, comédias da BBC como ?A minha família?, as reportagens da rubrica ?Sinais do Tempo?, as entrevistas de Ana Sousa Dias em ?Por outro lado? , entre outros.?

Erros, gralhas e… algo mais

Carla Sofia lê o JN sistematicamente na ?net? — e queixa-se amargamente de faltas de concordância, gralhas e erros ortográficos que considera uma falta de respeito para com os leitores.

Presume a leitora que a edição impressa seja mais cuidada, o que não se verifica. Em boa verdade, não pode falar-se de maiores desvelos para uma edição do que para outra.

Salvo acidentes de mudanças de última hora numa página, o conteúdo da edição de papel corresponde ao que pode ler-se no computador. Com os mesmíssimos erros (gralhas e não só).

A edição electrónica, para desespero dos seus leitores, acumula, ainda, todas as falhas da irmã mais velha… com os reflexos do desajustamento do programa informático que produz esta última ao sistema que suporta o ?site? do JN.

Daí os empastelementos nos pós-títulos e nas ?Breves? para além de outras falhas como algumas descodificações erradas, de que também se vêm queixando alguns leitores.

Até porque os lamentos em relação ao jornal em papel continuam.

Vejamos:

Chamar (dia 11, página 2) Jorde de Sena ao nosso Jorge de Sena (?ou será um catalão qualquer??, ironiza Carlos Rocha) não é grave. Mas afirmar-se, num título a cinco colunas (edição de terça-feira última, em ?Política?) que ?Xanana pede aos poderosos para auxiliarem a Indonésia?, quando no corpo da notícia se diz, como deve ser, que o presidente timorense pediu auxílio, isso sim, para os países vítimas das ditaduras como a Indonésia — já não merece benevolência. ?Será que ninguém viu o absurdo da afirmação?!?, pergunta Alfredo Barbosa, de Corroios!

O leitor alerta para que ?há erros e erros?. E confessa: ? A mim repugna-me ver a terceira pessoa do presente do indicativo do verbo haver escrita sem ?H?. Mas o título do Xanana indicia outras coisas…?"