Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha

DEVER DE CASA

Alex Gonsalves (*)

Quando se analisam manchetes, títulos, fotos, legendas e matérias de um jornal, é possível perceber vários posicionamentos políticos. Tendo como base estes parâmetros, não é preciso ser expert no assunto para saber que a Folha de S.Paulo é contra o governo federal, comandado por FHC, e a favor do candidato da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. O Estado S. Paulo , o contrário. Quando os dois jornais mais importantes do país cobrem a mesma pauta tornam-se nítidas as posições de cada um. Não é diferente no que se refere à cobertura das eleições 2002. A Folha dedica mais espaço ao assunto, um caderno exclusivo.

O posicionamento de esquerda da Folha é visível na própria diagramação. Sempre a página principal estampa a campanha de Lula e Ciro. Vez ou outra, aparece como principal assunto a campanha de Serra, mas geralmente referentes a aspectos negativos. Quando aparecem fotos dos três candidatos, a de Serra sempre está embaixo, quando não menor. As fotos evidenciam os candidatos da esquerda em posição de vitória, alegria, enquanto Serra aparece com fisionomia desfavorável. As legendas fazem o mesmo.

Nos títulos e manchetes, percebe-se que a estratégia é agravar as denúncias e fraquezas de Serra, e restringir o espaço às atuações positivas. Com Lula e Ciro é o contrário: atuação positiva e denúncias amenizadas. Não há nada demais em denunciar ou elogiar um candidato. O problema está em fazer isso em detrimento dos demais. Numa cobertura de eleições espera-se a neutralidade dos veículos de comunicação. Mas desenvolvem-se técnicas para disfarçar a torcida, muitas vezes verdadeira obra de arte, tamanho o talento dos artistas-editores em camuflar a ideologia.

O terceiro lado

O problema não ocorre somente com a Folha, pois o Estadão faz tudo isso, só que numa posição inversa, a favor do governo e de José Serra, utilizando-se das mesmas armas.

É claro que nada disso é tão explícito, tornando a análise ainda mais interessante. Dificilmente a maioria da população brasileira, que infelizmente não tem senso crítico desenvolvido o suficiente, perceberia tal posicionamento numa análise superficial. Tal situação se repete também em outras mídias, vide as rixas ideológicas entre as revistas Veja, Época e Istoé, ou entre Globo, Band, Record, Cultura, SBT.

Restam duas possibilidades: conformar-se, porque "pelo menos há dois lados", ou pensar, e descobrir um terceiro.

(*) Pedagogo, aluno do 3? ano de Jornalismo do Unasp