Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha insiste em neutralidade, convém desconfiar

COBERTURA ELEITORAL

Fascinado pela numeralha, o jornalão volta à carga com uma enquete realizada entre os assinantes. Como é que o eleitor vai lembrar-se do comportamento do seu jornal há quatro anos, nas eleições de 98? E por que voltar ao assunto depois da consagração estatística do domingo anterior?

Este novo show de santidade pode ter duas razões:

** Surto de narcisismo.

** Consciência culpada.

A segunda hipótese faz sentido. Dois dos quatro candidatos reclamaram da falta de isenção na edição, informação e opinião do jornal. O primeiro, José Serra, contrariando o que a própria Folha diz dele, queixou-se de forma educada. Agora Lula "botou pra quebrar" num almoço com o alto comando do jornal.

Ciro Gomes não tem de que se queixar, feliz com o desempenho eleitoral do jornal. Seu mentor, Mangabeira Unger, colunista da página 2, funcionou como trampolim da sua candidatura até que este Observatório estrilou. Depois foi a campanha para mostrar a companheira careca numa lamentável falta de pudor. Este Observatório também estrilou: se todas as mulheres que fazem quimioterapia e perdem o cabelo forem transformadas em cabos eleitorais, os marqueteiros não terão mais o que fazer nas eleições.

Quieto também está Garotinho. Seu celebrado faro de comunicador ainda não registrou que as constantes proclamações de neutralidade da Folha podem servir de gancho para alguma reclamação.

 

A reclamação de Ciro Gomes contra o favorecimento da Folha ao candidato José Serra (terça, 23/7, pág. A 4) só confirma o que acima vai dito.

A matéria oferece todos os elementos para comprovar que a Folha está com a consciência culpada e preocupada com as repercussões do incidente ocorrido durante o almoço com Lula, poucas semanas depois das reclamações do candidado do PSDB.

Ei-los:

** A acusação de Ciro veio a reboque de uma declaração provocada pela reportagem da Folha a respeito do coordenador de sua campanha, José Carlos Martinez.

** A dita acusação ocupa apenas cinco linhas, o caso de Martinez ocupou 78.

** O fato de um assunto tratado tangencialmente ser magnificado no lide não é procedimento lógico nem jornalístico. É artificial. Para mostrar aos que tomaram conhecimento das reclamações de Lula que se todos os candidatos reclamam do jornal, então o jornal é neutro.

** Outra prova de que a edição da página obedeceu a critérios da política empresarial está na matéria principal da mesma página: “Ciro troca coordenador citado em caixa dois do PR”. Nesta matéria não há nenhuma declaração de Ciro. Mas deveria. A matéria subseqüente, montada na entrevista de Ciro, devia estar relacionada com a anterior e com a tal de 78 linhas (sobre o caso Martinez) e, não, nas cinco linhas de queixas do candidato.

Synapsis = ação de juntar. (A.D.)