Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Frias e sua aura (nada) mágica

"A ESTRELA SOBE"

José Rosa Filho (*)

O artigo A estrela sobe, de Otavio Frias Filho (Folha de S.Paulo, 24/1/02, pág. 2,) mais parece um lamento, musical ou não. Algo assim como aquele torcedor de futebol que, ao ver seu time ameaçado de rebaixamento, agride jogadores e técnico com palavrões. No fundo, ama o time eternamente, e lá estará no próximo jogo, para o que der e vier.

Frias deixa de lado o essencial, o crime, e deplora a subida da estrela petista. Diz ele, sobre a situação do PT após o seqüestro de Celso Daniel: "A condição de vítima gera simpatia, reforçada pelo raciocínio palmar: se estão atraindo a violência brutal de bandidos, é porque algo de bom devem estar fazendo". Precisa mais para mostrar a mágoa do articulista? Outra pérola: "E a candidatura Lula, condenada ao matadouro do segundo turno como a de Maluf, pode ter recebido a aura mágica que lhe faltava desde 1989". Ou ainda: "O assassinato do prefeito de Santo André (…) legitima o ingresso do PT no arco de partidos da ordem (…) aumenta a simpatia emocional, quebram-se resistências do ângulo racional".

Ora, ora, prezado Frias, então é preciso ao PT, depois de tudo que já fez como organização partidária, com diversos candidatos eleitos Brasil afora, "depender de violência brutal de bandidos" para provar que fez algo de bom neste país da desesperança?

Mas o que motiva a reação é o "aura mágica que lhe faltava desde 1989". Frias sabe mais do que ninguém que a mídia, na qual ele é um dos mais poderosos, conduziu todo o processo eleitoral, "fazendo" o voto do eleitor ? eleitor massacrado pela propaganda às claras ou subliminarmente conduzida pelos meios de comunicação.

Pode Frias ficar tranqüilo: a crise do governo Geraldo Alckmin (pelo contrário, o prefeito assassinado está virando ? mágica da mídia ? o culpado de sua própria morte), ou de qualquer governo que faça parte dos planos de continuísmo, não levará à derrota Serra, Roseana ou qualquer um que se filie às forças do governo. Estamos ainda em janeiro, outubro está longe. Até lá, os que hoje "lamentam" o assassinato do prefeito de Santo André poderão rir por último, rir sobre dois, três, dezenas de cadáveres que, até antes das eleições, apareçam fuzilados numa rua qualquer desse Brasil sem rumo.

Como se diz na gíria dos malandros: fique frio, Frias. Com essa mídia, tudo indica que o bolo continuará a ser repartido entre os mesmos de sempre, os que não permitem e não desejam que o Brasil afinal acorde, que o Brasil tenha saúde, educação, futuro.

(*) Aposentado