Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

"Férias" involuntárias

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MONITOR DA IMPRENSA

COMBATE À CRISE

Os funcionários demitidos da Dow Jones com certeza gostaram de saber que seu chefe teve férias terríveis no Caribe, contam Beth Piskora, Jéssica Sommar e Erica Copulsky [The New York Post, 15/4/01]. Alegando drástica queda no faturamento de anúncios, Peter Kann, executivo-chefe da Dow Jones e publisher do Wall Street Journal, anunciou no dia 12 de abril que os lucros caíram 82%. Como resultado, a companhia disse que 202 pessoas seriam demitidas e outras 300 poderiam perder o emprego por tabela.

Kann contou sua terrível experiência nas férias ao Weekend Journal, publicado um dia após o anúncio de que alguns funcionários teriam férias coletivas forçadas. Recapitulando sua nada agradável estada num resort, reclamou das longas filas para comida, transporte e check-in, das poucas toalhas e da ausência de frigobar no quarto.

No dia 6, o chefe da Walt Disney Co. sentou-se com o grupo da ABC News para discutir os futuros cortes que a empresa terá de fazer, informou Howard Kurtz [Washington Post, 16/4/01]. Durante a reunião, Michael Eisner foi desafiado por alguns jornalistas, mas o saldo final parece ter sido positivo, segundo funcionários que presenciaram o encontro.

Ted Koppel, âncora do Nightline, pediu que Eisner prometesse que o setor de notícias não seria atingido. Ele argumentou que nem os cartunistas, "alma" da companhia, seriam poupados, e Koppel citou colegas que perderam a vida em reportagens, para enfatizar que a profissão é muito mais perigosa que a de desenhista.

Outro integrante da equipe questionou os bônus dados aos altos executivos da Disney. Eisner, que recebeu US$ 11 milhões no ano passado, afirmou que não recebera bônus algum em 1999.

Em 1? de abril a Audit Bureau of Circulations (ABC) estipulou novas regras que poderão ajudar os jornais a recuperar o fôlego para enfrentar a crise que atinge todo o setor nos EUA. A partir deste ano, os exemplares vendidos em larga escala poderão ter preços mais baixos e ainda assim serão consideradas "circulação paga". Além disso, também será permitida a venda de exemplares com grandes descontos.

Segundo Robert Neuwirth [Editor & Publisher, 17/4/01], mesmo que os jornais não aproveitem a novidade muitos deles terão um aumento modesto no número de circulações, mas ainda assim a indústria parece dividida. A maioria das grandes publicações é a favor, uma vez que as novas regras possibilitarão novas e criativas formas de oferecer descontos, mas as pequenas acreditam que os fortes descontos dos maiores jornais podem esmagá-las.

Outros, como Jack Klunder, vice-presidente do Los Angeles Newspaper Group, acreditam que com a alta dos preços de impressão combinada à recessão econômica, muitos jornais não darão grandes descontos. E se a maioria se utilizar das novas regras para fazer seu número de exemplares em circulação parecer maior, porém menos crível? Para o diplomático Klunder, cada empresa deverá ter o bom senso de avaliar se a circulação em grande escala interessa ou não a seus anunciantes.

As três grandes mudanças imediatas ? exemplares vendidos com até 75% de desconto serão considerados no total de circulação paga (antes o valor era de 50% de desconto); venda em larga escala também passará a ser considerada circulação paga; inclusão da análise do público-alvo de cada jornal, indicando em média o número de vezes que um mesmo jornal passa por diferentes mãos ? devem requerer dos jornais mais detalhes sobre vendas e circulação. "Para ter uma flexibilidade maior de preços, é preciso maior transparência", disse S. Scott Harding, da Newspaper Services of America (NSA). "Anunciantes experientes têm pouco interesse no número total de circulação", disse Harding. "Eles olham para números mais sofisticados, que mostram como os jornais circulam nos mercados que querem atingir". Para ele, as novas medidas darão aos anunciantes maior poder de negociação de preços com os jornais.

DIETA GERAL

Os dois principais diários de Filadélfia, importante cidade dos Estados Unidos, estão encolhendo. A impressão é de que o Philadelphia Inquirer e o Philadelphia Daily News passaram a publicar imagens menores em formas maiores, devido ao aumento da margem, a partir de 16 de abril. O tablóide Daily News anunciou que passará por um replanejamento total, incluindo nova fonte no nome. As informações são de Bill Bergstrom [Associated Press, 16/4/01].

Muitos jornais dos Estados Unidos ? e do Brasil também ? vêm adotando páginas menores [ver remissões abaixo]. "Nos últimos dois anos houve uma espécie de varredura na indústria, devido aos aumentos do preço de impressão", afirmou John Morton, analista de indústria midiática da Morton Research Inc.

Robert J. Rosenthal, editor do Inquirer, confirmou que a questão é financeira. Falando sobre experiências em outros jornais, Rosenthal pareceu animado. "Pesquisas indicam que os leitores gostaram da mudança, afirmando que o manuseio ficou mais fácil sem comprometer o conteúdo." Em julho de 2000, pesquisa da Associação Americana de Jornais indicou que, entre os 554 jornais participantes, 290 fizeram a modificação, e outros 127 planejavam fazê-la.


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