Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Futuro triste para nossa imprensa

ABI

Gustavo Barreto (*)

Em termos de mídia independente, para que serve a Associação Brasileira de Imprensa nos dias de hoje? Sempre me disseram que a ABI foi um instrumento de lutas diversas na ditadura e em outras épocas turbulentas. E hoje, o que faz? Para a mídia independente, na qual incluo humildemente este jornal, temo que nada. Espero estar errado por ser ainda muito ignorante, mas foi o que percebi ao visitar a associação.

Meu objetivo: conseguir algum direcionamento para oficializar ou cadastrar nosso jornal. Quem me atendeu, o diretor-secretário Carlos Artur Pitombeira, foi extremamente receptivo, e no início me deu grande atenção. Falei, após alguns poucos minutos de apresentação, que o jornal era virtual. Ele me explicou, educadamente, que não existe legislação para a imprensa online, e que ele nada poderia fazer. Tudo ótimo. Até aí.

Neste momento, tivemos uma pequena divergência sobre a questão dos jornais impressos. Segundo o Sr. Pitombeira, a legislação vigente, que é de 1967 ? período da ditadura militar, nunca é demais lembrar ?, permite que qualquer jornal impresso que não tenha autorização dos órgãos competentes seja recolhido, tirado de circulação. Sustentei, gentilmente, que a ABI ? democrática que é ? deveria questionar esta lei, que vai de encontro à liberdade de expressão. Além disso, não há qualquer tipo de fiscalização, o que comprova um profundo desinteresse por lei tão obsoleta. A resposta do senhor Carlos Artur Pitombeira, diretor-secretário da Associação Brasileira de Imprensa, foi a seguinte: "Com a lei não se pensa".

Texto-miragem

Chamou-me de anarquista, pois ele deduziu, sem que eu dissesse nem uma palavra sobre isso, que eu era contra leis. Disse ainda ter "pena dos jovens de hoje", afirmando que "são todos iguais". Tudo isso, devo afirmar, muito educadamente. Argumentei que ele não deveria igualar todos os jovens do país, e que não deveria, portanto, fazer isso comigo. O que ele respondeu? "Mas você é igual, meu filho." Desprezada pelas grandes corporações, a ABI repete o comportamento com os pequenos e nascentes jornais. O pior foi que, antes disso tudo, tive que ouvir do Sr. Pitombeira, em toda a sua incoerência, a seguinte pérola: "Acredito que a mídia independente é o futuro do país."

Para completar, disse que tinha mais de 40 anos de profissão e que sabe como são essas coisas. Como bem analisa Renato Kress, co-autor deste jornal, se idade fosse documento ele votaria na avó dele para presidente. O jovem, na cabeça do senhor Carlos Artur Pitombeira, é "rebelde" e "polêmico". Em suma: adora uma confusão sem ter razão. E isso não é dedução minha, é citação dele. Pode-se argumentar que há jovens que assim o são. Contudo, ele caiu no erro brutal e maniqueísta de generalizar.

Sei que a ABI fez, faz e continuará fazendo muito pela imprensa nacional. Eu mesmo já estive em muitos debates na sede da associação, dentro das limitações de minha pouca experiência de vida. Contudo, o descaso com a mídia independente ? neste caso, a virtual ?, representado na atitude de um dos diretores, mostra um pouco a falta de visão desta associação, em outros tempos tão gloriosa.

Mas uma coisa, pelo menos, eu descobri neste 7 de novembro. Para um dos diretores da Associação Brasileira de Imprensa, nós simplesmente não existimos. E isso que você está lendo é uma grande miragem.

(*) Editor do jornal Consciência <www.consciência.net> e estudante de Comunicação Social da UFRJ