Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Gabriel Priolli

QUALIDADE NA TV

ASPAS

REDE PÚBLICA NA UTI

"UTI de boas intenções", copyright O Estado de S. Paulo, 18/03/01

"Uma utopia agoniza neste momento. A indigitada atende pelo nome de Rede Pública de Televisão e padece seus dias finais vitimada por uma conjunção letal de doenças político-administrativas: a falta de visão estratégica, a obsessão por resultados de curto prazo, a incapacidade de articulação das partes em favor do todo, e mais o ciúme, a inveja, a soberba, a pretensão. O que detonou o processo infeccioso que levará a RPTV à tumba foi a decisão da TV Educativa do Rio de concentrar-se num projeto de marketing e programação autônomo, anunciando o lançamento de um pacote de 25 programas. Eles substituirão aqueles que a TVE exibia simultaneamente com outras 22 estações educativas do País e que constituíam a espinha dorsal de uma rede não-comercial, planejada para ser, a médio prazo, tão forte e influente quanto a PBS norte-americana ou a BBC inglesa.

Ao contrário da televisão privada, que há mais de 30 anos articula-se em redes centralizadas e muito bem organizadas, com vantagens mútuas para a estação geradora da programação (a ?cabeça de rede?) e as estações que a retransmitem (as ?afiliadas?), o sistema de TV pública ainda é insular. Cada uma das emissoras educativas obedece a seus próprios critérios de programação e, ainda que seja abastecida por produtos oriundos dos centros mais importantes (a TV Cultura-SP e a TVE-Rio), não se obriga a exibí-los em horários pré-determinados e comuns às outras emissoras. Um Roda Viva, por exemplo, pode eventualmente não ser transmitido ao vivo em alguma cidade do País, porque a educativa local tem outro programa em seu horário e julga melhor exibi-lo posteriormente.

A RPTV era uma tentativa de romper com essa prática. Um acordo firmado em 1999 previa que, inicialmente, as TVs educativas de cada estado e suas centenas de repetidoras transmitiriam um total de seis horas diárias em comum, e em tempo real. Nesse pacote havia programas da Cultura, da TVE e de terceiros. Com o tempo, a faixa comum seria ampliada, de modo a consolidar a rede. E, dessa forma, seria mais fácil atrair para a TV pública os grandes anunciantes da TV privada, que operam em escala nacional e precisam de programas que sejam exibidos em todo o País.

Ocorre que a TV Cultura, mais financiada e menos sucateada que a TVE do Rio, tornou-se a principal fornecedora da RPTV. A própria TVE recebe da congênere paulista 60% do que exibe. E cada uma delas está ligada, com maior ou menor grau de dependência, a uma instância distinta de poder: o governo do estado, no caso da Cultura, e o governo federal, no caso da TVE. Tudo indica que o segundo decidiu cortar as asas da RPTV para evitar que a hegemonia paulista na rede continuasse. Razões políticas, portanto, e não técnicas nem, muito menos, de interesse cultural.

O argumento da TVE é de que sua audiência está baixa e o público carioca não se identifica com os programas paulistas. Muito bem, mas se é assim, porque a TVE não produz novos programas e os oferece à RPTV? Por que não trabalha para igualar-se à Cultura em volume de produção, equilibrando o provimento de programação à rede sem comprometê-la? Por que troca as seis horas diárias de RPTV por apenas duas? Com a decisão da TVE, parte das educativas de outros estados seguirão com a programação gerada pela Cultura e outra parte mudará para a programação carioca. Cada qual voltará a exibir os programas que quiser, quando quiser. Os anunciantes tão sonhados não virão. E a boa idéia da Rede Pública de Televisão, um possível e desejável contraponto à qualidade declinante da TV comercial, sucumbirá na UTI das boas intenções. (Gabriel Priolli é professor universitário, diretor da TV PUC e do programa `Vitrine’, da TV Cultura)"

GLOBO vs. DIRECTV

"Conselho julga disputa entre Globo e DirecTV", copyright Folha de S. Paulo, 14/03/01

"Começou a ser julgada no último dia 7, pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a disputa entre a operadora de TV paga DirecTV e a TV Globo. Há quase dois anos, a DirecTV -que opera via satélite, com recepção por miniparabólicas- pede ao Cade o direito de transportar o sinal da Globo.

A DirecTV acusa a Globo de favorecer a Sky, que também opera em satélite, da qual a emissora é sócia. A Sky distribui o sinal da Globo somente em algumas regiões do país, como São Paulo.

Em parecer ainda não definitivo, João Bosco Leopoldino, relator do Cade, foi favorável à DirecTV. Seu parecer determina que a Globo ceda o sinal à DirecTV ou pague multa que poderia chegar a R$ 1 milhão por dia.

O problema não é só econômico. É também técnico. A Globo afirma que não tem como ceder seu sinal às operadoras de TV paga via satélite porque prejudicaria a cobertura e o faturamento de suas afiliadas. Suas afiliadas são contra o sinal da emissora na própria Sky. Nos lugares onde a Sky tem Globo, o sinal da emissora é o da afiliada local. Nessa lógica, as operadoras precisariam de um satélite apenas para transportar o sinal das 113 afiliadas da Globo.

Pornô – O juiz carioca Siro Darlan está de olho nos programas de funk exibidos pela Rede TV! e Bandeirantes. As emissoras temem que o juiz encontre uma forma de obrigar a exibição desses programas depois das 21h. Todos vão ao ar aos sábados à tarde. O da Rede TV! abusa nos enquadramentos quase ginecológicos.

Mantra – Foi um show de clichês o primeiro capítulo da novela ?Estrela-Guia?, da Globo. Do sotaque gringo da personagem de Maitê Proença às manobras de motocicleta de Rodrigo Santoro. A audiência foi boa, 37 pontos de média, e ofuscou o ?novo? ?Território?, da Band, que quase deu traço.

Bilhete – Apesar de alguns cortes na equipe de ?Pequenos Brilhantes?, o SBT afirma que o programa foi aprovado por Silvio Santos e que continua de pé. Só não tem data para estrear.

Ônibus – A TVA inaugura na próxima segunda-feira campanha publicitária que irá durar seis meses, ao custo de R$ 1 milhão. A operadora irá anunciar em outdoor os principais filmes da semana do canal HBO. Os cartazes, que serão trocados todas as semanas, vão estar nas ruas de São Paulo, Rio, Curitiba e Florianópolis."

Volta ao índice

Qualidade na TV ? próximo texto

Qualidade na TV ? texto anterior

Mande-nos seu comentário