Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Gilberto de Souza

LIBERDADE DE IMPRENSA

“?Liberdade sim, mas para quê??”, copyright Jornal do Brasil, 11/05/03

“Professor emérito de Informação e Comunicação no Instituto Francês de Imprensa da Universidade de Paris, o doutor Claude-Jean Bertrand é um defensor da velha receita que mistura cautela e prudência na hora de os jornalistas buscarem a realidade dos fatos, no dia-a-dia da profissão. Em palestra realizada nesta quinta-feira, em Brasília, durante o seminário promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) que teve o nome de Exercendo a Liberdade de Imprensa, o mestre se disse favorável à liberdade de imprensa.

– Liberdade sim, mas para quê? A liberdade não pode ser um fim em si mesmo. Somente será válida desde que tenha uma finalidade: a defesa dos interesses mais altos da sociedade – disse.

A afirmativa seguiu-se à lembrança que o Brasil vive entre o alvorecer de um período de respeito aos direitos dos cidadãos a uma informação livre e de qualidade, ao mesmo tempo em que se agravam os riscos dos profissionais que produzem o noticiário.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, Bertrand ressaltou que apesar de os custos de produção transformarem a mídia ?inexoravelmente em uma indústria?, nem o poder do mercado nem a força dos governos têm capacidade inviabilizar a fluidez da comunicação.

– A internet, com seus milhares e milhares de jornais eletrônicos são, hoje, uma referência tanto para a sociedade quanto para a própria imprensa.

E ele vai além:

– Hoje em dia, muitos profissionais fora da chamada ?grande imprensa?, que têm alguma informação de peso, tratam de passá-la. Também percebo que, há muito tempo, algumas grandes empresas jornalísticas no mundo vêm fazendo um grande trabalho, a despeito das pressões que ocorrem tanto por conta do mercado, quanto dos governos. Penso, ainda, que isso ocorre porque os jornalistas insistem em fazer um bom trabalho. Um jornalista, meu amigo, que faz um trabalho irrepreensível na área do meio ambiente, no Havaí, fez um artigo e o encaminhou ao seu editor. Na primeira semana não saiu. Ele voltou na semana seguinte, nada feito. Ele retornou na terceira semana e, diante das desculpas para a não publicação do artigo, simplesmente disse que, caso não fosse impresso, se demitiria. O texto foi publicado – contou o professor.

O preparo técnico dos profissionais de imprensa, para Claude-Jean Bertrand, ?é um outro ponto fundamental para que o exercício da liberdade ocorra com responsabilidade?.

Um ponto nevrálgico desta discussão: a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para exercer a profissão, na opinião do o professor da Universidade de Paris, é uma questão vencida.

– Não se trata aqui da graduação do profissional, mas de seu nível de conhecimento. Jornalistas têm que ter um nível universitário de graduação. Mas não que isso seja obrigatório para o exercício da profissão, pois somente o fato de ser obrigatório já seria uma exceção à regra da liberdade – afirma.

O professor francês, doutor em Língua Inglesa, tem uma visão peculiar acerca da liberdade de imprensa e da luta que várias instituições realizam na tentativa de preservá-la.

– Liberdade pode ser também, simplesmente, a liberdade para realizar um grande negócio, a exemplo da guerra do Iraque, como quis George Bush.

E completa:

– Creio que a liberdade seja um meio, não um fim. Não se necessita da liberdade pela liberdade, mas da liberdade para se fazer alguma coisa. Existe a idéia de que liberdade é liberdade é liberdade. Que se é feliz simplesmente porque se tem liberdade. A imprensa francesa, na época da Segunda Grande Guerra, era livre. Livre para ser a mais corrupta da Europa – avalia.

Os riscos para o exercício da profissão, para Bertrand, são outro empecilho à liberdade de imprensa, embora ele seja contra os abusos e os voluntarismos próprios do arrojo profissional.

– Há riscos na profissão, quanto a isso não há dúvida. Mas muitos jornalistas morrem por nada, porque correm riscos desnecessários. No Brasil há perigo real ao se investigar o narcotráfico, mas deve-se, sempre, evitar a síndrome do He-Man – aconselha ele.”

“ANJ e Unesco criarão rede para proteger imprensa”, copyright O Estado de S. Paulo, 9/05/03

“A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Unesco vão montar uma rede nacional para a proteção da liberdade de imprensa. A rede, que terá um portal na internet e será aberta à participação de outras entidades, foi lançada ontem no seminário Exercendo a Liberdade de Imprensa, promovido pelas duas organizações, com apoio da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A rede pretende ser um espaço de troca de informações e denúncias de ameaças contra a liberdade de expressão e a livre atuação profissional dos jornalistas.

?A liberdade de imprensa corresponde ao direito da sociedade à informação e não existe sociedade livre sem imprensa independente?, disse na abertura do encontro o vice-presidente da ANJ, Jaime Câmara Junior. Apesar de não estar classificado entre os países onde a liberdade de imprensa está ameaçada, o Brasil tem problemas sérios nessa área, lembrou o representante da Unesco, Jorge Werthein. A entidade, organização da ONU dedicada à Educação, Ciência e Cultura, tem como um de seus objetivos lutar pela livre circulação de idéias.

Segundo a Associação Mundial de Jornais, no ano passado, foram assassinados 46 jornalistas em todo o mundo, e outros 136 profissionais foram presos em 27 países. Neste ano, lembrou Werthein, já se registram 15 assassinatos e 128 prisões. No Brasil, os casos mais recentes de atentados contra a liberdade de imprensa foram os assassinatos dos jornalistas Tim Lopes, da Rede Globo, executado por traficantes no ano passado, e do diretor do jornal Folha do Estado, de Mato Grosso do Sul, Domingos Sávio Brandão Junior.”