Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Gilligan confessa “língua solta”

BBC NA BERLINDA

O tom da BBC mudou da água para o vinho desde o início das intrigas acerca de uma reportagem do correspondente da Defesa Andrew Gilligan, transmitida na rádio Today em 29/5. No início, a corporação dava apoio incondicional ao repórter. Com o desenrolar do inquérito organizado pelo lorde Hutton, diversos nomes de peso da BBC acabaram confessando pequenos deslizes que podem ter comprometido o conteúdo de uma reportagem que fazia sérias acusações ao governo britânico, de que teria “exagerado” em um dossiê sobre armas de destruição em massa no Iraque para torná-lo mais “atraente”.

Pela primeira vez, o próprio Gilligan reconheceu que soltou demais a língua. Ele insiste na veracidade de sua história, mas admitiu uma série de erros que ameaçam sujar o nome da corporação.

Segundo apurou Jason Deans [The Guardian, 17/9/03], Gilligan afirmou que não teve a intenção de acusar o governo de inserir a afirmação de que o Iraque poderia disparar armas de destruição em massa em 45 minutos no dossiê “sabendo que a afirmação estava errada”. O repórter reconheceu que sua alegação foi “um escorregão”.

Além disso, pela primeira vez confessou que sua primeira reportagem para o Today sobre o caso não estava tão precisa quanto deveria. “Lamento que nessa ocasião, não tenha reportado com cuidado e precisão o que ele [David Kelly] disse”. Kelly é o cientista da Defesa britânica e a “fonte de elite da inteligência”, assim descrito por Gilligan, que acabou por cometer suicídio, motivo pelo qual foi aberto o inquérito Hutton.

No mesmo dia em que admitiu ter sido relapso na apuração, Gilligan enviou um pedido de desculpas ao inquérito acerca de um e-mail que enviou a parlamentares apontando Kelly como fonte de reportagem de outra jornalista, Susan Watts, do programa Newsnight. Ambas as confissões sucederam 2,5 horas de interrogatório.

O conselheiro do inquérito Hutton, James Dingemans, disse que Gilligan acusou o governo de “má conduta consciente” ao afirmar, na reportagem de 29/5, que funcionários do Estado tentaram deliberadamente enganar o país inserindo a frase sobre os 45 minutos mesmo sabendo que estava errada. Gilligan reconheceu então que não usou as palavras adequadas e que deu aos ouvintes “a impressão de que ele [Kelly] usou esses termos quando na verdade não usou”. “Meu erro foi atribuir [essa afirmação diretamente a Kelly]. Ele disse coisas que me levaram a concluir isso, mas não disse isso diretamente em momento algum.”