Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Governo acuado

BIELORÚSSIA

Enfrentando acusações de cumplicidade no assassinato de políticos pró-democracia, o presidente bielorusso Aleksandr Lukashenko começou a tomar ações repressivas contra jornais e grupos civis independentes. De acordo com Michael Wines [The New York Times, 28/8/01], a editora que publica o jornal Nasha Svaboda teve suas prensas e cópias confiscadas no último dia 22; no mesmo dia, a polícia fechou a editora Znameniye, que imprime os folhetos de campanha de Vladimir Goncharik, líder do partido trabalhista e principal oponente de Lukashenko. A comissão eleitoral declarou que a distribuição gratuita de jornais independentes apoiando Goncharik equivalia a suborno, e ameaçou tirar o nome do político da cédula de voto.

A ofensiva de Lukashenko, no entanto, pode não ter o êxito que ele espera: a maioria dos bielorussos assiste a canais de TV da Rússia, que estão noticiando as acusações de assassinato contra seu governo. As denúncias começaram em julho e contam que, em 1999, um esquadrão da morte controlado pelo governo raptou e matou os políticos Yuri Zakharenko, Viktor Gonchar e o associado deste último, Anatoly Krasovsky. Segundo o canal NTV, dois agentes da KGB da Bielorússia disseram poder confirmar as acusações de um antigo funcionário do governo, hoje refugiado na Alemanha, de que os políticos foram executados perto de uma base militar. A história abalou um eleitorado historicamente apático, justamente quando as eleições presidenciais se aproximam.

O governo também tem sido severamente atacado pela Organização pela Segurança e Cooperação na Europa, agência que monitora os direitos humanos, que planeja enviar observadores para as eleições no país. O governo acusou o grupo de conspirar contra Lukashenko e negou visto para dois observadores. Sob a mesma acusação, a KGB expulsou recentemente um representante americano da American Federation of Labor-Congress of Industrial Organizations (AFL-CIO), união internacional de sindicatos trabalhistas.

CORÉIA DO SUL

Pela primeira vez, repórteres estrangeiros poderão participar das reuniões rotineiras no Ministério das Relações Exteriores da Coréia do Sul, antes restritas à mídia local. A decisão de 21/8 retira o privilégio desfrutado pelos meios de comunicação domésticos por mais de 50 anos, desde a fundação do país, em 1948.

A Coréia do Sul aderiu à democracia no final da década de 80, desatando a mordaça da imprensa local, que mal ousava desafiar os antigos regimes militares. Mas um vestígio deste sistema, herdado da era colonial japonesa, permaneceu: os veículos estrangeiros eram barrados nas reuniões no palácio presidencial e na maioria dos ministérios. O Ministério da Fazenda quebrou a tradição ao abrir suas portas para a mídia estrangeira em meio à crise asiática de 1997-98, que forçou o país a realizar reformas econômicas em troca de ajuda internacional.

Mas o sistema pode não ter realmente mudado, analisa Christopher Torchia [Associated Press, 29/8/01]. Segundo Heo Yong-bom, repórter do jornal Chosun Ilbo, os jornalistas estrangeiros que entrevistaram o diretor-geral da região da Ásia e do Pacífico, no dia 24, obtiveram informações menos detalhadas que os repórteres locais, que se encontraram com o diretor separadamente.

Neste mês, procuradores locais prenderam os proprietários de três importantes jornais do país, acusados de evasão fiscal, o que estimulou as insinuações de que o governo de Kim Dae-jung, ativista pró-democracia eleito em 1998, estaria tentando reprimir seus críticos.

JORNALISTAS NEGROS

Em sua 26? conferência, a Associação Nacional de Jornalistas Negros aprovou o plano de criar um comitê de profissionais especializados em finanças e administração para aconselhar o grupo. Na mesma ocasião, foi votado o fim de todas as restrições que existiam anteriormente a certos anunciantes, como os fabricantes de bebidas alcoólicas. A votação, no entanto, foi realizada com a presença de apenas 40 das 250 pessoas da assembléia: a maioria havia saído para o almoço. Os ausentes se queixaram da manobra, mas a reunião foi dada como encerrada, e a nova política, colocada em prática.

O foco da conferência sobre a questão financeira ? como levantar fundos e como gastá-los ? reflete o estado atual do setor. A maioria das companhias midiáticas registrou uma violenta queda de faturamento publicitário neste ano, o que estimulou os argumentos a favor da ampliação de patrocinadores.

Tal discussão já gerou muita tensão no setor. O caso mais dramático aconteceu no Los Angeles Times em 1999, revela Felicity Barringer [The New York Times, 27/8/01]. Os jornalistas se rebelaram quando o publisher do jornal, em uma investida agressiva para aumentar o faturamento, fez um acordo de divisão de lucros com um centro esportivo local. Os jornalistas argumentaram que a parceria colocaria a integridade da publicação em risco.

Tangie Newborn, nova diretora-executiva do grupo de jornalistas negros, disse na convenção que o apoio de companhias midiáticas estava esgotando. "Temos que tratar de um plano para arrecadar fundos que nos permita procurar outras companhias que não são de mídia, e capitalizar esses dólares que estão disponíveis não apenas para nós, como para uma associação sem fins lucrativos", acrescentou.

    
    
                     

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