M.M.
verbete Brasil da Grande Enciclopédia Larousse Cultural, “brinde” vendido a preço baixo pela Folha de S. Paulo e por O Globo, começa na pág. 889 (vol. 4) e termina na 938.
O capítulo Literatura é dividido em subcapítulos por séculos. O do século XIX, em sete itens: quatro gerações românticas, “Realismo e Naturalismo”, “Parnasianismo e Simbolismo” e “A afirmação do teatro nacional”.
José de Alencar, tão maltratado no primeiro volume da enciclopédia (ver abaixo remissão à edição anterior do O.I.), continua maltratado. É citado no item “Segunda geração romântica (1840-1850)”. Assim:
“Os outros nomes importantes dessa geração pertencem a três romancistas – José de Alencar, Bernardo Guimarães e Joaquim Manuel de Macedo. Alencar celebrizou na ficção uma língua que aliava o rigor dos clássicos portugueses aos modismos e à linguagem popular (e regional) brasileira“.
A Nova Enciclopédia Ilustrada da Folha, disponível na Internet, é mais equilibrada em sua avaliação. No curto verbete literatura brasileira, afirma que “na prosa desponta José de Alencar com O Guarani, de 1857, já da segunda fase do romantismo, que deu ainda Bernardo Guimarães com A Escrava Isaura, Visconde de Taunay com Inocência e Joaquim Manuel de Macedo com A Moreninha, entre outros”.
Não tenho procuração nem títulos para defender a importância de José de Alencar. A avaliação do verbete a ele dedicado é só modo de medir o quilate do trabalho enciclopédico. Por amostragem, digamos.
Para reiterar que o tratamento dado a Alencar é insatisfatório, passo a palavra ao professor Antonio Candido, em Iniciação à Literatura Brasileira, resumo para principiantes (*):
“Mas a grande figura da ficção brasileira dessa época [1850-60] foi José de Alencar (1829-1877), já mencionado como indianista. De certo modo ele ocupou o proscênio durante o espaço de uma geração e, apesar de ter morrido relativamente cedo, foi o primeiro escritor que se impôs à opinião pública como figura de eminência equivalente aos governantes, aos militares, aos poderosos. A sua obra extensa e desigual sempre esteve ligada a posições teóricas definidas, e por isso nos aparece ainda hoje como um ato relevante de consciência literária e nacional“. Etc.
Em 5 de dezembro de 1883, no sexto aniversário da morte de Alencar, Machado de Assis escreveu:
“Cada ano que passa é uma expansão da glória de José de Alencar.
Outros apagam-se com o tempo; ele é dos que fulguram a mais e mais, serenamente, sem tumulto, mas com segurança.
São assim as glórias definitivas.
Na história do romance e na do teatro, para não sair das letras, José de Alencar escreveu as páginas que todos lemos, e que há de ler a geração futura.
O futuro nunca se engana.”
Se a Grande Enciclopédia Cultural deixar, Machado.
(*) São Paulo, Humanitas Publicações, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1997 (reimpressão).
M.M.
eja (10/6/98) publicou reportagem sobre o a descoberta de índios no Acre durante vôo da Funai.
São “índios isolados”, na classificação oficial. Ilustram o texto fotos e um mapa da Amazônia com as 55 tribos sem contato com a “civilização branca” (a nossa, por supuesto). Em destaque, a informação sobre
“Quantos são os índios
Hoje: 300.000
Em 1500: 6 milhões.”
De onde saiu o segundo número, ninguém diz.
Segundo a História do Brasil (*) do professor Boris Fausto, “não se sabe quantos índios existiam no território abrangido pelo que é hoje o Brasil e o Paraguai quando os portugueses chegaram ao Novo Mundo. Os cálculos oscilam entre números tão variados como 2 milhões para todo o território e cerca de 5 milhões só para a Amazônia brasileira”.
No verbete Índios no Brasil do Almanaque Abril versão 1997, da mesma editora que publica Veja, lê-se: “Estima-se que, em 1500, existiam de 1 milhão a 3 milhões de indígenas no Brasil.”
Por que Veja tem certeza onde outros só têm dúvidas? Ou será que alguém na redação disse “deixa que eu chuto!”?
(*) São Paulo, Edusp/FDE, 1994.