Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Grupos de mídia em guerra

ALEMANHA

O grupo de mídia Westdeutsche Allgemeine Zeitung (WAZ) quer comprar os 40% do capital do grupo Axel Springer, seu concorrente conservador, que pertencem a Leo Kirch, o magnata de Munique que faliu no início deste ano. A manobra deixou furioso Mathias Döpfner, presidente da Springer, dona do diário Die Welt e do semanário popular Bild (tiragem de 4,5 milhões de exemplares). "Querer se apossar de nossa empresa desta maneira inamistosa é como tentar matar um urso polar no deserto da Namília", disse ele ao Le Monde [5/9]. A transação pode chegar a 1 bilhão de euros (quase US$ 1 bilhão).

Friede Springer, que detém 50% do controle, está aliviada: a Justiça decidiu que Kirch, crivado de dívidas, só pode vender sua participação com aquiescência dos donos. "As duas casas não combinam", resumiu a viúva do fundador. Ela prefere negociar com os suíços do grupo Ringier, também interessados.

A disputa virou campanha nas páginas das publicações Springer. Editoriais, artigos e enquetes condenam as pretensões da WAZ. Para os analistas, se o negócio sair será uma "virada à esquerda" no cenário midiático alemão: Axel Springer era feroz combatente da antiga Alemanha Oriental. Já a WAZ prosperou no reduto eleitoral da esquerda (a SPD), o estado da Renânia do Norte-Westfalia. Mas na verdade os dois clãs proprietários desta empresa familiar se dividem ideologicamente: os herdeiros do fundador Jakob Funke seriam de direita; os do fundador Erich Brost, de esquerda.

A WAZ garante que se alguma ideologia a move no negócio é a do lucro: o grupo quer a aliança para conseguir economias de escala em compra de papel-jornal, distribuição e impressão, prometendo manter intacta a hierarquia de comando da Springer.

Com faturamento de 2,8 bilhões de euros, a Springer tem 13.500 empregados, e atua também em países como França, Espanha, Polônia e Hungria. A WAZ é especializada em publicações regionais, e seu principal título é Westdeutsche Allgemeine Zeitung, do Ruhr (620 mil exemplares), com 12 mil empregados e faturamento de 1,9 bilhão de euros. Detém ainda 11% da TV RTL e está muito presente na Europa Central.