Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Homenagem ao leitor

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ESPECIAL 3+5

OI, CINCO ANOS
Homenagem ao leitor

Essa história ainda será contada direito, mas cabe aqui uma cena, mesmo mal lembrada, sobre o nascimento do Observatório da Imprensa. Uma idéia concebida nos estertores de 1995, numa viagem de carro entre Campinas e São Paulo. A bordo, entre outros, Alberto Dines e Mauro Malin, grandes amigos, companheiros de trabalho no Laboratório de Jornalismo da Unicamp, o Labjor.

Conversas cruzadas, Dines ouvia a todo momento uma palavra estranha: internet. Internet pra lá, internet pra cá. Usuário (mas não micreiro!) de computador desde 1985, quando comprou um Scopus que nem disco rígido tinha, interessou-se logo pelo papo e em dois minutos ficou convencido de que a internet era a mídia do futuro. Em abril de 1996 estreava o Observatório da Imprensa na internet. Três textos de Dines e um visual mais que simples. A própria web gráfica (ou seja, com imagens) completava oito meses.

E uma estrela surgiu: o leitor ? de todos os tiranos o único digno de amor e respeito. A primeira aparição "dele" se deu em 20 de agosto de 1996: três cartas que, encabeçadas por elogios à iniciativa de um sítio de crítica da mídia, criticavam… o Observatório. Começou então esta rara relação de intimidade, só explicada pela ânsia do cidadão de duvidar do que a mídia escreve, fala e exibe.

Conforme avançávamos, os números causavam espanto atrás de espanto. Se até 11 de dezembro de 1996, em 12 edições, apenas 40 leitores escreveram ao Observatório, no fim de 1997, em 25 edições, 192 pessoas haviam nos enviado artigos ? não cartas, artigos! Em 10 de outubro de 1998, o "Quem é Você" recebera 1.708 cadastros. Era gente que na maioria não escrevia cartas ou artigos, apenas visitava o sítio e preenchia um pequeno formulário, que nos permitiu as seguintes estatísticas: 1.101 homens (64,3%) e 589 mulheres (34,4%); 614 jornalistas (35,9%), 365 estudantes (21,3%); 334 eram de São Paulo (19,5%), 196 do Rio de Janeiro (11,4%), 77 de Belo Horizonte (4,5%), 64 de Brasília (3,7%), 51 de Fortaleza (2,9%), 48 de Porto Alegre (2,8%), 47 de Campinas (2,7%), 44 de Salvador (2,5%), 42 de Curitiba (2,4%), 29 de Recife (1,7%), 29 de Florianópolis (1,7%), 23 de Campo Grande 23 (1,3%), 724 de outras cidades, ou sem resposta (42,3%).

O ano de 1998 foi especial: em 5 de maio estreou o primeiro programa Observatório da Imprensa na TV, na TVE e na TV Cultura. Como frisamos em janeiro de 2001, quando nos tornamos oficialmente semanais, era um caso único de publicação que, nascida na internet, convertia-se em veículo de massas. A TV devolveu o presente: o impacto do programa foi tamanho que o número de cartas ao OI dobrou em dois meses ? sem contar e-mails e faxes enviados ao programa, que publicamos na rubrica Observatório na TV.

Leitores e colaboradores já eram tantos que em outubro de 1999 começamos a atualizar semanalmente as edições quinzenais. A média de 20 cartas por edição do início de 1998 já ultrapassava as 60, e os colaboradores derramavam artigos sobre a mídia em nossa caixa postal. Alguns acontecimentos provocaram recordes de participação do leitor ? e edições-extras do Observatório. Para o número 63, de 20 de março de 1999, o OI recebeu 170 cartas ? 150 delas de solidariedade a Alberto Dines, que acabara de ser demitido pela Folha de S.Paulo.

Um fenômeno chamado Xuxa bateu quase todos os recordes (a exceção foi a demissão de Dines) de cartas enviadas ao Caderno do Leitor, em março de 2000: 80 mensagens em 10 dias ? número superior ao das manifestações sobre a saída de Paulo Henrique Amorim da Band; sobre o lançamento de Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti; e sobre o grampo no BNDES, nossos recordes anteriores de participação. No caso Xuxa, porém, boa parte dos e-mails foi para o lixo: continham ofensas grosseiras à apresentadora. Como todos sabem, não publicamos cartas que tenham recheio de palavrões, de apologia a preconceitos, de defesa de crimes ou ideologias de ódio.

Outro recorde se quebrou quando fomos "saídos" do UOL. Estreamos no iG em 5 de agosto de 2000, com a edição 95. Também neste episódio só pudemos publicar 43 das 101 cartas de solidariedade que recebemos: o leitor, injuriado com o antigo provedor, não quis saber do código de ética do Observatório e choveu xingamento.

Bilhões de páginas

Mas não nos queixamos do leitor, esse nosso doce tirano. Jamais. Nem quando os e-mails chegam aos borbotões em todos os formatos, cores, espaços, fontes, corpos, cabeçalhos… Em determinadas edições, as de fatos "quentes", um copião das mensagens pode atingir 300 páginas de Word. A maioria das mensagens exige resposta: o leitor quer saber se a carta será publicada, quando e onde. Perguntam por que o e-mail enviado no dia anterior não está no sítio, esquecendo de que somos semanais. Ou por que não consegue acessar a edição tal, o artigo xis.

Alguns nos xingam, muitos nos elogiam, outros nos consultam sobre ortografia; e ainda pedem o e-mail do Rubem Fonseca ou do Caco Barcelos (as duas figuras mais inacessíveis da internet, para os não-íntimos). A maioria pensa que a mesma equipe faz o sítio e o programa na TV. Um cidadão indagou se não poderíamos cobrar um dinheiro que a Globo lhe deve. Outro exigia que encaminhássemos sua inscrição para concurso do Banco do Brasil. Um terceiro chegou a decretar que o Observatório tem a obrigação de resolver o problema da exclusão digital no país ? quem sabe doando linhas telefônicas, computadores e modems!

Sem falar nos estudantes. Um número imenso pede ajuda para pesquisa de texto. São especialmente universitários em fim de curso, preparando suas monografias. Alguns exemplos:

** "Meu nome é Pedro [nome fictício] e sou estudante de Comunicação Social. Gostaria de ter mais informações sobre o surgimento da imprensa no Brasil, seu histórico e idealizadores, escrita e falada."

** "Expliquem-me algo sobre os mecanismos de controle da informação e as técnicas de apresentação da notícia em ambiente capitalista. Os meios de comunicação são ou não levados por interesses capitalistas? Qual a postura do Observatório? A ética é deixada de lado?"

** "Peço que me enviem algum material relacionado com atuação do Dnocs nos perímetros irrigados, para realização de trabalho."

** "Perguntem ao Dr. Fernando Henrique Cardoso por que vetar a lei de saúde mental. Preciso da resposta para trabalho. Desde já meu muito obrigado!"

** "Caro Alberto Dines, o senhor é contra ou favor do uso de maconha dentro de centros acadêmicos? Por quê? Caso seja a favor, defende o uso de maconha sem restrições de horários ou da criação da ?Hemp Hour?, isto é, horários nos quais é permitido o uso de maconha dentro do C.A.?"

** "Olá, estou pesquisando sobre influência da mídia. Gostaria de saber mais sobre essas e outras notícias de acobertamento de informações, influência na política e outros casos envolvendo a mídia… a influência que ela exerce sobre a mente das pessoas… acho que estou no lugar certo, porém não sei como faço para me aprofundar e chegar a conclusões precisas, a não ser o acesso às notícias. Preciso de ajuda."

** "Sou estudante de Jornalismo. Gostaria, se possível, de receber neste e-mail todas as notícias veiculadas, especialmente nas revistas Veja, Época e Isto&EacuteEacute;, sobre os casos da Sudam, o escândalo das fitas e a violação do painel do Senado. Aguardo breve resposta."

Ossos do ofício. Mas o OI deu outros bons frutos. A toda essa turma, e a muitos outros não-mencionados, nossa equipe agradece a fidelidade. Uma equipe, por sinal, que se espalha pelos quatro cantos. Alberto Dines, o editor-assistente Luiz Antonio Magalhães, as pesquisadoras Beatriz Singer e Flávia Carbonari e o editor de web Celso Aguiar ficam em São Paulo. Luiz Egypto, nosso redator-chefe, no eixo São Luiz do Paraitinga?São Paulo. Victor Gentilli, o editor da área acadêmica, em Vitória (ES); a editora-assistente que vos fala e a produtora de web Leila Sarmento, no Rio. Embora íntimos, após anos de trabalho, a maioria não se conhecia pessoalmente: isso só aconteceu em setembro do ano passado, numa primeira reunião física de trabalho, em São Paulo, por enquanto a única.

Formamos uma redação genuinamente virtual, que inclui discussões acaloradas por e-mail sobre forma e conteúdo das edições, propostas de pauta e troca constante de informações entre o grupo. Muito leitor já disse que nunca viu alguém fazer jornal desse jeito… Não teremos, portanto, festa na "redação" para celebrar os 5 anos do Observatório na internet. Nossa comemoração é toda quarta-feira no <www.teste.observatoriodaimprensa.com.br>, endereço que você prestigiou com seu acesso neste infinito ciberespaço de bilhões de páginas. Continuaremos juntos cutucando a mídia, para que nunca mais se leia jornal do mesmo jeito. Por tudo isso, somos muito gratos a você, leitor ? doce e querido tirano. (Marinilda Carvalho)

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