Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

I.A.

TV PAULISTA

"Levantou-se a maior celeuma quando Regina Casé disse, há dois anos, que ?depois que o ibope medido em São Paulo passou a imperar, os paulistas é que determinam o que o Brasil vê na televisão?. Naquela época, ela se queixava porque o seu programa Muvuca, derrotado nas noites de sábado por um concorrente medíocre (A Praça é Nossa), fora deslocado para horas tardias da sexta-feira. O sentido das palavras dela trazia embutido um mau conceito sobre o gosto do público telespectador paulistano, reflexo sem dúvida do preconceito carioca com relação aos paulistas, que Regina endossou descuidadamente, sem se policiar. Tamanha foi a celeuma que ela teve de dar outra entrevista, logo em seguida – na ocasião falou-se que fora pressionada pela Globo – retificando, amaciando, explicando que o que havia dito não era bem o que havia dito. Bom, passou, Muvuca, que era um programa bem acima da média, sofreu outras derrotas e acabou saindo do ar.

Mas a idéia de que o ?mau gosto paulista? determina os rumos da televisão de hoje ficou. Colou. Tanto é que Daniel Filho, diretor artístico da Globo Filmes (produtora de filmes para televisão e cinema) e ex-diretor poderoso da Central Globo de Produções, em entrevista recente ao Jornal da Tarde (27 de maio), afirmou coisa idêntica ao que havia dito Regina Casé, e ficou por isso mesmo.

Disse ele: ?Os números divulgados não refletem a opinião real do País porque são medidos só na cidade de São Paulo. Os programas popularescos apontados como sucesso são centrados em São Paulo e por isso têm ibope alto. Mas vá checar quanto rendem no Nordeste!?

É preciso interrompê-lo. Primeiro, para dizer que não é esta a opinião do Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-chefe de Daniel Filho na Globo, que declarou em entrevista à Gazeta Mercantil em 21/5/99: ?Há muitos anos que São Paulo é o indicador do gosto nacional. Distorções, embora existam, são mínimas.? Depois, para chamar a atenção do leitor para a segunda sentença de Daniel. Observem o adjetivo ?popularescos?. A intenção mais suave recomendaria o emprego de ?popular?. O uso geral e atual do termo ?popularesco?, no Brasil, puxou o sentido da palavra para os significados negativos (vulgar, ordinário, plebeu, grosso, inculto) e liberou a palavra ?popular? para os significados mais positivos (democrático, aceito pelo povo, simpático ao povo) ou para um significado mais técnico (próprio do povo).

Então, o que ele diz é que os programas mais ordinários são ?centrados? (produzidos? ambientados? os dois?) em São Paulo e ?por isso? (atentem para a intenção depreciativa) têm ibope alto. Como é mesmo? Vulgaridades têm ibope alto porque são paulistas? Quer dizer que se fossem feitas no Rio ou no Paraná não teriam ibope alto? Ou quer dizer que Rio ou Paraná não fariam tais coisas grosseiras? Será que Chacrinha, O Homem do Sapato Branco, Zorra Total, o sushi erótico, anão latino, os primeiros Linha Direta, videocacetadas, Laços de Família, Megatom, Sai de Baixo e outras atrações são biscoitos finos? Só os canais paulistas apresentam danças da garrafa, funks popozudos e filmes ensangüentados? A argumentação regionalista não leva a nada.

Voltemos ao trecho selecionado da entrevista de Daniel Filho. A primeira e a última frase dizem que o ibope de São Paulo não reflete a ?opinião real do País? e recomendam que, como exemplo, se cheque a opinião do Nordeste. Acontece que Fortaleza, Recife e Salvador fazem parte do Painel Nacional do Ibope. Nessas cidades do Nordeste, os índices de audiência obtidos por programas paulistas típicos, como Hebe, Ratinho, Silvio Santos e Raul Gil são mais parecidos com os índices registrados em São Paulo do que com os índices registrados no Rio. Ou seja: há uma maior afinidade de gosto entre o público paulista e o nordestino do que acredita Daniel Filho. No Rio é que a rejeição é maior. É só consultar os números no site www.ibope.com.br.

A visão Globocentrista, como qualquer visão que se pretende panorâmica mas não abandona conceitos e preconceitos regionais, pode levar a conclusões distorcidas sobre o todo. A própria Globo seria prejudicada se limitasse seu ângulo de visão a Rio e São Paulo. Por isso é que ela procura uma expressão cada vez mais nacional e menos carioca. Os canais abertos, de um modo geral, estão atentos ao que querem as pessoas de Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Florianópolis, Goiânia, Belém, cidades importantes do interior no Sudeste – em todas onde o Ibope checa a audiência diária.

Em São Paulo, e por enquanto apenas na capital paulista, é que a programação é checada minuto a minuto por um aparelho instalado em 750 residências, das classe A a E. É este que estressa os apresentadores de programas ao vivo e influi no conteúdo desses programas.

Voltarei ao assunto."

REALITY SHOWS

A estréia da segunda fase do programa Big Brother, uma das apostas da rede NBC para o verão americano, frustrou na audiência (leia reportagem do Cidade Biz de 7 de julho, Big Brother 2 vai mal de audiência na estréia). Segundo dados do instituto Nielsen, na semana de estréia os primeiros lugares no ranking foram ocupados pelo basquete da NBA (o All-Star Game), pelo jornalístico Prime Time e pelo game-show Who Wants to Be a Millionaire. Mesmo assim, os chamados reality shows vão continuar dominando a atual temporada da TV americana.

Reportagem do jornal The New York Times relaciona os programas que devem inundar a televisão americana nos próximos meses, de gostos mais ou menos duvidosos: um sobre uma série pseudo-homicídios em que os personagens são mortos por um suposto serial killer; outro sobre uma banda de solteiros que, num navio, tentam bater o recorde de namoros ? além de um destinado aos teens (sobre garotos e garotas que sonham em formar uma banda de rock). Há também um show para adultos em que mulheres atraentes querem se tornar modelos da Playboy.

O que se questiona é até onde vai a imaginação das emissoras para criar novos reality shows e até onde vai a paciência do público diante de tanta mesmice. Ao todo, as emissoras americanas devem colocar no ar nesta temporada 2001-2001 um total de quinze reality shows.

No Brasil, a onda parece ter perdido um pouco de força com o sucesso apenas relativo da segunda fase de No Limite, da Globo, inspirado no Survivor americano. Lá, como aqui, os chefes de programação das emissoras sempre que se deparam diante de uma boa idéia agarram-se a ela e buscam extrair o máximo de dividendos em termos de audiência e faturamente publicitário até que não reste mais nada a explorar.

A esperança de alguns profissionais de TV é que esse excesso de programas abrevie a duração deste modismo. ?Isto não pode durar?, disse ao New York Times o diretor de uma grande produtora de Los Angeles. ?Graças a Deus estão colocando tantos desses programas no ar que logo terão matado o gênero.? No Brasil, dá-se o mesmo: sempre que uma fórmula funciona numa emissora as demais correm atrás e lançam suas próprias versões, o que acaba matando a audiência de tédio.

?Os números são claros?, afirmou o diretor de programação da MTV, que exibe o Real World (que no Brasil ganhou a versão Na Real). Ele refere-se à audiência atingida pelos programas no ano passado ? quando fizeram grande sucesso ? e à performance na atual temporada.

Além da audiência, há um fator econômico por tras da produção de alguns desses programas. Exceto as superproduções como Survivor, programas mais simples mas com idéias semelhantes custam pouco às emissoras, se comparados à produção de dramaturgia, especialmente os seriados.

Cada episódio do Spy TV custa à rede NBC cerca de 400.000 dólares. Já o seriado Friends, um dos campeões de audiência nos EUA, custa por episódio algo em torno de 5,3 milhões de dólares. Na reestréia de Big Brother 2, uma reprise de Friends teve mais audiência."

    
    
                     

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