Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Identidade oculta

DANIEL PEARL

A origem israelita do jornalista Daniel Pearl foi mantida em segredo pela mídia americana até a confirmação de sua morte. Ruth Andrew Ellenson [Forward, 1/3/02] revela que o Wall Street Journal pediu a outros veículos que não divulgassem a religião e a cidadania dos pais do repórter enquanto durasse o seqüestro.

"Fizemos tudo o que pudemos para tentar assegurar o retorno seguro de Daniel Pearl, e como parte disso pedi às redes que não revelassem a tradição de sua família", afirmou Steve Goldstein, da Dow Jones Co., dona do jornal. O executivo e os funcionários envolvidos na investigação decidiram que divulgar a identidade do repórter poderia comprometer sua segurança, mesmo avaliando que sua ligação com o judaísmo tenha sido irrelevante no seqüestro. A Reuters, no entanto, informou que um dos quatro suspeitos do assassinato declarou que o jornalista foi raptado porque era um judeu anti-Islã. A mesma agência revelou que as últimas palavras de Daniel, gravadas em vídeo, confirmavam que ele era judeu.

A maioria dos veículos atendeu ao pedido; apenas a CNN International levou ao ar o comentário de um analista de segurança dizendo que os pais de Pearl eram israelenses, mas deixou de transmitir o trecho depois da primeira exibição. "A mídia foi extremamente cooperativa e merece elogios por ter colocado a segurança de Danny acima dos índices de audiência e do ambiente competitivo em que trabalham", disse Goldstein.

CBS e NBC acusaram o programa Good Morning America (ABC) de não ter agido corretamente ao transmitir a primeira entrevista televisiva de Marianne Pearl, viúva de Daniel Pearl. Segundo Elizabeth Jensen [Los Angeles Times, 27/2/02], o Wall Street Journal combinou que a entrevista seria exibida primeiro pelas redes CNN e BBC, porque ambas são transmitidas no Paquistão; depois disso, a filmagem ficaria disponível para outras emissoras.

Good Morning America, no entanto, levou ao ar a entrevista da BBC ao mesmo tempo em que a CNN, classificando-a como "exclusiva". "Eles estão cometendo uma fraude contra o público", reclamou Steve Friedman, produtor executivo da CBS. Os produtores de Good Morning alegaram que a ABC tem um acordo com a rede britânica que permite gravar a programação de Londres e exibi-la imediatamente em Nova York. Quanto ao "exclusivo", explicam que foi "o único programa matutino americano a ter a entrevista da BBC às 7h". A BBC caracterizou o incidente como um "mal-entendido".

Na entrevista, Marianne, grávida de sete meses do primeiro filho, contou que dirá à criança que o pai morreu como um herói. "Seu espírito, sua fé e suas convicções não foram derrotadas. E eu estou muito orgulhosa dele."

THE WASHINGTON
POST

Desde a aposentadoria do editor Ben Bradlee e da morte da grande dama Katherine Graham, o Washington Post carecia de liderança. Embora não aspire ao cargo, o ouvidor Michael Getler tornou-se defensor das tradições do jornal, profissional respeitado por colegas e colunistas.

Representando a visão e os interesses do público, Getler virou uma voz poderosa no jornal. Sua crítica interna questiona matérias, fotos, ralha com o Post por ter sido furado e elogia redatores. Na casa desde 1970, ex-editor do International Herald Tribune, ele se recusa a comentar a suposta liderança. Mas para Harry Jaffe [Washingtonian Magazine, março 2002], sua coragem e independência são evidenciadas em colunas como a de 3 de fevereiro, em que Getler dá a entender que a farta cobertura do jornal sobre o presidente Bush beira a propaganda. Ao louvar a série co-escrita por Bob Woodward sobre a Casa Branca e a guerra, o ombudsman também sugere que o lendário repórter investigativo deixou de expor os segredos do governo (como fez no caso Watergate) para simplesmente anotar a versão dos eventos dada pelo presidente.

Getler pode ser a alma do jornal, mas não tem poder de contratar ou demitir, lembra Jaffe. Sua crítica ao colunista de fofocas Lloyd Grove pode ter fundamentado a demissão de muitos colegas em outros jornais, mas no Post, "que não gosta muito de mexericos mas sente que precisa de um colunista do ramo", Grove continua inabalável no cargo.

INVENCIONICES

O Massachussets Institute of Technology (MIT) está testando o primeiro repórter-robô e já tem um nome para a engenhoca: Afghan Explorer.

Trata-se de uma teleconferência sobre rodas, segundo descrição do sítio The Lost Remot <lostremote@reply.mb00.net>. Tem uma tela e microfones e é guiado pela internet. A turma do MIT diz que "se os militares podem ter os seus próprios sistemas robóticos de localização e destruição, por que não os jornalistas?"

Eles esperam testar em breve a traquitana no Afeganistão. Os americanos realmente adoram testar novas tecnologias em suas guerras. Guerra de imagens e de tecnologias.