Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Igor Gielow

‘BRASÍLIA – O cerco se fecha. Depois de uma semana quase inacreditável na coleção de fatos insólitos (começou com dólares na cueca, passou por reais em malas e batida em loja de madame para acabar num clone imperfeito da famigerada Operação Uruguai), podemos esperar por mais emoções a partir de hoje.

A fábula de meias-verdades contada por Delúbio Soares e Marcos Valério não funcionou para delimitar o escândalo a poucos personagens e a crimes superáveis -além de oferecer aos eventuais enrolados no campo adversário uma saída conjunta.

A trama que vai sendo desenrolada a partir da análise do papelório que está chegado aos técnicos da CPI dos Correios vai demonstrando ligações intrincadas de interesses privados e partidários com o cheiro de dinheiro público permeando o processo.

E não se fala aqui dos arroubos da ala irresponsável da CPI, que vem atuando com conivência e apoio de setores preguiçosos da imprensa, adeptos do caminho suave da reprodução denuncista sem checagem.

Há vários fios pedindo para serem puxados. O fato de uma das empresas ligadas a Valério ter usado um contrato com os Correios para garantir um empréstimo que foi parar na mão de Delúbio pode não provar nada em si, mas indica que não havia compartimentos estanques no mundo de relações sob investigação.

Várias perguntas têm de ser respondidas. Por exemplo: os bancos cobraram os empréstimos? Não é ilegítimo nem leviano perguntar se eles levaram alguma vantagem por dar dinheiro ao partido no poder, e as senhas ‘crédito consignado’ e ‘CPI do Banestado’ já estão na praça. Isso fora as centenas de milhões de reais que apareceram sem origem identificada nas contas ligadas a Valério. De onde vieram, para onde foram?

A gravidade do que virá à luz determinará a resposta da pergunta final: se o presidente Lula continuará como inocente útil para aliados e opositores, ou se entrará no dança do processo ‘purificador’ previsto por Luiz Gushiken.’



Ancelmo Gois

‘Calma, Heloísa’, copyright O Globo, 17/7/05

‘Quinta de manhã, numa reunião fechada da CPI, Heloísa Helena, a senadora do P-SOL, soltou o verbo:

— É bom mesmo que não tenha imprensa! Aqui é um querendo comer o outro. E o pior é que é no mau sentido!’



Ricardo Noblat

‘Agachado ao lado de um carro perto do motel’, copyright Blog do Noblat (www.noblat.com.br), 15/7/05

‘O melhor amigo de um amigo meu se meteu no início deste ano em uma enrascada feia no Rio de Janeiro. Era de noite. E ele passava pela avenida Niemeyer com destino à Barra da Tijuca, onde jantaria em um restaurante com outro amigo.

‘Perto do Motel Vip`s, furou o pneu do carro. Ele desceu e começou a trocar o pneu. Nesse momento, irrompeu um tiroteio próximo dali na favela do Vidigal. Uma bala perdida atingiu a perna dele. O infeliz foi parar no hospital levado por dois PMs.

Se o problema dele tivesse terminado por aí, tudo bem. Mas não. A polícia quis saber o que ele estava fazendo ao lado de uma favela onde corre livre o comércio de drogas. E a mulher, o que ele fazia a poucos metros da saída de um motel.

Tem deputado se sentindo assim depois que assessores deles foram vistos nas imediações da agência do Banco Rural em Brasília. Ou na própria agência. Pior: depois que pessoas que têm o mesmo nome de assessores deles estiveram na agência.

A temporada de caça a políticos corruptos não discrimina entre suspeitos, acusados e supostamente inocentes – dado que a categoria dos inocentes até prova em contrário foi eliminada de quaisquer cogitações.

Foi visto agachado perto de um carro a poucos metros da entrada de um motel, prevaricou. E estamos conversados.’



Expedito Filho e Luciana Nunes Leal

‘Lista liga Severino e mais 21 a mesada’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/7/05

‘BRASÍLIA – A CPI dos Correios recebeu de um ex-funcionário graduado do PP uma lista de 22 deputados que se beneficiariam do pagamento de mesadas supostamente distribuídas a mando do líder do partido na Câmara, José Janene (PR). Da relação constam os nomes de dois cardeais da legenda que até agora não tinham passado pela mira da CPI: o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), e o corregedor-geral da Casa, Ciro Nogueira (PI), responsável pela apuração das denúncias contra outros deputados.

A identidade do ex-funcionário vem sendo mantida em segredo pelos integrantes da CPI, que o apelidaram de Garganta Profunda. Os detalhes apontados pelo informante são copiosos e explicam o organograma do esquema.

Nesse desenho, o dinheiro seria distribuído por João Cláudio Genu, chefe de gabinete de Janene, que já foi citado por sua relação com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza – acusado de operar o mensalão -, e pelo deputado João Pizzolatti (PP-SC). Segundo as informações levadas à CPI, os pagamentos eram feitos no apartamento do próprio Janene e numa sala da Comissão de Minas e Energia, controlada pelo grupo.

‘Isso é uma palhaçada da CPI, um delírio. Essa informação é fria e não vou me acovardar diante dela’, reagiu Janene, com indignação, ao tomar conhecimento da acusação.

As mesmas denúncias, citando a distribuição de dinheiro no apartamento de Janene e em cafés da manhã na Comissão de Minas e Energia, haviam sido feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.

MALAS DE DINHEIRO

De acordo com as informações repassadas por Garganta Profunda, Pizzolatti chegava a circular pelos corredores da Câmara carregando malas de dinheiro, para o que contava com o apoio de funcionários da área de segurança. ‘O sr. Renato Câmara, ex-assessor do deputado Pizzolatti, era seu principal operador’, disse o informante. O dinheiro que garantia o mensalão do PP teria como fonte operações de empresas estatais.

Além de considerar as informações de Garganta Profunda, a CPI pretende investigar as relações do ex-diretor de Furnas Dimas Fabiano Toledo com o empresário Airton Daré, que também seria ligado a Janene. ‘Dimas não é indicação nossa. Nunca indicamos ninguém em Furnas’, defende-se o deputado. Serão apuradas ainda as conexões de Janene no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), já que a CPI tem informações de que a diretoria de Sinistros seria controlada por ele. Janene também teria estendido um tentáculo sobre a Petrobrás. O diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, apadrinhado pelo PP, teria um papel importante na irrigação financeira do esquema. A CPI vai esmiuçar as operações entre a Petrobrás e a American Distribuidora de Combustíveis – apontadas pelo informante como irregulares. ‘É outra mentira. Paulo Roberto é indicação do PT’, assegura Janene.’