Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Igreja e mídia na Polônia

 

Flávio Rodrigues (*)

O advento da informatização trouxe inegáveis vantagens na produção da fotografia nos jornais atuais. Além de acelerar o processo de maneira mais eficiente, a guarda dessas informações se tornou mais eficaz. Entretanto, o processo de digitalização da fotografia gera um produto final que, a despeito de ficar mais à disposição das redações, traz em seu bojo a anulação do processo de edição fotográfica.

De modo geral, os jornais atuais estão “painelizados”, isto é, são feitos de acordo com o perfil de seus leitores, e cada vez mais à revelia da editoria de fotografia. Os fotógrafos aceitaram plenamente o processo, mas a qualidade da edição fotográfica caiu vertiginosamente. E por quê?

Um dos objetivos atingidos com a digitalização da fotografia diz respeito à questão velocidade e eficiência. O papel tem seus dias contados, o ampliador fotográfico vira peça de museu, os computadores chegaram e tomam lugar das antigas processadoras de papéis. A foto sai mais rápido para as impressoras, em processo orquestrado pelo computador em todas as suas fases, após a revelação do filme. Se considerarmos as câmeras digitais, suprime-se também as processadoras de filmes.

O aquário decide

Do ponto de vista da qualidade do produto fotografia, perde-se em favor de bites e megabites, e ganha-se na velocidade da informação, com conseqüente economia de tempo e custos. Quanto mais cedo os jornais fecharem, mais exemplares são impressos, maior é o lucro de seus donos. Em detrimento dessa equação, o antigo processo de edição da fotografia perdeu seu posicionamento e se reduz a tarefas básicas no fechamento do jornal. Hoje em dia, com os programas de apresentação de fotos em rede – os thumbnails – o acesso à foto desejada ficou mais fácil, provocando um engessamento da fotografia no que diz respeito ao conceito. Ora, hoje em dia os filmes são editados de acordo com o ponto de vista da redação, na visualização quase instantânea das fotos produzidas no dia. A escolha das fotos recai cada vez mais na indicação dos repórteres de texto que fizeram determinada matéria. Antes, o editor de fotografia mandava à redação o que entendia ser a melhor foto para uma matéria. Hoje, quando ele “edita” o filme – na verdade um mister prosaico de escolher uma foto em foco e razoavelmente enquadrada –, está cumprindo um caminho que se originou nos “aquários” da redação, uma instância reconhecida como superior.

Com a visualização rápida nesses softwares, a redação “percebe” que a editoria de fotografia não lhe enviou as fotos segundo critérios do repórter, e passa em seguida a cobrar que sejam “editadas” fotos mais adequadas, mais “no espírito da matéria”. A fotografia se tornou excluída do processo de produção de matérias e o editor virou mero “escolhedor” de fotos, sem a devida autoridade para plantar a foto entende mais adequada, da mesma forma que um editor de área fará na capa de seu caderno. Ali ele publica o que quer, a pauta ele escolhe, e isso é imutável. Quando, porém, o editor de fotografia quer a publicação de uma determinada foto, geralmente é ele quem tem menos autoridade nesse diálogo com diagramadores e editores, que freqüentemente têm a palavra final. A falta de discussão que se origina na digitalização de imagens, cujo processo é muito rápido, traz esse inconveniente, ao emudecer a fonte de origem da fotografia.

Há alguns anos esteve visitando jornais brasileiros o editor de fotografia de um jornal de Providence, Estados Unidos. Quando perguntado sobre como se desenrolava o processo de publicação de fotos, ele não hesitou em afirmar que a editoria de fotografia decidia qual foto publicar, em que tamanho e em que página, preservados, claro, critérios mínimos de ligação com os assuntos existentes. Referiu-se à autoridade do editor de fotografia como à de um médico, no momento de uma cirurgia, em que decide isoladamente que caminho tomar. Todos respeitam o cirurgião, poucos o editor de fotografia.