Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Imprensa livre, dinheiro no bolso

POLÔNIA

A proposta dos socialistas que governam a Polônia de implementar lei que restringe a quantidade de veículos de comunicação que um só dono pode ter no país agita a disputa entre o primeiro-ministro, Leszek Miller, e o presidente, Aleksander Kwasniewski.

Ian Fischer, do New York Times [22/04/2002], conta que o principal prejudicado pela regulamentação seria Adam Michnik, o mais famoso editor do país, antigo opositor ao regime comunista e dono da empresa Agora, que detém, entre outros, a Gazeta Wyborcza, maior jornal privado polonês. O diário foi criado a pedido de Lech Walesa quando o sindicato Solidariedade, que derrubou o comunismo, se movimentava para as eleições de 1989. Kawasniewski é amigo de Michnik, e disse que, pela primeira vez, vetaria uma lei caso esta passasse no parlamento.

O editor, defensor do liberalismo nos meios de comunicação, acredita que o projeto dos socialistas é um ataque direto à sua pessoa por não ser amigável no tratamento com o governo em seus veículos. Seus aliados -o que inclui toda a grande imprensa polonesa- acreditam que a lei vai aumentar o poder da mídia estatal em detrimento da privada. De fato, a parte mais questionada, que é a que proíbe empresas de terem um jornal e uma TV ou rádio de abrangência nacional, não se aplica ao estado.

No ano passado, a Agora anunciou que investiria na Polsat, maior emissora privada do país. Como esta é a única transação do tipo anunciada até agora, ficam fortes as suspeitas de que os socialistas têm um alvo específico. Eles argumentam que isso não é verdade. "A Gazeta Wyborcza é um símbolo da liberdade de expressão nesta região – o primeiro jornal independente do antigo bloco comunista. Um excelente jornal", elogia o porta-voz do governo que classifica como injusta a leitura de que a lei seja um ataque à imprensa livre. "Acreditamos que todo monopólio da mídia seja danoso".

Os governistas dizem que o que motiva Michnik, na verdade, é dinheiro e não democracia. A Gazeta está longe de ser o panfleto sindical dos velhos tempos. Atualmente, tem circulação de 470 mil exemplares. Sempre defendeu a liberdade da imprensa, mas, como ressalta o lobista e escritor Marek Matraszek, "hoje existe um grande império" detrás disso. "A linha que divide a Gazeta entre guardiã do pluralismo liberal e defensora de seus próprios interesses financeiros foi borrada".

NIGÉRIA

O presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, ordenou que a denúncia de tentativa de suborno de correspondentes estrangeiros pelo seu governo fosse investigada. A Time publicou matéria semana passada na qual conta que, em almoço na cidade de Abuja, no dia 8/2, para cerca de 20 jornalistas internacionais, o ministro da informação Jerry Gana reclamou da tendenciosidade por parte imprensa na cobertura de conflitos tribais e pediu menos notícias negativas. Disse ainda que o governo estava chateado com a CNN, que teria dito que os nigerianos preferiam os militares no poder porque o atual regime civil não consegue controlar a escalada da violência. Após a bronca, cada jornalista teria recebido um pacote com livros de referência sobre o governo e um envelope com US$ 400.

Gana negou a tentativa de suborno e disse em comunicado que os presentes receberam US$ 430 para cobrir custos de hotel e alimentação. A Reuters [19/4/02] informa que muitos repórteres só perceberam que haviam recebido dinheiro quando já estavam no caminho de volta para a capital. Vários devolveram o "presente".

Obasanjo se disse "furioso" com a reportagem da Time. Seu porta-voz Tunji Oseni chamou atenção para o fato de que o presidente, desde que assumiu o poder substituindo militares corruptos, tem travado guerra contra a tradição nigeriana da propina. "Aqueles que forem considerados culpados pela investigação terão o tratamento apropriado".